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Milei dá cargo a membro da Opus Dei que atuou em organização nazista

O presidente eleito argentino Javier Milei, do partido Liberdade Avança Imagem: 19.nov.2023 - Luis Robayo/Pool via REUTERS

01/12/2023 20h33Atualizada em 01/12/2023 21h44

O presidente eleito da Argentina, o populista de direita Javier Milei, nomeou para o cargo de procurador geral do Tesouro um ex-integrante do Movimiento Nacionalista Tacuara, uma organização facista e nazista associada a atos terroristas e que atuou na Argentina entre o final dos anos 1950 e início dos anos 1960.

Ministro da Justiça de 1993 a 1996 durante o governo do neoliberal Carlos Menem, Rodolfo Barra acabou renunciando ao cargo após a imprensa revelar seu passado de militância na organização ultraconservadora e a participação dele em um ataque a uma sinagoga em 1965.

Na época do escândalo, um veículo argentino resgatou uma foto em que Barra, então com 13 anos, aparece fazendo a saudação nazista ao lado de seus colegas de militância.

Quando a história veio a público, mais de 30 anos depois, Barra se desculpou: "Se fui nazista, me arrependo".

Quem é Rodrigo Barra

Católico e membro da Opus Dei, ele foi uma voz ativa na campanha contra a legalização do aborto na Argentina, aprovada em 2020.

Hoje aos 75 anos e com uma carreira que inclui uma passagem pela Suprema Corte de 1989 a 1993, Barra assumirá a chefia máxima de um órgão semelhante à Advocacia Geral da União no Brasil. Sua função é assessorar o Estado em questões relacionadas ao orçamento público e ao controle de legalidade jurídica das ações do Poder Executivo.

Milei será empossado presidente em 10 de dezembro.

Reações da comunidade judaica

O Foro Argentino contra o Antissemitismo (Faca) protestou contra a nomeação, que chamou de "afronta direta ao espírito democrático e plural do nosso país", e pediu que a escolha seja reavaliada. "Um novo governo não pode começar sua gestão abrigando indivíduos que professaram o antissemitismo ou qualquer forma de expressão de ódio", afirmou a entidade em nota.

Uma das principais entidades judaicas do país, a Delegação de Associações Israelitas Argentinas (Daia) ressaltou em um comunicado que Barra pediu desculpas ainda nos anos 1990 "por suas horrorosas condutas e manifestações de quando era jovem", mas ponderou que "é importante lembrar o que aconteceu", já que o órgão que Barra assumirá "terá como eixo central a luta contra o antissemitismo e a discriminação".

A Argentina, e especialmente sua capital, Buenos Aires, tem a quinta maior comunidade judaica fora de Israel, com entre 300 mil e 400 mil pessoas.

Milei, que se declara católico, já anunciou em diversas ocasiões sua intenção de se converter ao judaísmo.

ra (ots)

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