As polêmicas indicações de Trump para o governo
As polêmicas indicações de Trump para o governo - Presidente eleito dos EUA escolhe equipe sob perfil de lealdade absoluta, boa presença na TV e apoio às suas promessas mais controversas. Mas alguns nomes chocam até mesmo republicanos.O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, começou a selecionar sua equipe com a nomeação de pessoas que compartilham um perfil comum: lealdade absoluta à sua visão, boa presença na televisão e apoio firme às suas promessas de campanha mais controversas, como as deportações em massa.
Na terça-feira, Trump já tinha anunciado a participação em seu futuro governo de uma figura ilustre e polêmica: o bilionário Elon Musk para o cargo de chefe de seu novo Departamento de Eficiência Governamental.
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Musk, que doou milhões de dólares para a campanha de Trump e apoiou ativamente o candidato republicano nas últimas eleições, comandará a pasta junto com um ex-concorrente de Trump nas primárias do Partido Republicano, o empresário Vivek Ramaswamy.
Mas algumas nomeações divulgadas nesta quarta-feira (13/11) causaram conrtovérsia até mesmo entre os membros do próprio partido de Trump.
A que causou o maior choque foi a escolha de Matt Gaetz, um incendiário da extrema direita republicana no Congresso, um linha-dura e trumpista fiel, para o cargo de procurador-geral dos EUA, função que direciona as posições legais do governo em questões críticas, incluindo aborto e direitos civis.
Gaetz, de 42 anos, poderia concretizar as ameaças de vingança do presidente eleito contra seus adversários políticos. Sempre polêmico, ele foi investigado pelo Departamento de Justiça – mesmo órgão que ele agora é nomeado para liderar – por supostas relações sexuais com menores de idade e tráfico sexual, embora o departamento tenha decidido não apresentar acusações, por falta de provas. O político nega qualquer irregularidade.
Além disso, estava sendo investigado pelo comitê de ética da Câmara, em meio a alegações de má conduta sexual, uso de drogas ilícitas e outras supostas violações éticas. Gaetz renunciou ao seu cargo na Câmara dos Representantes após sua indicação por Trump na quarta-feira, o que também leva ao fim as investigações do comitê.
"Não acho que seja uma indicação séria para o procurador-geral", disse a senadora republicana Lisa Murkowski, do Alasca, à emissora NBC News. "Precisamos de um procurador-geral sério. E estou ansiosa pela oportunidade de considerar alguém que seja sério. Essa não estava em minha cartela de bingo", afirmou a congressista.
Outro parlamentar republicano, Max Miller, de Ohio, disse ao portal de notícias Axios que "Gaetz tem mais chances de jantar com a rainha Elizabeth 2ª do que de ser confirmado pelo Senado".
O descontentamento entre republicanos pode dificultar a aprovação do nome de Gaetz pelo Senado, apesar da maioria que o partido de Trump terá a partir de janeiro na Casa, com 53 assentos, frente a 47 de democratas e independentes.
"Pior indicação da história americana"
John Bolton, ex-conselheiro de segurança nacional de Trump, afirmou que Gaetz "deve ser a pior indicação para um cargo no gabinete na história americana".
"Gaetz não é apenas totalmente incompetente para esse cargo, ele não tem caráter. Ele é uma pessoa de torpeza moral", disse Bolton em uma entrevista à rede de televisão NBC News.
Outra polêmica nomeação de Trump foi a da ex-congressista democrata Tulsi Gabbard, 43 anos, acusada de divulgar propaganda russa, para assumir o controle dos segredos mais sensíveis do país, como diretora de Inteligência Nacional. Gabbard se opõe a um maior apoio dos EUA à Ucrânia na guerra de defesa contra a Rússia.
No cargo, ela comandará todas as agências que compõem a Comunidade de Inteligência dos EUA, que reúne a CIA, a NSA e o FBI, entre outros órgãos.
Depois de seu período no Congresso, ela concorreu nas primárias presidenciais democratas de 2020 contra a agora vice-presidente, Kamala Harris. Em 2022, deixou o partido e começou a abraçar as teses conservadoras, aparecendo frequentemente na emissora Fox News, até chegar à órbita de Trump.
O presidente eleito é conhecido por valorizar a aparência telegênica de seus funcionários – comentou recentemente que sua nova secretária de Segurança Interna, Kristi Noem, é "bonita" – e muitos de seus escolhidos aparecem na Fox News, de tendência conservadora.
As indicações de quarta-feira vieram na esteira de outra nomeação surpreendente, quando Trump escolheu para o posto de secretário da Defesa o apresentador da Fox News Pete Hegseth – que é veterano de combate, mas não tem experiência em dirigir grandes organizações.
Embora Hegseth tenha experiência militar, a sua falta de experiência de alto nível ou de funções governamentais levanta questões sobre a sua competência para gerir o vasto e complexo Departamento de Defesa.
Antivacina para a Saúde
Outra escolha polêmica foi a indicação de Robert F. Kennedy Jr. como novo secretário de Saúde. O escolhido é conhecido pelo ativismo contra algumas vacinas, como as contra a covid-19, e pela divulgação de teorias de conspiração.
O filho do ex-procurador-geral dos EUA Robert F. Kennedy e sobrinho do ex-presidente John F. Kennedy, ambos assassinados na década de 1960, é, de acordo com Trump, "um cara fantástico" e conhecedor de pesticidas e do meio ambiente.
Grande parte do clã Kennedy havia lhe dado as costas por causa de teorias conspiratórias que ele abraçou durante a pandemia de covid-19, como a de que o vírus tinha como alvo caucasianos e negros e que chineses e judeus ashkenazi eram mais imunes. Kennedy Jr. também vinculou tiroteios em escolas a antidepressivos e acusou os democratas de receberem muito mais dinheiro de empresas farmacêuticas do que os republicanos.
Ao anunciar a escolha, Trump prometeu que o secretário de Saúde terá um papel importante para garantir que o público seja protegido "de produtos químicos nocivos, poluentes, pesticidas, produtos farmacêuticos e aditivos alimentares que contribuíram para a grave crise de saúde" no país.
De acordo com Trump, Kennedy Jr. irá garantir que estas agências voltem a cumprir os mandatos da ciência "para acabar com a epidemia de doenças crônicas e tornar a América grande e saudável novamente".
O indicado, por sua vez, agradeceu a Trump por sua "coragem e liderança" e prometeu ser um "servidor público honesto". "Juntos, vamos acabar com a corrupção, interromper a porta giratória entre o setor e o governo e devolver às nossas agências de saúde sua rica tradição de ciência baseada em evidências. Darei aos americanos transparência e acesso a todos os fatos para que possam tomar decisões informadas para si mesmos e suas famílias", afirmou Kennedy Jr..
Rubio defende "pragmatismo" sobre Ucrânia
Trump também anunciou nesta quarta-feira a indicação para o cargo de secretário de Estado, o chefe da diplomacia americana. Como esperado, o posto deve ser assumido pelo senador republicano Marco Rubio, de 53 anos, da Flórida. Ele será um "defensor de nossa nação" e "um verdadeiro amigo de nossos aliados", declarou Trump.
Filho de imigrantes cubanos, Rubio vê a China como o maior desafio para a política externa dos EUA. Trump descreveu seu futuro secretário de Estado como um "guerreiro destemido que nunca recuará diante de nossos adversários".
Rubio está alinhado com Trump em sua postura dura em relação à China. Com relação à guerra na Ucrânia, ele já defendeu o "pragmatismo" – o que significa que, assim como Trump, não vê sentido em continuar apoiando a Ucrânia com bilhões de euros.
Outra nomeação polêmica, que foi divulgada por Trump na segunda-feira, foi a de Stephen Miller, seu ex-conselheiro sênior, como o novo vice-chefe de gabinete para políticas. A função é uma espécie de cargo de confiança do presidente dos EUA e um dos mais próximos do chefe de governo.
Advogado de 39 anos, Miller criou algumas das medidas mais rígidas adotadas por Trump em seu primeiro mandato para controlar a entrada de imigrantes. Ele foi o arquiteto das políticas de separação de famílias de migrantes e de proibição da entrada de pessoas de países de maioria muçulmana.
Agora ele é o ideólogo por trás dos planos de deportações em massa. Ele é o autor de frases polêmicas como "América para americanos e somente para americanos".
md/bl/cn (DPA, EFE, AFP, Reuters)