Ultradireita escolhe mulher para disputar governo na Alemanha

Ultradireita escolhe mulher para disputar governo na Alemanha - Co-líder da AfD, Alice Weidel será a primeira candidata mulher do partido na disputa. Sigla hoje figura em segundo lugar nas pesquisas. Alemães irão às urnas em fevereiro, em pleito antecipado por crise política.O partido alemão de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD) nomeou neste sábado Alice Weidel como sua primeira candidata mulher ao comando do país nas eleições antecipadas, previstas para o dia 23 de fevereiro.

Weidel, que é co-líder da bancada do partido no Bundestag (a câmara baixa do Parlamento alemão) e também co-dirigente da sigla, será a primeira mulher nos quase 12 anos de história da AfD a concorrer sozinha ao cargo de chanceler federal.

Antes, ela já havia sido co-candidata com outros colegas homens do partido: em 2017 ao lado de Alexander Gauland e em 2021 com o também co-líder da AfD Tino Chrupalla.

A deputada e economista de 45 anos já havia anunciado suas pretensões em setembro. O lema de sua campanha será uma expressão que, traduzida para o português, pode significar tanto "tempo para a Alemanha" quanto "está na hora da Alemanha".

AfD está em segundo lugar nas pesquisas e quer romper "cordão sanitário"

A AfD aparece em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto, oscilando entre 17 e 19% – bem atrás dos conservadores da aliança CDU/CSU, que somam mais de 30%, e muito próximo dos social-democratas do SPD, partido do atual chanceler federal, Olaf Scholz.

"Somos a segunda força nas pesquisas a nível federal e por isso queremos ser parte do governo", afirmou Weidel.

Até agora, o partido de retórica anti-imigração e crítico ao apoio militar à Ucrânia segue isolado por um "cordão sanitário" imposto pelos demais membros do Bundestag, que se recusam a costurar alianças com a sigla dada a experiência histórica traumática da Alemanha com o extremismo de direita – a AfD é atualmente monitorada pelo serviço secreto alemão por suspeita de extremismo, e tem poucas chances reais de fazer parte de um governo dado o seu isolamento.

Ainda assim, o partido deve avançar significativamente no Parlamento. Na última eleição, em 2021, a sigla obteve 10,4% dos votos.

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A candidatura de Weidel ainda terá que ser ratificada em um congresso nacional da AfD em 11 de janeiro, mas esse aval agora é considerado mera formalidade.

Qual é a agenda de campanha da AfD

"Nosso país já não é o que foi", disse Weidel, aludindo à fase de prosperidade que se sucedeu à reconstrução no pós-guerra, e afirmando que a Alemanha hoje se encontra "em uma de suas crises mais profundas".

Segundo Weidel, os últimos governos acabaram com essa prosperidade, quebrando "a espinha dorsal da indústria alemã" e estragando "tudo o que funcionava" com sua cruzada intervencionista contra a economia de mercado.

Como solução, a alemã propõe "baixar os impostos e os preços da energia", a reativação de usinas nucleares e de carvão e a retomada da compra de gás natural – presumivelmente da Rússia.

Na economia, uma de suas inspirações é a ex-premiê britânica Margaret Thatcher, que defendeu redução de impostos, corte de subsídios estatais e privatizações.

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Weidel também critica o que chama de "violência excessiva de imigrantes", prometeu fechar as fronteiras e deportar de imediato "ilegais, criminosos, estupradores e assassinos", bem como suspender a prestação de assistência social a estrangeiros.

A candidata da AfD é ela mesma casada com uma mulher nascida no Sri Lanka, com quem tem dois filhos – um modelo de família radicalmente diferente do defendido pela AfD em seu programa partidário: "Na família, mãe e pai cuidam de suas crianças sempre com responsabilidade compartilhada."

Apesar disso, Weidel se diz contrária à "ideologia de gênero" e defende que o Estado precisa "parar de se intrometer" na vida das pessoas através de políticas de diversidade.

Também é contra o envio de armas à Ucrânia – uma agenda que agrada à Rússia. "Somos o partido da paz. Se não querem guerra na Alemanha, votem na AfD."

Numa entrevista dada em agosto ao Welt am Sonntag, Weidel também anunciou que seu partido pretende "reformar a União Europeia" – e, caso isso não seja possível, defendeu que cada país deveria ter a chance de organizar um referendo para decidir sobre a permanência no bloco, como aconteceu no Reino Unido.

Um rascunho do programa partidário da AfD apresentado dias antes da nomeação de Weidel defende a saída da UE e da zona do euro, uma política dura contra imigrantes, a reaproximação com a Rússia, restrições ao aborto e a promoção de um modelo de família tradicional.

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ra (efe, DW, ots)

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