Como saída dos EUA do Acordo de Paris impacta o mundo

Como saída dos EUA do Acordo de Paris impacta o mundo - Estados Unidos são segundo maior emissor de gases de efeito estufa do planeta. Decisão de Trump, porém, não inviabiliza o tratado, garantem especialistas.O presidente dos EUA, Donald Trump, assinou nesta segunda-feira (20/01) uma ordem executiva para retirar os Estados Unidos, o segundo maior emissor de gases de efeito estufa do mundo, do histórico Acordo de Paris pela segunda vez.

A medida coloca os EUA entre um pequeno número de países, incluindo Irã e Iêmen, que não fazem parte do pacto internacional, que convoca os governos a tomarem ações para limitar o aumento da temperatura global a 2 ºC acima dos níveis pré-industriais e a perseguirem esforços para manter as temperaturas abaixo de 1,5 ºC para evitar os piores impactos da crise climática.

"Estou imediatamente me retirando do injusto e unilateral golpe climático de Paris", disse o novo presidente ao assinar a ordem em Washington, pouco após sua posse. "Os Estados Unidos não irão sabotar nossas próprias indústrias enquanto a China polui impunemente."

O ministério das Relações Exteriores da China respondeu imediatamente, expressando preocupação sobre a retirada dos EUA e disse que o país responderá ativamente às mudanças climáticas e promoverá conjuntamente a transição global para uma economia de baixo carbono.

Sozinha, a China é responsável por cerca de um terço das emissões globais de gases de efeito estufa, contribuindo com 32% das emissões. Os Estados Unidos emitem 13,6%, seguidos pela União Europeia, segundo o Climate Watch.

Foco em petróleo e gás

Durante seu discurso inaugural, Trump reafirmou suas promessas de campanha de investir nas reservas de petróleo e gás americanas.

Por semanas, Trump vinha prometendo assinar uma série de ordens executivas em seus primeiros dias no cargo, muitas delas visando o que ele chamou repetidamente de "fraude do novo acordo verde". Uma de suas primeiras ações foi suspender novas concessões de energia eólica offshore. No passado, Trump se opôs a este tipo de produção de energia - um mercado em rápido crescimento nos EUA - chamando as turbinas de "um desastre econômico e ambiental".

Espera-se que o novo presidente também se desfaça de algumas ou todas as políticas climáticas implementadas por seu antecessor, Joe Biden, incluindo partes da Lei de Redução da Inflação de 2022 (IRA). A IRA tem como objetivo aumentar a energia renovável, os empregos verdes e combater as mudanças climáticas.

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Os EUA também saíram do Acordo de Paris no primeiro mandato de Trump, mas Biden reverteu essa decisão quando assumiu o cargo em 2021.

"Sinal para outros reduzirem compromissos"

Uma retirada dos EUA do Acordo de Paris removeria a obrigação do país de reduzir suas emissões, alertou Laura Schäfer, da ONG ambiental e de direitos humanos Germanwatch.

"Nesta década crucial para a ação climática, isso é, claro, devastador", disse ela. "Isso poderia ser um sinal para outros países reduzirem seu compromisso com a mitigação climática. Poderia diminuir a pressão sobre outros grandes emissores como a China. As emissões dos EUA desempenham um papel importante na questão de se conseguiremos manter o aquecimento global abaixo de 2 graus e 1,5 grau", afirmou.

Cientistas dizem que a janela para manter o aquecimento global abaixo de 1,5 °C está se fechando, com tempertaturas médias globais já atingindo este teto.

Sob o Acordo de Paris, os países são obrigados a registrar suas emissões e apresentar metas de redução a cada cinco anos, com a próxima rodada prevista para ser apresentada antes do início de fevereiro, em preparação para a conferência climática COP30, que ocorrerá em Belém, no Brasil, em novembro de 2025.

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A administração do ex-presidente Joe Biden apresentou as chamadas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) dos EUA em dezembro. Elas delinearam compromissos para reduzir as emissões líquidas entre 61% e 66% até 2035, em comparação com os níveis de 2005.

"Sair de Paris essencialmente remove de fato a NDC", disse David Waskow, diretor da Iniciativa Climática Internacional no World Resources Institute, com sede nos EUA.

"O importante sobre a NDC e o que a administração Biden fez é que ela estabelece uma marca, uma estrela-guia, para o que os Estados Unidos precisam fazer em relação às mudanças climáticas. Então, essa redução realmente estabelece um efeito de sinalização claro, um farol para o que precisa ser feito pelas cidades e estados dos EUA", afirmou.

Quem vai liderar os esforços climáticos nos EUA?

Durante o primeiro mandato de Trump, mais de 4 mil governadores, prefeitos e líderes empresariais de todo os EUA prometeram manter os compromissos do país sob o Acordo de Paris por meio da coalizão "We Are Still In".

Após a vitória de Trump nas eleições de 2024, alguns líderes renovaram seu interesse de continuar com a redução de emissões como parte da US Climate Alliance, que afirma ter como objetivo trabalhar por um futuro de emissões líquidas zero.

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Waskow entende que as cláusulas dentro da IRA dificultarão que Trump revogue toda a lei, especialmente porque os estados republicanos estão recebendo uma parte dos créditos fiscais e incentivos para projetos de energia limpa e veículos elétricos.

"Pode haver alguns ajustes nas margens, mas acho que a lei pode permanecer intacta. E, em termos de como os outros países internacionalmente reagirão a isso, acho que é importante olhar além do espetáculo de palco de Trump e ver o que está realmente acontecendo na prática", disse Waskow à DW.

Ainda assim, uma análise do veículo especializado britânico Carbon Brief sugere que o mandato de quatro anos de Trump poderia resultar em 4 bilhões de toneladas métricas a mais em emissões de dióxido de carbono lançado na atmosfera até 2030, caso o novo presidente revogue completamente a IRA. Isso é equivalente às emissões anuais combinadas da União Europeia e do Japão.

"Isso deixa claro que esperamos muito mais emissões dos EUA em comparação com o que Joe Biden havia planejado", disse Schäfer.

Haverá um impacto econômico para os EUA?

Reverter as medidas climáticas pode ter um impacto na economia dos EUA, considerando o crescente investimento global em energia verde em comparação com os combustíveis fósseis.

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O investimento global em energia em 2024 deve ultrapassar 3 trilhões de dólares (R$ 18 milhões), segundo um relatório da Agência Internacional de Energia, com dois terços desse valor indo para tecnologias limpas como energias renováveis e veículos elétricos, além de outras energias como a nuclear, contra um terço investido em carvão, gás e petróleo.

Li Shuo, especialista em energia no Asia Society Policy Institute, disse que a retirada dos EUA impactaria a capacidade do país de competir com a China nos mercados de energia limpa, como solar e veículos elétricos.

"A China tem tudo a ganhar, e os EUA correm o risco de ficar ainda mais para trás", disse ele.

Próximos passos para uma retirada

Apesar da ação rápida de Trump para retirar os EUA do Acordo de Paris, o país terá que esperar um ano após o recebimento da notificação de retirada para que ela se torne oficial. Isso significa que os EUA ainda compõem o grupo quando a próxima conferência climática COP acontecer.

Ainda não está claro se o governo americano de fato participará da cúpula, mas terá um papel diminuído. Especialistas dizem que a UE e o maior emissor mundial, a China, podem estar prestes a fortalecer sua liderança nas negociações.

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Para Waskow, o acordo internacional permanece relevante, mesmo sem os EUA.

"[Quase] 90% das emissões globais estão representadas nesse acordo global. Então, isso é extremamente importante," acrescentou ele. Autor: Louise Osborne

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