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Dois anos depois de sequestro, nenhuma menina de Chibok voltou para casa

Forças de segurança se reúnem em frente ao um prédio do governo atacado - Said Yusuf Warsame/EFE
Forças de segurança se reúnem em frente ao um prédio do governo atacado Imagem: Said Yusuf Warsame/EFE

Em Mogadíscio

14/04/2015 09h22

Lagos, 14 abr (EFE).- Dois anos depois que o grupo terrorista Boko Haram sequestrou 276 meninas em uma escola de Chibok, no nordeste da Nigéria, a luta de suas famílias por recuperá-las continua como antes, mas apesar das campanhas e das promessas do governo do país não houve nenhum avanço.

Enquanto o mundo relembrou hoje a famosa hashtag que inundou as redes sociais em abril de 2014, #BringBackOurGirls (devolvam nossas meninas), a associação de vítimas com o mesmo nome voltou a se manifestar para exigir do presidente nigeriano, Muhammadu Buhari, que cumpra sua promessa de encontrá-las sãs e salvas.

Esta manhã o país despertou comovido pela publicação de um vídeo no qual supostamente aparecem 15 das 219 meninas que continuam nas mãos do grupo terrorista - 57 escaparam nos dias seguintes ao sequestro -, algumas das quais teriam sido reconhecidas por familiares próximos.

"É um dia triste e doloroso, sobretudo após ver o vídeo no qual os pais choram desconsolados. Enquanto as meninas permanecerem sequestradas pelo Boko Haram, a Nigéria vai continuar cativa", declarou à imprensa Aisha Yesufu, uma das convocadoras do protesto.

No vídeo, uma das supostas sequestradas, Naomi Zakaria, faz um apelo para que o governo nigeriano as ajude a se reunir com suas famílias: "É 25 de dezembro de 2015, falo em nome de todas as meninas de Chibok e estamos bem", assegurou.

O vídeo, de cerca de dois minutos de duração, foi entregue às autoridades nigerianas há quatro meses como parte das supostas negociações, até agora infrutíferas, que o governo de Abuja mantém com o Boko Haram para conseguir a libertação das meninas.

Embora a publicação do vídeo tenha causado um grande alvoroço tanto na Nigéria como no resto do mundo, as autoridades nigerianas não têm certeza de sua autenticidade nem descartam que tenha sido gravado com meses de antecedência, já que suspeitam do pouco que mudaram as meninas desde que foram sequestradas há dois anos.

As operações militares realizadas nos últimos meses no nordeste da Nigéria e no resto do lago Chade também não deram nenhum resultado, já que no último ano o Exército nigeriano assegura ter resgatado mais de 1.000 mulheres e meninas, mas nenhuma pôde ser identificada como uma das meninas de Chibok.

Organizações como Anistia Internacional (AI) calculam que o Boko Haram ainda mantém cativas centenas ou talvez milhares de mulheres e meninas, mas nenhuma delas conseguiram tanta repercussão como as meninas de Chibok, transformadas em um símbolo porque foram as primeiras a serem sequestradas em massa.

As meninas de Chibok, em sua maioria cristãs, foram sequestradas na noite do dia 13 de abril de 2014 enquanto dormiam na escola da cidade, como represália por assistirem aula, porque o Boko Haram considera que receber educação fora das madraçais - escolas islâmicas - é uma traição aos valores do Islã.

O Boko Haram, cujo nome costuma traduzir-se como "a educação não islâmica é pecado", luta por impor um Estado islâmico no nordeste da Nigéria através de uma campanha de terror e um de seus principais alvos é o sistema educacional.

Segundo a Human Rights Watch, desde 2009 o grupo islamita matou 611 professores e destruiu mais de 900 escolas, além de forçar o fechamento de outras 1.500 e provocar a fuga de quase um milhão de crianças em idade escolar.

Nos mais de seis anos que dura o conflito, o Boko Haram assassinou mais de 12 mil pessoas, segundo estimativas governamentais - embora outras fontes aleguem que este número seja mais do que o dobro -, e obrigaram mais de 2,5 milhões de pessoas a fugir de suas casas.

Segundo um recente relatório divulgado pelo Unicef, o grupo terrorista utilizou crianças em um em cada cinco atentados suicidas cometidos no ano passado na Nigéria, Camarões, Chade e Níger, um número dez vezes superior ao registrada em 2014.

Segundo o estudo, no ano passado houve 44 atentados suicidas com menores, 75% dos quais eram meninas, que em muitas ocasiões são enganadas para entregar um pacote ou drogadas, enquanto os terroristas detonam a bomba à distância.