Galatsi, o ginásio em Atenas que serve como teto para milhares de refugiados
Mais de mil refugiados e migrantes, em sua maioria afegãos, dormem, se alimentam e convivem nos corredores e salas de um ginásio poliesportivo em Atenas com o alívio de terem um teto temporariamente, apesar da grande aglomeração.
As pessoas que chegam diariamente ao ginásio de Galatsi, localizado na periferia de Atenas, buscam atenuar a pressão e o cansaço acumulados há dias.
Muitos desses andarilhos desejam continuar o percurso rumo ao norte da Europa, mas a falta de recursos econômicos e as reclamações dos filhos, exaustos, os torna hóspedes de um abrigo improvisado, abandonado há 11 anos.
Atenas conta com três pontos de amparo até o momento: dois temporários e um permanente, que foi aberto em agosto e completou suas 720 vagas há poucos dias.
A Grécia está disposta a acolher em centros de amparo um máximo de 10 mil pessoas, segundo informou o ministro adjunto de Migração, Yannis Muzalas.
Na quadra do ginásio, separada com uma grade de metal para controlar o fluxo de pessoas, cinco jovens jogam bola enquanto outros aproveitam a sombra para tentar ligar por celular para os que ficaram para trás.
As mulheres passeiam com os filhos de um lado para o outro, sem perder de vista as roupas que secam em uma longa corda pendurada. Enquanto isso, algumas crianças aproveitam o tempo com brinquedos doados e às vezes provocam gargalhadas dos adultos, interrompendo o enfado.
Thanos Mijos, um dos pediatras voluntários que atende esses refugiados, explicou à Agência Efe que durante a estadia no ginásio os médicos aproveitam para distribuir cartilhas e vacinar as centenas de crianças que chegam à Grécia em estado de desnutrição.
"Estamos aqui como voluntários para contribuir para o reconhecimento das crianças que chegam da Síria ou do Afeganistão. São migrantes, então temos diferentes problemas que tentamos resolver na medida em que podemos", explicou.
De acordo com o porta-voz do Ministério da Migração, "as pessoas que precisam de cuidado urgente são transferidas ao hospital, recebem três refeições diárias e têm acompanhamento médido".
Por iniciativa das autoridades, essas pessoas também têm direito a assessores legais, de modo a serem ajudadas para solicitar o asilo político.
"Os afegãos têm um perfil de refugiados, a maioria deles tem cicatrizes que demonstram que foram torturados", disse Muzalas, que afirmou que 85% das pessoas que chegam à Grécia efetivamente são refugiados, e não imigrantes econômicos.
Tai Sula, um dos jovens afegãos que deixaram o país natal, explicou a decisão tomada com a mesma razão citada pela maioria: a guerra que transforma a sociedade em ruínas.
Esse jovem, de 19 anos, que decidiu passar a noite no ginásio para no dia seguinte continuar o caminho rumo à Macedônia, carrega pouca bagagem e anda sempre atento.
"É melhor isso do que precisar passar a noite na rua", disse Tai Sula, agradecido por poder comer e dormir sob um teto após uma árdua jornada do Afeganistão até a Grécia.
O longo percurso custou ao jovem 2,5 mil euros (R$ 10,6 mil), com muitos quilômetros a pé e uma travessia em lancha da Turquia até a ilha grega de Lesbos.
O sonho de Tai Sula é se tornar administrador de empresas e "não ter de retornar" ao país de origem. Por enquanto, sua prioridade é conseguir uma passagem de ônibus para a Macedônia, que as agências de viagem vendem com preços entre 40 e 60 euros para adultos, e entre 12 e 30 euros para crianças maiores de 12 anos.
O primeiro destino do jovem após sair do ginásio de Galatsi é o centro de Atenas, onde está a maioria das agências e pessoas que buscam novos passageiros.
Embora as autoridades gregas afirmem que não querem ver os refugiados "dormindo nas praças", os lugares abertos não costumam demorar a lotar de pessoas que esperam por horas o próximo ônibus rumo a um centro de amparo temporário ou à fronteira. Para muitos, o destino continua sendo incerto.
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