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Galatsi, o ginásio em Atenas que serve como teto para milhares de refugiados

Crianças refugiadas em Atenas brincam em barraca montada na praça em frente ao ginásio olímpico Galatsi, que foi aberto para abrigas famílias de imigrantes - Thanassis Stavrakis - 1.out.2015/AP
Crianças refugiadas em Atenas brincam em barraca montada na praça em frente ao ginásio olímpico Galatsi, que foi aberto para abrigas famílias de imigrantes Imagem: Thanassis Stavrakis - 1.out.2015/AP

11/10/2015 06h03

Mais de mil refugiados e migrantes, em sua maioria afegãos, dormem, se alimentam e convivem nos corredores e salas de um ginásio poliesportivo em Atenas com o alívio de terem um teto temporariamente, apesar da grande aglomeração.

As pessoas que chegam diariamente ao ginásio de Galatsi, localizado na periferia de Atenas, buscam atenuar a pressão e o cansaço acumulados há dias.

Muitos desses andarilhos desejam continuar o percurso rumo ao norte da Europa, mas a falta de recursos econômicos e as reclamações dos filhos, exaustos, os torna hóspedes de um abrigo improvisado, abandonado há 11 anos.

Atenas conta com três pontos de amparo até o momento: dois temporários e um permanente, que foi aberto em agosto e completou suas 720 vagas há poucos dias.

A Grécia está disposta a acolher em centros de amparo um máximo de 10 mil pessoas, segundo informou o ministro adjunto de Migração, Yannis Muzalas.

Na quadra do ginásio, separada com uma grade de metal para controlar o fluxo de pessoas, cinco jovens jogam bola enquanto outros aproveitam a sombra para tentar ligar por celular para os que ficaram para trás.

As mulheres passeiam com os filhos de um lado para o outro, sem perder de vista as roupas que secam em uma longa corda pendurada. Enquanto isso, algumas crianças aproveitam o tempo com brinquedos doados e às vezes provocam gargalhadas dos adultos, interrompendo o enfado.

Thanos Mijos, um dos pediatras voluntários que atende esses refugiados, explicou à Agência Efe que durante a estadia no ginásio os médicos aproveitam para distribuir cartilhas e vacinar as centenas de crianças que chegam à Grécia em estado de desnutrição.

"Estamos aqui como voluntários para contribuir para o reconhecimento das crianças que chegam da Síria ou do Afeganistão. São migrantes, então temos diferentes problemas que tentamos resolver na medida em que podemos", explicou.

De acordo com o porta-voz do Ministério da Migração, "as pessoas que precisam de cuidado urgente são transferidas ao hospital, recebem três refeições diárias e têm acompanhamento médido".

Por iniciativa das autoridades, essas pessoas também têm direito a assessores legais, de modo a serem ajudadas para solicitar o asilo político.

"Os afegãos têm um perfil de refugiados, a maioria deles tem cicatrizes que demonstram que foram torturados", disse Muzalas, que afirmou que 85% das pessoas que chegam à Grécia efetivamente são refugiados, e não imigrantes econômicos.

Tai Sula, um dos jovens afegãos que deixaram o país natal, explicou a decisão tomada com a mesma razão citada pela maioria: a guerra que transforma a sociedade em ruínas.

Esse jovem, de 19 anos, que decidiu passar a noite no ginásio para no dia seguinte continuar o caminho rumo à Macedônia, carrega pouca bagagem e anda sempre atento.

"É melhor isso do que precisar passar a noite na rua", disse Tai Sula, agradecido por poder comer e dormir sob um teto após uma árdua jornada do Afeganistão até a Grécia.

O longo percurso custou ao jovem 2,5 mil euros (R$ 10,6 mil), com muitos quilômetros a pé e uma travessia em lancha da Turquia até a ilha grega de Lesbos.

O sonho de Tai Sula é se tornar administrador de empresas e "não ter de retornar" ao país de origem. Por enquanto, sua prioridade é conseguir uma passagem de ônibus para a Macedônia, que as agências de viagem vendem com preços entre 40 e 60 euros para adultos, e entre 12 e 30 euros para crianças maiores de 12 anos.

O primeiro destino do jovem após sair do ginásio de Galatsi é o centro de Atenas, onde está a maioria das agências e pessoas que buscam novos passageiros.

Embora as autoridades gregas afirmem que não querem ver os refugiados "dormindo nas praças", os lugares abertos não costumam demorar a lotar de pessoas que esperam por horas o próximo ônibus rumo a um centro de amparo temporário ou à fronteira. Para muitos, o destino continua sendo incerto.