Antropólogo francês tentar desnudar sociedade brasileira através dos motéis
A complexa sociedade brasileira, vista do prisma dos motéis, se desnudou aos olhos do antropólogo francês Jérôme Souty, que a registrou em um livro que será lançado neste mês na França.
"Há uma barreira de pudor, mas foi fácil falar com as pessoas sobre o tema", comentou o antropólogo em entrevista à Agência Efe, ao explicar que os motéis "fazem parte da vida cotidiana no Brasil e são sinônimo de discrição em temas sexuais e amorosos".
O pesquisador da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) escreveu sua tese de doutorado em antropologia social sobre a cultura afro-brasileira em Salvador.
Em 2004, ele se deparou com estes estabelecimentos na região do Porto Maravilha, no Rio de Janeiro, e lá entrou no universo de um albergue restaurado nos anos 70, a partir de onde descobriu "motéis que são uma instituição e oferecem uma visão ampla da sociedade carioca e de sua evolução".
Souty compila há mais de dez anos informações e fotos de motéis, cujo conceito original é um dos símbolos do "American way of life" e nasceu em 1925, na Califórnia, com a contração das palavras motor e hotel. No final da década de 60, surgiram os primeiros no Brasil, onde sofreram transformações e se transformaram em emblema da liberdade sexual.
Para ele, um país visto como "exótico e muito sensual, esconde uma sociedade machista, com uma ideia muito conservadora de separação entre os gêneros, como no velho modelo patriarcal".
A instauração destes "hotéis do amor", chamados assim por Souty, pois acolhem todo tipo de prática sexual, chegaram quase ao mesmo tempo que as rodovias e a televisão.
O trabalho de Souty teve foco em três motéis do Rio: um restaurado do velho porto; outro, mais tradicional, na periferia; e um último, disfarçado de hotel, no centro da cidade.
"A maioria dos motéis cariocas de primeira geração pode ser classificada como 'kitsch', termo que designa uma decoração carente de estilo, que pode ter se originado nos novos ricos brasileiros que tentaram adotar as tendências europeias ou norte-americanas", disse.
Em seu livro, o autor descreveu estadias de todo tipo: desde a reconstrução de um pequeno avião ou de um iate a dormitórios temáticos que evocam clínicas veterinárias, galerias de arte ou espaços dedicados ao romantismo, cobertos de pétalas de rosas, com luzes tênues e sais aromáticos.
Os brasileiros se surpreendem "por não haver lugares parecidos na Europa", destacou o antropólogo, que prevê que podem chegar pelas mãos de espanhóis e portugueses que possuem muitos desses estabelecimentos no Brasil.
O autor, que também publicou artigos sobre temas como vudu, a urbanização no mundo e o suicídio, planeja traduzir sua obra - à venda na França a partir de 19 de novembro - para o português e divulgá-la no Brasil nos próximos meses.
Além disso, Souty pretende continuar a escrever sobre a globalização desses estabelecimentos do sexo, antecipou.
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