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Praga acolhe primeiro contingente de refugiados iraquianos cristãos

Gustavo Monge

24/01/2016 17h19

A República Tcheca recebeu neste domingo o primeiro contingente de refugiados iraquianos, todos eles cristãos procedentes do Curdistão e aceitos pelo país centro-europeu, onde solicitarão asilo político por considerar que em seu país sofrem perseguição por motivos religiosos.

O grupo é formado por 153 refugiados, todos oriundos de Erbil, a capital do Curdistão iraquiano, e embora hoje era esperada a chegada dos primeiros 30, no final apenas 10 chegaram à capital tcheca, enquanto o resto desembarcará antes do final de março.

Um dos amparados é Majeed Kurdi, sociólogo e intérprete, que chega a Praga com sua mulher, Shilan, e duas crianças, procedente do Líbano, onde a família recebeu status de refugiado.

Desde a queda do regime do presidente iraquiano Saddam Hussein em 2003, "os cristãos e os assírios enfrentam uma falta de segurança no Iraque", onde sempre estão "sob o ataque dos radicais", afirma Kurdi.

Kurdi não nega seu desejo de voltar ao Curdistão o mais possível, e agora na Europa deseja "experimentar a liberdade e servir à sociedade".

Espera-se que o trâmite de concessão de asilo dos refugiados amparados dure seis meses, e depois os mesmos poderão se movimentar livremente pelo país e exercer uma profissão, e as crianças irem ao colégio.

A República Tcheca votou contra as cotas obrigatórias de distribuição de solicitantes de asilo político estipuladas pelos vinte E oito em setembro, e foi partidária que o amparo fosse uma opção voluntária.

Kurdi e sua família estão quatro anos fora de casa, a maior parte do tempo em um campo de refugiados do Líbano, desde onde voaram para Praga com escala em Istambul.

"Agradecemos à República Tcheca, a todos, e aos europeus, que nos abriram as portas", disse Kurdi ao chegar, mas lembrou que o mais importante é "resistir aos terroristas no Iraque e Síria, e ajudar as pessoas em riscos a sair dali".

Este contingente de 153 pessoas conta com o apoio da fundação tcheca Geração 21, que trabalha para aliviar a crise humanitária dos cristãos do Oriente Médio, uma das minorias mais perseguidas pelo grupo terrorista Estado Islâmico (EI).

Em tempos de Saddam Hussein havia 1,6 milhão de cristãos no Iraque e hoje restam apenas 200 mil, segundo algumas estimativas.

"Aqueles que querem ficar têm um sentimento louvável, mas para a maioria esse sentimento não significa nada, porque a vida está em perigo", descreve Kurdi a situação.

"O problema (do islã) é com a ideologia, não com os homens pelos quais rezamos. Mas cria um risco no mundo todo", opina Kurdi, que faz tradução do árabe e curdo para o inglês.

Todos os custos da viagem e estadia durante o primeiro ano em território tcheco serão sufragados pela Geração 21, com a ajuda da ONG britânica cristã Barnabas.

A Barnabas conseguiu financiar uma operação similar na Polônia, com outros 157 refugiados cristãos, e agora espera que o governo da Austrália acolha cerca de 12 mil refugiados do Oriente Médio, entre eles entre 4 mil e 6 mil cristãos, segundo disse à Agência Efe Hendrik Storm, diretor-executivo do fundo.

"Os cristãos sofrem perseguição nos campos de refugiados" da Agência de Refugiados das Nações Unidas (UNHCR), afirmou Storm, cuja entidade trata de criar para eles "refúgios operacionais seguros".

A estes acampamentos especiais na Jordânia, Curdistão, norte do Iraque e Líbano, que não recebem ajuda da ONU nem de nenhum governo, são também enviados alimentos.