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ONU pede que envolvidos no conflito sírio permitam ajuda a civis

26/01/2016 15h18

Marta Hurtado.

Genebra, 26 jan (EFE).- Faltando três dias para começar em Genebra, na Suíça, a nova rodada de negociações sobre o conflito sírio, a Organização das Nações Unidas (ONU) fez nesta terça-feira um pedido desesperado às partes envolvidas para que apoiem e permitam a distribuição de assistência humanitária em todo o país e deixem de atacar os milhões de civis.

"Existem 4,5 milhões de pessoas na Síria que não conseguimos ajudar de forma regular. É hora de isso acabar. Esse é o momento. Se as partes em conflito não entrarem em acordo agora, quando vão fazer?", disse o coordenador humanitário da ONU na Síria, Yacoub El Hillo, durante uma entrevista coletiva.

Nela também estavam representantes do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), da Organização Mundial da Saúde (OMS), do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e do Conselho Norueguês para Refugiados (NRC).

No encontro, cada um deles se dedicou a descrever a situação angustiante que o povo sírio atravessa e argumentar porque é necessário que o acesso seja imediato.

"É nosso direito e nossa obrigação, sob a lei humanitária internacional, poder assistir os que necessitam, mas, depois de cinco anos de impedimento, queremos aproveitar o momento em que as negociações são retomadas para solicitar algo que não deveria ser solicitado, muito menos questionado: peço a Rússia, Estados Unidos, Irã, Arábia Saudita e Turquia para que usem sua influência sobre as partes para convencê-las de que o acesso sem impedimentos é essencial. Ou então lamentaremos por décadas", afirmou o secretário-executivo do NRC, Jan Egeland.

Ele foi seguido por El Hillo, que insistiu: "Não estamos esperando para ver o que acontece, tem que acontecer".

No próximo dia 29 começará em Genebra uma nova rodada de negociações entre as partes convocadas pela ONU e coordenada por seu enviado especial, Staffan de Mistura.

De acordo com os dados mais recentes, das 4,5 milhões de pessoas que não recebem assistência humanitária regular, 450 mil vivem em zonas sitiadas, e a metade reside em áreas controladas pelo grupo terrorista Estado Islâmico (EI).

"É, sem dúvida, a pior situação humanitária que enfrentamos no mundo", sustentou o chefe de operações do OCHA, John Ging.

Segundo dados da ONU, em quase cinco anos de guerra, 260 mil morreram na Síria e mais de 12 milhões de cidadãos, sendo 5,5 milhões crianças, precisam de assistência humanitária imediata.

Mais de quatro milhões de pessoas fugiram do país e oito milhões se tornaram deslocados internos. Por isso, no encontro os representantes dos grupos humanitários pediram também o fim dos ataques a hospitais, escolas e civis em geral.

Ao todo, 67% da população vive na extrema pobreza. Além disso, 50% dos hospitais e ambulatórios estão destruídos e, com isso, as condições da população são péssimas, especialmente das crianças, que têm alto risco de contrair doenças por conta da baixa imunização.

"Surgiram surtos de sarampo e de coqueluche e as crianças começam a ficar doente a níveis alarmantes", disse a representante da OMS na Síria, Elisabeth Hoff.

Conforme revelou, antes do conflito, as taxas de imunização eram de 90%. Agora, variam de 10% a 50%.

"Insistimos no acesso ilimitado, para entre outras coisas, poder realizar uma ampla campanha de imunização", acrescentou, ressaltando que as forças do regime de Bashar al Assad negaram a entrada de uma segunda clínica móvel na cidade assediada de Madaya.

Após essa fala, Jan Egeland apelou para o fim da inanição como arma de guerra.

Representante do Unicef na Síria, Hanaa Singer foi responsável por relatar que dois milhões de crianças estão fora da escola e que a cada quatro colégios um não pode ser usado. Ao todo, 35 escolas foram atacadas em 2015 e cinco mil professores foram assassinados ou obrigados a fugir.

"Antes da guerra, a porcentagem de escolarização era de 90%. O país perdeu duas décadas", destacou ela, que lembrou o uso de crianças no campo de batalha.

No ano passado, a entidade contabilizou 327 crianças-soldado. "Mas sabemos que apenas é a ponta do iceberg", enfatizou.