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Iowa e New Hampshire começam a definir candidatos nos EUA desde 1972

29/01/2016 19h46

Cristina García Casado.

Washington, 29 jan (EFE).- Desde 1972, quando Iowa e New Hampshire começaram a abrir o processo de eleições primárias nos Estados Unidos, apenas Bill Clinton se tornou presidente tendo perdido nos dois estados, enquanto Ronald Reagan, Barack Obama e George Bush, pai e filho, chegaram à Casa Branca ganhando em apenas um deles.

Naquele ano, de maneira bastante acidental, Iowa se transformou no primeiro teste real para os pré-candidatos presidenciais, seguido por New Hampshire, que desde 1920 inaugurava as primárias. Nascia assim o sistema de eleição moderno dos Estados Unidos.

Os dois estados, de população majoritariamente branca, marcaram desde então as campanhas políticas nos EUA em tal medida que, sem seu impulso definitivo, um desconhecido governador da Geórgia chamado Jimmy Carter e um jovem senador de nome Barack Hussein Obama dificilmente teriam sido presidentes.

Na história do sistema moderno do pleito há derrotas memoráveis como a que a então favorita Hillary Clinton sofreu para o "azarão" Obama em 2008: ela não só perdeu quando tinha uma ampla vantagem nas pesquisas, como ficou na terceira colocação.

Obama ganhou então mais que uma votação. O senador afro-americano conseguiu atrair a atenção da mídia e abriu caminho para mudar as projeções que apontavam o triunfo de Hillary.

E repetir essa façanha é o que espera agora o senador Bernie Sanders, que segundo as pesquisas pode vencer Hillary - de novo favorita - em Iowa e em New Hampshire.

Esse é o pior pesadelo da campanha da ex-primeira-dama. Desde 1972, só um candidato conseguiu sobreviver a duas derrotas em Iowa e New Hampshire e chegar à Casa Branca: justamente seu marido, Bill Clinton.

Em 1992, nem ele, nem os outros candidatos fizeram esforços em Iowa, certos de que lá ganharia o senador estadual Tom Harkin, razão pela qual a competição começou pra valer em New Hampshire.

Clinton ficou em segundo nessas primárias, apesar de naquele momento sua candidatura estar sendo duramente questionada por informações de supostas aventuras extraconjugais e outras polêmicas.

Seu segundo lugar foi considerado então um grande triunfo e lhe valeu o apelido de "comeback kid", com o qual é chamado um candidato que sofreu um forte revés e consegue se recuperar. Tanto que ele conquistou a presidência meses depois.

Em Iowa e New Hampshire não ganha quem fica em primeiro, mas quem mais supera as expectativas. Por isso, estes estados, onde os votos são conquistados com apertos de mãos e de porta em porta, impulsionaram candidatos de quem não se esperava nada.

A primeira vez que isso ocorreu foi em 1976, quando o então desconhecido governador Jimmy Carter chamou a atenção da mídia ao passar um ano fazendo campanha em Iowa, uma estratégia que lhe rendeu não só a vitória no estado, mas depois em New Hampshire, em 11 das 12 primárias seguintes até, finalmente, chegar à presidência.

Era o segundo processo de primárias do sistema moderno, e foi definitivo: Carter mostrou às gerações seguintes de candidatos as novas regras do caminho para a Casa Branca.

Desde então, as campanhas concentram seus esforços em Iowa e New Hampshire, cientes de que uma vitória nestes estados garante cobertura midiática e impulsiona as doações.

Com o sistema moderno, o chamado "aparelho" dos partidos políticos perdeu poder em favor das bases, ativistas com ideias afastadas do centro político, sem as quais nem democratas ou republicanos podem ganhar, depois, na votação nacional para a presidência.

Isto ocorreu em 1972, quando o senador George McGovern obteve a indicação democrata com o apoio de bases escoradas muito à esquerda da tendência geral da nação, e inclusive dentro do próprio partido, em assuntos como a Guerra do Vietnã (1955-1975), a descriminalização da maconha e as ajudas às minorias.

Seu adversário, o então presidente republicano Richard Nixon, conseguiu a reeleição ao apresentá-lo como um "esquerdista" em uma nação onde esse termo, assim como o de "socialista", são impopulares e usados de maneira pejorativa entre os muitos que seguem os associando com o comunismo da antiga União Soviética.

Esta situação é a que temem neste ano os "aparelhos" de ambos os partidos. A disputa republicana está dominada por dois candidatos que rejeitam abertamente o establishment (grupo dominante) do partido: o controvertido magnata Donald Trump e o ultraconservador senador pelo Texas, Ted Cruz.

No lado democrata, que esperava, finalmente desta vez, uma plácida coroação de Hillary Clinton, emergiu com força Bernie Sanders, um senador "socialista" que se apresenta como o líder de uma "revolução política" e tem um discurso considerado esquerdista demais para ganhar eleições presidenciais nos EUA.

Mas em Iowa e New Hampshire são poucos milhares de ativistas os que decidem, longe dos escritórios dos partidos e, em algumas ocasiões, da opinião nacional.

Olhando por esse histórico, tudo pode acontecer: a ascensão de um candidato já descartado, o baque de um dos favoritos, ou o desempenho surpreendente de um aspirante de quem nunca se esperou nada.