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Iowa é um laboratório para o ativismo político hispânico

31/01/2016 00h06

Jairo Mejía.

Des Moines (EUA), 30 jan (EFE).- No estado de Iowa, que abre na segunda-feira a disputa das primárias para as eleições presidenciais dos Estados Unidos, os hispânicos estão tentando ampliar a voz de uma comunidade em crescimento, apesar de serem geralmente ignorados pelo circo político destes dias.

Com quase 90% de brancos, este estado do meio oeste, considerado essencial nas eleições presidenciais, se transformou em um laboratório político para todo aquele com ambições de chegar à Casa Branca, algo que põe os hispânicos em um dos melhores exames de prática de democracia americana.

O objetivo é que em um estado com dois milhões de eleitores registrados, 10.000 latinos com direito ao voto participem, muitos pela primeira vez, no complexo processo do caucus, assembleias populares participativas cuja mecânica pode ser estranha até para o mais experimentado em questões de participação política.

"Nos demos conta de que de 8.000 postos eleitos disponíveis no estado apenas 12 eram ocupados por latinos", explicou à Efe Omar Padilla, que fundou junto com Rob Barron o Latino Political Network (LPN), uma organização dedicada a ensinar a futuros líderes hispânicos como organizar uma campanha a partir do zero.

"Falta ainda organização, que os latinos se aglutinem e se mobilizem para que sejamos levados mais em conta", explicou à Efe José Zacarías, ex-vereador hispânico de West Liberty, a primeira cidade de Iowa que passou a ter maioria de população hispana.

A história de Zacarías, que nesta segunda-feira vai "fazer caucus" a favor do pré-candidato democrata Bernie Sanders, é similar à de muitos outros hispânicos que chegam nas planícies do estado entre os rios Mississipi e Missouri.

Chegou em 1984 a West Liberty atraído pelo emprego em uma fábrica de processamento de carne que desde 1930 tinha sido um ímã para latino-americanos, muitos dos quais se transformaram geração após geração em americanos de pleno direito.

"O mapa de fábricas de processamento de carne em Iowa é o mapa da concentração hispana. Estamos conseguindo que esses latinos tenham voz", acrescentou Padilla, assegurando que a participação política este ano é mais alta do que nunca.

Mas hoje os hispânicos só representam 5,7%, muitos dos quais estão ainda sem capacidade de voto ou inativos politicamente, por isso que são ignorados na maioria dos casos pelos inumeráveis eventos de campanha que estão organizando há meses nos 28 condados do estado.

"Se não fosse pela chegada de imigrantes, este estado não cresceria ao mesmo nível pela falta de mão de obra e a população envelheceria e se reduziria", disse Dave Swenson, professor de economia da Universidade Iowa State.

Isso faz com que Iowa, como outras partes do país que tinham se mantido isoladas do influxo imigrante, esteja nas primeiras fases na construção da voz política latina.

A Liga de Cidadãos Latino-Americanos (Lulac) organizou uma dúzia de caucus fictícios em todo o estado para que muitos hispânicos participem do caos ordenado que será o caucus da segunda-feira.

O objetivo é que na segunda-feira às 7 da tarde participem das assembleias populares no apelidado em círculos políticos como "primeiro estado do país (First in the Nation)", cerca de 10 mil hispânicos, de um total de participantes que rondaria os 359 mil.

O entusiasmo hispânico, que se concentra nos democratas Hillary Clinton e Bernie Sanders, contagiou o colombiano Juan Óscar Rodríguez, que em sua emissora de rádio intercala música do norte ou salsa com programas para encorajar e educar os hispânicos nos pormenores da participação política em Iowa.

"Iowa pode ser pouco diverso, mas é o 'primeiro do país' porque este é um laboratório da política, é uma mostra para a nação inteira e será o exemplo de como os latinos avançam nos EUA", destacou Padilla.