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Nyumbani, a cidade dos mil órfãos no Quênia

27/02/2016 10h01

Xavi Fernández de Castro.

Kitui (Quênia), 27 fev (EFE).- À primeira vista, Nyumbani Village parece uma cidade como outra qualquer: casas, ruas e plantações, mas sua demografia é incomum. Lá vivem mil crianças e uma centena de avôs e avós, todos atingidos pela tragédia da aids.

Uns perderam os pais e outros ficaram sem os filhos, em alguns casos na mesma família. Agora vivem juntos em uma aldeia sustentável criada há dez anos pela ONG Children of God Relief Fund em Kitui, no centro do país.

"Todos passaram por situações terríveis e muitos foram maltratados, não tanto pela doença, já que só 81 crianças estão infectadas, mas por sua condição de órfãos ou por terem perdido a segurança econômica que os filhos proporcionavam", declarou à Agência Efe o diretor da Nyumbani, Raphael Nganga.

O local conta com duas escolas, um centro politécnico, uma modesta clínica e vários poços d'água. Tudo gira em torno de uma premissa: ser o mais autossuficiente possível para reduzir custos e se integrar.

As crianças vivem em grupos de dez para cada avó - na realidade são 93 avós e seis avôs, que só tem laços de sangue com alguns deles, mas que cuidam de todos como se fossem seus. É importante que se sintam parte de uma família e, ao mesmo tempo, mantenham os valores de sua comunidade.

Cada uma das casas, agrupadas de quatro em quatro, dispõe de uma pequena parcela de terra na qual os avós cultivam milho, legumes e alguns vegetais com a ajuda das crianças, como fariam se não estivessem em Nyumbani. Há algumas semanas, a eletricidade chegou a esses imóveis.

Antes, quando os netos adotivos de Agnès Kilawa voltavam para casa, após um longo dia na escola, já quase de noite, uma lâmpada de querosene era tudo o que tinham para iluminar a pequena sala onde fazem os deveres e jantam, mas a chegada da energia solar mudou tudo.

A iniciativa "Luz nos lares", promovida pela organização Amigos de Nyumbani e projetada e executada pelo Energia Sem Fronteiras, permitiu instalar painéis solares que fornecem eletricidade às 161 casas da Nyumbani Village.

"Antes, estávamos quase às escuras. Não tínhamos lâmpada na sala. A energia solar nos dá luz em todos os quarto e é muito diferente para as crianças", comentou Agnès, que conta que também se beneficia disso para cozinhar e fazer cestos de vime, que depois vende para conseguir um dinheiro extra.

Angie de Hoyos, que trabalha no departamento de serviço social da aldeia, lembra como "algumas crianças se levantavam às 3h ou 4h da manhã para chegar cedo ao colégio e fazer os deveres", já que as escolas dispunham de eletricidade graças a um projeto anterior também promovido pelo Energia Sem Fronteiras.

Além disso, a mudança para a energia solar economiza mais de 20 mil xelins mensais (R$ 780) para a organização, só por não ter de comprar querosene para as lâmpadas, e evita que as crianças inalem os gases do combustível; vantagem dupla.

Como todas as iniciativas em Nyumbani, o centro politécnico procura contribuir para a autossuficiência da cidade e oferece cursos profissionalizantes - eletricidade, carpintaria e, claro, energia solar - tanto às crianças da vila quanto às das comunidades vizinhas.

De fato, na vida cotidiana eles tentam ter muito contato com as aldeias próximas - as escolas são públicas, os excedentes agrícolas comercializados e os produtos que não podem se produzidos, como o açúcar e o arroz, são comprados - e assim Nyumbani está se transformando, quase sem querer, em uma cidade como outra qualquer. EFE

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