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Nova cessar-fogo entrará em vigor em 2 áreas da Síria, mas sem incluir Aleppo

29/04/2016 16h17

Susana Samhan.

Beirute, 29 abr (EFE).- Uma nova trégua, estipulada por Rússia e Estados Unidos, entrará em vigor à 0h de sábado na província de Latakia e nos arredores de Damasco, em uma tentativa de reduzir a violência na Síria, apesar de a cidade Aleppo, o palco mais intenso de conflitos nos últimos dias, não estar incluída na trégua.

O Comando Supremo das Forças Armadas da Síria se comprometeu a diminuir suas atividades em Ghouta Oriental, na periferia da capital, e no norte de Latakia, no litoral mediterrâneo. E anunciou que começará a aplicar "um sistema de apaziguamento", como chamou em comunicado, para acabar com "os pretextos de alguns grupos armados terroristas para atacar civis".

A medida será implementada em Ghouta Oriental, principal reduto da oposição nos arredores da capital da Síria, durante 24 horas, e no norte de Latakia, durante 72 horas. A nota detalha que as Forças Armadas tomaram essa decisão para proteger o cessar-fogo vigente em todo o país desde o último dia 27 de fevereiro.

A trégua, que foi aceita pelo regime de Bashar al Assad e pela Comissão Suprema para as Negociações (CSN) - principal aliança armada da oposição -, conseguiu diminuir as hostilidades nas primeiras semanas, mas elas voltaram a se intensificar nos últimos dias, especialmente em Aleppo.

Para o porta-voz da CSN, Riad Agha, a renovação do cessar-fogo em Latakia e Ghouta Oriental não representa uma mudança em relação ao acordo já estabelecido em fevereiro.

"Nós seguimos cumprindo com a trégua e pedimos que o regime, a Rússia e o Irã retornem a ela, deixando de cometer violações", indicou Agha em entrevista à Agência Efe.

A CSN adiou na semana passada sua participação no diálogo indireto com uma delegação governamental em Genebra, mediada pela ONU, devido ao aumento das hostilidades, à falta de acesso humanitário e à não libertação de presos pelo regime.

O porta-voz do grupo exigiu que Al-Assad comece a aplicar medidas para resolver esses assuntos e retornar à mesa de negociação.

Nas horas anteriores à renovação da trégua no norte de Latakia e em Ghouta Oriental, poucos incidentes foram registrados. No entanto, os bombardeios e os tiroteios seguem ocorrendo em Aleppo.

Pelo menos 11 pessoas morreram pelos ataques aéreos nos distrios de Al Mogair e Bab Neirab, ambos em Aleppo. Elas se somam às outras 13 que não resistiram ao impacto de projéteis lançados por facções islâmicas na região de Bab al Furch, dominada pelo regime, de acordo com o Observatório Sírio de Direitos Humanos.

Desta forma, subiu para 226 o número de civis mortos em Aleppo desde a última sexta-feira, de acordo com a ONG.

Hoje, instalações médicas da cidade voltaram a ser alvo dos bombardeios, causando um número indeterminado de mortos e feridos.

O porta-voz da Defesa Civil em Aleppo, Khaled Khatib, explicou à Efe que uma clínica, situada no bairro de Al Marya, ficou sem ficou fora de serviço por um ataque aéreo, enquanto o centro médico do distrito de Bustan al Qasr, foi atingido por quatro barris de explosivos lançados por helicópteros militares.

Na quarta-feira, pelo menos 50 pessoas morreram após um bombardeio contra o hospital de Al Quds, no bairro de Al Sukari em Aleppo, segundo o último número divulgado hoje pela organização Médicos Sem Fronteiras (MSF), que oferecia apoio à unidade de saúde.

Os EUA acusaram o regime de Al-Assad de estar por trás do ataque, algo que foi negado pelas Forças Armadas da Síria.

Os bombardeios contra hospitais e clínicas debilitaram ainda mais as já precárias condições médicas em Aleppo. O cirurgião Rami Kalazi, que trabalha em uma das unidades de saúde da região, disse à Efe que não só faltam remédios, mas também equipamentos, médicos e funcionários especializados.

"Aqui restam cinco hospitais que funcionam e cinco clínicas. Os hospitais são grandes, mas em relação ao volume de pessoas que atendem, são pequenos. O maior é o do bairro de Al Sajur e apenas quatro salas de operação funcionam", explicou o cirurgião.

Diante dos bombardeios, eles pouco podem fazer para se proteger. "Pela falta de recursos, não podemos habilitar salas subterrâneas para nos proteger", indicou.

Após o ataque da quarta-feira ao hospital Al Quds, o enviado especial da ONU para a Síria, Staffan de Mistura, pediu que Rússia e EUA intervenham para apoiar o frágil cessar-fogo.