Voto dos indecisos não deve mudar complicada situação do parlamento espanhol
Fernando Pajares.
Madri, 24 jun (EFE).- Após uma campanha muito polarizada, o voto dos indecisos não parece ser capaz de mudar o resultado das eleições de domingo na Espanha, das quais previsivelmente sairá um parlamento tão complicado quanto o atual.
Os espanhóis foram às urnas pela última vez em 20 de dezembro de 2015. Seis meses depois voltam a votar porque os dirigentes políticos dos quatro principais partidos não alcançaram uma maioria suficiente para escolher o presidente de governo.
Dois relevantes sociólogos consultados pela Agência Efe concordam, primeiro, em limitar o número de indecisos a 3% da população com direito a voto e, segundo, em que sua influência será muito pouco significativa para o resultado final.
Fermín Bouza, catedrático de Sociologia na Universidade Complutense de Madri e especialista em opinião pública, acredita que "nisto dos indecisos há um pouco de conto chinês. Trata-se, em sua imensa maioria, de gente que não vai votar; de não eleitores".
Este professor considera que os indecisos "não são mais de 3%" (pouco mais de um milhão entre 36,5 milhões de cidadãos com direito a voto) e aponta que muitos ocultam sua preferência pelo chamado "voto da vergonha".
Com isso se refere às pessoas que, tendo decidido em quem votar - majoritariamente no Partido Popular (PP, centro-direita) ou no PSOE (socialista), segundo estima -, optam por não identificar-se, "sobretudo em sua cidade, bairro ou pequena comunidade, onde todos se conhecem".
"Fazem isso pela possível imagem ruim dos partidos tradicionais; os casos de corrupção que afetam o PP e, em menor medida, o PSOE... Esses são os que se refugiam no famoso 'não sabe/não quer opinar' das pesquisas", comentou.
Bouza acredita que a campanha e o debate eleitoral realizado entre os quatro principais dirigentes no dia 13 de junho pode ter influenciado cerca de 5% dos eleitores, "quase sempre em direção ao PP e ao Podemos (esquerda)", as forças da polarização.
Por sua vez, a responsável de pesquisa do instituto GAD3 de Madri, Sara Morais, aumenta em até três milhões o número de indecisos, apesar de acreditar que seu voto se repartirá "entre legendas que tem, mais ou menos, o mesmo eixo ideológico".
Morais entende que "está havendo mais indecisão entre os eleitores do PSOE e do Ciudadanos (liberal)" e acredita que há uma certa percepção de que os votos a estes partidos "não são úteis" em uma campanha tão polarizada.
As pesquisas eleitorais já estão proibidas, razão pela qual, se não houver mudanças significativas nos últimos dias de campanha, o panorama previsto até aqui mudará pouco em relação aos últimos pleitos.
Embora os dados das pesquisas mudem consideravelmente, todas indicam que o PP, com o presidente de governo interino, Mariano Rajoy, à frante, será a força mais votada, embora deva perder algumas de suas 123 cadeiras atuais.
A coalizão Unidos Podemos (com a inclusão dos comunistas), liderada por Pablo Iglesias, ficará em segundo após somar entre 10 e 15 deputados a seus 69 atuais.
O PSOE, dirigido por Pedro Sánchez, passaria, pela primeira vez desde a recuperação democrática na Espanha (1977), ao terceiro lugar - também perdendo algumas de suas atuais 90 cadeiras -, enquanto o Ciudadanos de Albert Rivera manteria sua quarta posição com, mais ou menos, 40 representantes no Congresso.
Vários outros partidos, entre eles os nacionalistas e os separatistas, somariam o resto até completar as 350 cadeiras da câmara.
Se estes resultados se confirmarem, o PSOE passaria a perder a hegemonia da esquerda espanhola e seu líder deixaria de ser o chefe da oposição.
Um veterano desta legenda que preferiu não se identificar disse à Agência Efe que ver Iglesias, o líder do Podemos, sentado na cadeira ocupada pelo histórico Felipe González antes de ser presidente de governo "pode ser muito, muito duro para os socialistas".
No que se refere à participação, apesar da tão alardeada "saturação" que muitos analistas atribuem ao eleitor espanhol, quase 70% dos cidadãos comparecerá às urnas; apenas três pontos percentuais a menos que no pleito de seis meses atrás.
Segundo Sara Morais, há um dado muito revelador a esse respeito: já votaram por correio nada menos que 1.450.000 pessoas, quando na semana prévia do pleito do 20 de dezembro apenas 780.000 haviam feito o mesmo.
Com este panorama, parece que um bom número de espanhóis irá às urnas neste domingo para deixar um parlamento muito complexo nas mãos de políticos que, desta vez sim, precisarão formar um governo. EFE
fp/rsd
Madri, 24 jun (EFE).- Após uma campanha muito polarizada, o voto dos indecisos não parece ser capaz de mudar o resultado das eleições de domingo na Espanha, das quais previsivelmente sairá um parlamento tão complicado quanto o atual.
Os espanhóis foram às urnas pela última vez em 20 de dezembro de 2015. Seis meses depois voltam a votar porque os dirigentes políticos dos quatro principais partidos não alcançaram uma maioria suficiente para escolher o presidente de governo.
Dois relevantes sociólogos consultados pela Agência Efe concordam, primeiro, em limitar o número de indecisos a 3% da população com direito a voto e, segundo, em que sua influência será muito pouco significativa para o resultado final.
Fermín Bouza, catedrático de Sociologia na Universidade Complutense de Madri e especialista em opinião pública, acredita que "nisto dos indecisos há um pouco de conto chinês. Trata-se, em sua imensa maioria, de gente que não vai votar; de não eleitores".
Este professor considera que os indecisos "não são mais de 3%" (pouco mais de um milhão entre 36,5 milhões de cidadãos com direito a voto) e aponta que muitos ocultam sua preferência pelo chamado "voto da vergonha".
Com isso se refere às pessoas que, tendo decidido em quem votar - majoritariamente no Partido Popular (PP, centro-direita) ou no PSOE (socialista), segundo estima -, optam por não identificar-se, "sobretudo em sua cidade, bairro ou pequena comunidade, onde todos se conhecem".
"Fazem isso pela possível imagem ruim dos partidos tradicionais; os casos de corrupção que afetam o PP e, em menor medida, o PSOE... Esses são os que se refugiam no famoso 'não sabe/não quer opinar' das pesquisas", comentou.
Bouza acredita que a campanha e o debate eleitoral realizado entre os quatro principais dirigentes no dia 13 de junho pode ter influenciado cerca de 5% dos eleitores, "quase sempre em direção ao PP e ao Podemos (esquerda)", as forças da polarização.
Por sua vez, a responsável de pesquisa do instituto GAD3 de Madri, Sara Morais, aumenta em até três milhões o número de indecisos, apesar de acreditar que seu voto se repartirá "entre legendas que tem, mais ou menos, o mesmo eixo ideológico".
Morais entende que "está havendo mais indecisão entre os eleitores do PSOE e do Ciudadanos (liberal)" e acredita que há uma certa percepção de que os votos a estes partidos "não são úteis" em uma campanha tão polarizada.
As pesquisas eleitorais já estão proibidas, razão pela qual, se não houver mudanças significativas nos últimos dias de campanha, o panorama previsto até aqui mudará pouco em relação aos últimos pleitos.
Embora os dados das pesquisas mudem consideravelmente, todas indicam que o PP, com o presidente de governo interino, Mariano Rajoy, à frante, será a força mais votada, embora deva perder algumas de suas 123 cadeiras atuais.
A coalizão Unidos Podemos (com a inclusão dos comunistas), liderada por Pablo Iglesias, ficará em segundo após somar entre 10 e 15 deputados a seus 69 atuais.
O PSOE, dirigido por Pedro Sánchez, passaria, pela primeira vez desde a recuperação democrática na Espanha (1977), ao terceiro lugar - também perdendo algumas de suas atuais 90 cadeiras -, enquanto o Ciudadanos de Albert Rivera manteria sua quarta posição com, mais ou menos, 40 representantes no Congresso.
Vários outros partidos, entre eles os nacionalistas e os separatistas, somariam o resto até completar as 350 cadeiras da câmara.
Se estes resultados se confirmarem, o PSOE passaria a perder a hegemonia da esquerda espanhola e seu líder deixaria de ser o chefe da oposição.
Um veterano desta legenda que preferiu não se identificar disse à Agência Efe que ver Iglesias, o líder do Podemos, sentado na cadeira ocupada pelo histórico Felipe González antes de ser presidente de governo "pode ser muito, muito duro para os socialistas".
No que se refere à participação, apesar da tão alardeada "saturação" que muitos analistas atribuem ao eleitor espanhol, quase 70% dos cidadãos comparecerá às urnas; apenas três pontos percentuais a menos que no pleito de seis meses atrás.
Segundo Sara Morais, há um dado muito revelador a esse respeito: já votaram por correio nada menos que 1.450.000 pessoas, quando na semana prévia do pleito do 20 de dezembro apenas 780.000 haviam feito o mesmo.
Com este panorama, parece que um bom número de espanhóis irá às urnas neste domingo para deixar um parlamento muito complexo nas mãos de políticos que, desta vez sim, precisarão formar um governo. EFE
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