Topo

Shimon Peres acredita que a paz chegará através das novas gerações

30/06/2016 10h15

Elías L. Benarroch.

Tel Aviv, 30 jun (EFE).- O ex-presidente de Israel Shimon Peres, um otimista inabalável e defensor incansável do diálogo, acredita que a paz entre israelenses e palestinos é "inevitável" e que os governos atuais não são "eternos" para impedir sua realização.

Por trás de sua avaliação da situação - que a priori contrasta com os eventos dos últimos anos em todo o Oriente Médio -, estão mais de 70 anos de experiência nas altas esferas da política israelense e da diplomacia internacional, e como ele mesmo reconhece, o vício de "sonhar".

"Dizem que os judeus e os árabes não podem fazer a paz, mas demonstramos que isso não é correto. Fizemos a paz com o Egito, o maior país do mundo árabe, uma paz que segue até os dias de hoje. Também fizemos com a Jordânia e ela está aí. (E) começamos a fazê-la com os palestinos", comentou o político nonagenário.

No salão de sua nova casa na divisa entre Tel Aviv e a cidade de Herzliya, a uns 200 metros da praia, Peres esclareceu em entrevista para a Agência Efe a essência de sua filosofia política, que se resume ao fato de que "a História é otimista" e, portanto, não vale a pena olhar demais para trás porque "o passado não tem futuro".

"A visão do 'Novo Oriente Médio' (que ele mesmo cunhou nos anos 1990 após a assinatura dos acordos de paz de Oslo) é a de uma região que viva da ciência e não da guerra, que possa se manter do que ela própria produz, e não do que destrói, e há meios para conseguir as duas coisas", explicou o veterano político.

Peres especificou que a solução para os problemas políticos não está na ambição pela vitória no campo de batalha, porque "não há vitória se a guerra não termina em paz. Nem para eles, nem para nós".

Após sete vertiginosos anos como chefe de Estado, seu último cargo oficial que deixou em 2014, hoje, aos 93 anos, o incansável Peres segue trabalhando em novos projetos através do Centro da Paz que leva seu nome, fundado com o dinheiro que obteve do prêmio Nobel da Paz em 1994, que recebeu junto aos já falecidos Yitzhak Rabin e Yasser Arafat.

A convivência entre árabes e judeus através de projetos sociais, através da compreensão mútua entre jovens esportistas, da tecnologia, e qualquer outra iniciativa que impulsione o diálogo e o progresso em escala regional cabe em sua filosofia de vida.

"Nós temos interesse em um mundo árabe avançado, para o seu bem e o nosso, e também pelo da paz", disse Peres ao oferecer a cooperação tecnológica israelense como ponte de reconciliação, uma via que Israel impulsiona há anos, mas que não conseguiu realmente uma mudança substancial.

Por isso, o ex-presidente israelense apela aos líderes de seu país para que olhem para as novas gerações, para os 60% de população no mundo árabe que têm menos de 25 anos e que necessitam de uma educação apropriada para "ressurgir".

"Esse deve ser o nosso público, temos que ajudá-los, (devemos passar) do velho período para um novo", indicou.

Além disso, Peres lembrou que apesar das turbulentas consequências das Primaveras Árabes, em alguns desses países houve mudanças muito positivas, como a participação ativa das mulheres tunisianas na mudança política e a saída de universitários às ruas do Cairo, no Egito.

Para Shimon Peres, trata-se de uma "aposta por um mundo novo", o que deve "levar ainda algum tempo" porque são processos que "não ocorrem de repente".

Sentado em frente às estantes que contam com uma biblioteca que inclui títulos dos mais renomados autores e personagens internacionais, e com as incontáveis lembranças de uma atividade pública que começou lá pela década de 1940, faz tempo que o também ex-primeiro-ministro (1984-1986 e 1995-1996) não se manifesta publicamente sobre as questões políticas mais polêmicas de seu país.

A guinada em direção à direita na política local, já que o trabalhismo não forma um governo em Israel desde 2001, e a aspiração de certos círculos nacionalistas de um único estado como solução para o conflito palestino-israelense, parecem ser um fenômeno efêmero para quem foi testemunha direta do processo de consolidação nacional de Israel.

Ao ser perguntado pela Efe se a paz é possível sob a direção da coalizão mais nacionalista da história política do país, Peres evitou uma resposta clara, talvez porque a chama do estadista ainda não tenha se apagado.

Mas concluiu em um tom otimista de crítica: "Eu não disse que o atual governo será eterno".