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Vítimas de Auschwitz e associações judaicas se unem ao papa contra o ódio

29/07/2016 10h37

Nacho Temiño.

Cracóvia, 29 jul (EFE).- Sobreviventes do campo de concentração nazista de Auschwitz-Birkenau e organizações judaicas aplaudiram nesta sexta-feira a visita do papa Francisco à "antiga fábrica da morte" erguida pelo regime de Adolf Hitler em solo polonês e destacaram a necessidade de lutar contra o ódio e a intolerância.

"Passei muita dor aqui e não quero que volte a acontecer nada como o que vivi", disse Walentyna Nikodemo, integrante do grupo de ex-prisioneiros poloneses, judeus e ciganos que se encontraram hoje com o pontífice no pátio do Bloco 11, o chamado o Bloco da Morte, deste imenso cemitério.

Os sobreviventes, segundo a imprensa que acompanhou à visita, pediram a Francisco que "reze pela paz e para que essa tragédia nunca se repita".

O alemão Peter Rauch, cigano que perdeu 38 membros de sua família em Auschwitz, foi outro dos ex-prisioneiros que conseguiram se encontrar com o papa, a quem pediu para trabalhar "para acabar com o preconceito no mundo".

"Existem pessoas que ainda nos tratam como estranhos e acho que nem o Santo Padre pode mudar isso, mas gostaria que ele tentasse", explicou.

As organizações judaicas também elogiaram a visita do pontífice ao antigo campo de concentração e o World Jewish Congress (WJC), o Congresso Mundial dos Judeus, destacou este gesto como "um claro sinal" contra o ódio e um apoio "inequívoco" do máximo líder da Igreja Católica, "um dos aliados mais próximos do povo judeu hoje na luta contra o anti-semitismo e a intolerância".

O presidente do WJC, Ronald Lauder, qualificou de "histórica" a visita de Francisco "ao maior cemitério judeu do mundo".

Em declarações à Agência Efe, o historiador polonês Mateusz Szpytma, diretor do Museum of Poles Saving Jews (PAP), dedicado aos poloneses que salvaram judeus durante a Segunda Guerra Mundial, falou sobre a importância de lembrar que em Auschwitz não foram perdidas somente vidas de judeus, mas também vítimas das mais diversas nacionalidades, entre elas muitos poloneses, incluindo religiosos católicos.

Durante sua caminhada silenciosa por Auschwitz, Francisco se dedicou a conhecer as histórias de quem ajudou os judeus e que foram reconhecidos por isso como "Justos das Nações" pelo Yad Vashem, o Museu da Memória do Holocausto, em Israel. Para Szpytma, a visita de Francisco é também relevante para a Polônia porque representa um reconhecimento aos compatriotas que arriscaram suas vidas para salvar judeus da perseguição nazista.

"A Polônia é o país que mais Justos entre as Nações tem (6.532), já muitos poloneses que, apesar do risco de morrer, salvaram muitos judeus ou tentaram fazê-lo, como é o caso da família Ulma", explicou à Efe.

Szpytma conta que nessa família seus oito membros foram assassinados pelos nazistas em 1944 por tentar ajudar um grupo de judeus. A mãe, Wiktoria, estava grávida de sete meses quando recebeu um tiro na nuca e seu corpo foi queimado para eliminar as evidências do crime, junto com o de seu marido, Józef, e o restante da família.

"É o primeiro museu da Polônia que lembra estes poloneses que ajudaram judeus durante a Segunda Guerra Mundial", afirmou Szpytma, destacando que, graças a essas pessoas, de 30 mil a 40 mil poloneses judeus conseguiram escapar da perseguição nazista.

Hoje também esteve em Auschwitz-Bierkenau o padre Stalisnaw Ruszala, de Markowa, representando à família Ulma. O casal Wiktoria e Józef está no final do processo de beatificação.