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Exilados não creem em mudanças em Cuba, 10 anos depois da saída de Fidel

Aos 89 anos, após ter deixado o poder, Fidel fez poucas aparições em público e, de vez em quando, escreve alguma ""reflexão"" na imprensa oficia - Reprodução/rol-benzaken
Aos 89 anos, após ter deixado o poder, Fidel fez poucas aparições em público e, de vez em quando, escreve alguma ''reflexão'' na imprensa oficia Imagem: Reprodução/rol-benzaken

Ana Mengotti

31/07/2016 06h27

Dez anos depois de Fidel Castro ter deixado o poder, exilados cubanos dizem que não houve mudanças relevantes no país, apesar de a esperança de uma transição rumo à democracia surgida no histórico dia 31 de julho de 2006.

"Os cemitérios de Miami estão cheios de pessoas que comemoraram com garrafas de champagne a saída ou as 'mortes' de Fidel Castro", disse à Agência Efe, com lágrimas nos olhos, Eduardo, um cubano que vive há mais de 30 anos como exilado nos Estados Unidos.

Eduardo concedeu entrevista em frente ao café Versailes, onde no dia 31 de julho de 2006, depois de o governo de Cuba ter anunciado oficialmente que o líder da Revolução passava o poder para o seu irmão, Raúl Castro, devido a uma grave doença, um grupo de pessoas comemorou o que podia ser o fim da "ditadura castrista", como classificaram o fato na época os jornalistas.

Alguns disseram que, se o governo anunciava que Castro estava doente, na realidade, é que teria morrido. Outros analistas previam que a saída do líder seria o início de uma transição para a democracia.

Não menos errado estava quem há dez anos colou perto do Versailles um cartaz com um desenho de Hugo Chávez e, ao seu lado, as palavras "Viúvo de Fidel". Quem acabou morrendo, em 2013, foi o presidente venezuelano, deixando líder cubano seu "companheiro ideológico". Aos 89 anos, após ter deixado o poder, Fidel fez poucas aparições em público e, de vez em quando, escreve alguma "reflexão" na imprensa oficial.

Os manifestantes de dez anos atrás aparecem nas fotos agitando bandeiras de Cuba, com brilho no olhar e um sorriço esperançoso. Em 2016, as organizações políticas e cidadãos cubano-americanos afirmaram à Efe que já descartam uma possibilidade de abertura do regime, mas acreditam que o povo da ilha impulsionará uma mudança.

Para María Elana Alzipar, porta-voz das Damas de Branco nos EUA, a nova geração "menos doutrinada" e empoderada pela tecnologia - o que permite o conhecimento do que ocorre fora de Cuba e dá capacidade de organização por meio das redes sociais - é a única capaz de propiciar o fim do "castrismo".

Segundo ela, o regime está "se coordenando" para não ceder terreno e para passar o bastão para outro Castro, possivelmente Alejandro Castro Espín, assim que seu pai, Raúl, deixar o poder.

Orlando Gutiérrez, líder do Diretório Democrático Cubano, está otimista, apesar de reconhecer que nos últimos dez anos não houve "mudanças substanciais" de parte do governo e de denunciar que a "perseguição e o assédio" aos opositores continua.

"O futuro pertence à democracia, a resistência, sim, se movimentou e cresceu. Não há sinais de que os opositores dentro e fora de Cuba estejam cansados de lutar", afirmou Gutiérrez, convencido de que os cubanos, sobretudo os mais jovens, vão sim se cansar de viver como vivem e "explodir".

O líder do Diretório Democrático Cubano nem sequer considera que o fato de Cuba e os EUA terem normalizado suas relações signifique um avanço para a causa da liberdade. E, como outros exilados, ele também pensa que Fidel segue tendo a "última palavra" no país.

"O degelo com os EUA ficou na superfície. Longe de ajudar a uma mudança, prolongou um pouco mais a vida do regime", avaliou.

Um opositor interno, Ivan Hernández Carrillo, sindicalista independente condenado a 2003 a 25 anos de prisão por "periculosidade social", apesar de ter sido libertado oito anos depois beneficiado por uma "licença extra penal", avalou que em Cuba não há "melhoras políticas, econômicas ou de direitos humanos".

"Não podemos esperar nada a curto prazo do governo, nem de fora de Cuba. Somos nós quem devemos projetar uma mudança", disse.

O dissidente e ex-preso político cubano José Daniel Ferrer, líder da União Patriótica de Cuba, de visita a Miami como Hernández Carillo, concorda que a mudança não vai ocorrer em breve e que, em todo caso, será impulsionado pelo povo quando os Castro já não estiverem no poder.

Ferrer também acredita que o governo de Raúl Castro assinou o acordo com os EUA não por vontade real de mudança, mas para "ganhar negócios e tempo". Além disso, destacou que, ao mesmo tempo, para reduzir a pressão interna, segue encorajando a saída de cubanos insatisfeitos com a situação no país para o exterior.