EUA revelam documento da CIA que diz que Pinochet ordenou morte de opositor em Washington
Os Estados Unidos publicaram nesta sexta-feira (23) o documento da CIA que diz que o ditador chileno Augusto Pinochet foi responsável por dar a ordem de matar o opositor Orlando Letelier em Washington há 40 anos.
O documento, de acesso público no site da biblioteca Ronald Reagan, faz parte do último pacote de arquivos desclassificados sobre o atentado contra Letelier que hoje o Departamento de Estado dos EUA entregou ao Chile por ocasião do 40º aniversário daquele que foi o primeiro ato terrorista cometido por um governo estrangeiro em Washington.
"Uma revisão de nossos arquivos sobre o assassinato de Letelier mostrou o que consideramos como provas convincentes de que o presidente Pinochet ordenou pessoalmente que seu chefe de inteligência realizasse o assassinato", diz a CIA em seu texto, datado de 1º de maio de 1987.
"Os arquivos também deixam claro que, quando a investigação das autoridades americanas determinou que integrantes do alto escalão de inteligência e do exército do Chile eram responsáveis, Pinochet decidiu obstruir o caso para esconder seu envolvimento e, em último caso, para proteger sua presidência", de acordo com o texto da CIA.
Este documento era o mais esperado no Chile porque prova que foi o próprio Pinochet quem deu a ordem de assassinar o ex-chanceler do governo Salvador Allende, que tinha se transformado no grande desafio de seu regime no exterior.
Em outubro de 2015, o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, visitou o Chile e entregou à presidente Michelle Bachelet um dispositivo de memória com documentos desclassificados sobre o caso. Entre eles havia um do final dos anos 1980, no qual o então secretário de Estado dos EUA, George Schultz, assegurava que havia um relatório da CIA com "informação convincente" de que Pinochet ordenou pessoalmente o assassinato de Letelier.
Hoje, os Estados Unidos publicaram esse documento da CIA ao qual se referia Schultz, confirmando o que muitos garantem que sempre souberam: que a ordem de matar Letelier partiu do próprio ditador.
Em entrevista à imprensa antes que viesse à tona a revelação do documento da CIA, Bachelet disse que não conhecia o conteúdo dos documentos, mas que estava convencida que os mesmos contêm a prova de quem deu a ordem para assassinar Letelier.
"Não sabemos ainda, mas vamos poder estudá-lo e, sem dúvida, acredito que estes documentos vão demonstrar com clareza quem deu a ordem para assassinar Letelier", afirmou a presidente.
Ao ser perguntado sobre os novos documentos divulgados, Juan Pablo Letelier, um dos quatro filhos do diplomata e senador do Partido Socialista do Chile, disse que "os documentos entregues são muito importantes e confirmam fatos, nomes, e que Pinochet foi quem deu a ordem para cometer este ato de terrorismo de Estado".
"Queremos agradecer este gesto do governo de Barack Obama e esperamos que sirva para conseguir justiça", acrescentou Juan Pablo, em declarações aos jornalistas antes do início da cerimônia de comemoração na Sheridan Circle, onde aconteceu o atentado.
O senador espera que a revelação do documento da CIA sirva para que o agente americano Michael Townley, o autor material do atentado, seja extraditado ao Chile, assim como o oficial do exército chileno Armando Fernández Larios, encarregado da logística.
Os dois foram amparados pelo programa de proteção a testemunhas dos Estados Unidos, por terem colaborado com a Justiça.
O embaixador do Chile nos Estados Unidos, Juan Gabriel Valdés, garantiu em uma conversa com os jornalistas que a Suprema Corte do Chile seguirá pedindo a extradição de Fernández Larios, com o argumento de que o mesmo tem envolvimento em outros dois casos além do assassinato de Letelier.
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