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América Latina deixa Celac nas mãos do eixo bolivariano

25/01/2017 16h26

Alejandro Varela.

Bávaro (R.Dominicana), 25 jan (EFE).- A 5ª Cúpula de chefes de Estado e de governo da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) começou nesta quarta-feira transformada em uma virtual reunião de governantes do eixo bolivariano na cidade de Punta Cana, na República Dominicana.

Os presidentes da Venezuela, Nicolás Maduro; do Equador, Rafael Correa; da Bolívia, Evo Morales; de Cuba, Raúl Castro; da Nicarágua, Daniel Ortega; de El Salvador, Salvador Sánchez Cerén; e da República Dominicana, Danilo Medina, como anfitrião, são os únicos governantes latino-americanos presentes.

A estes nomes é preciso somar os dos governantes ou chanceleres caribenhos, a maioria integrantes da Aliança Bolivariana para as Américas (Alba), promovida pelo regime chavista, vigente na Venezuela.

A ausência anunciada em sequência por motivos de agenda interna da maioria dos presidentes latino-americanos parece mais que casual e encorajada pela insubstancial programação desta cúpula, que obscurece a Celac como o mecanismo regional de concertação política que pretende ser.

Além de Michel Temer, os presidentes latino-americanos ausentes são Mauricio Macri (Argentina), Pedro Pablo Kuczynski (Peru), Tabaré Vázquez (Uruguai), Horacio Cartes (Paraguai), Michelle Bachelet (Chile), Juan Manuel Santos (Colômbia), Enrique Peña Nieto (México), Juan Carlos Varela (Panamá), Luis Guillermo Solís (Costa Rica),Jimmy Morales (Guatemala) e Juan Orlando Hernández (Honduras).

A edição de Punta Cana se torna então a cúpula da Celac que, desde sua fundação em 2011, menos governantes conseguiu reunir; e alcança este recorde negativo em um momento de mudança política mundial e especial incerteza para a América Latina após a recente chegada de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos.

Os países latino-americanos parecem estar dispostos a iniciar cada um por seu lado a nova era política mundial inaugurada por Trump, tendo em vista o que aconteceu nesta cúpula da Celac.

Nestas circunstâncias não soou estranho que a Venezuela tenha se transformado, mais uma vez, em protagonista dos debates sobre a elaboração da declaração política a ser aprovada no final desta cúpula.

A minuta à qual a Agência Efe teve acesso, da chamada Declaração Política de Punta Cana, que será aprovada ao término desta cúpula, inclui de forma destacada um apoio ao diálogo em andamento na Venezuela e um pedido para que os EUA revertam as medidas adotadas contra o governo desse país.

Estes dois pontos foram assuntos de intensos debates e enfrentamentos, uma vez que muitos dos países da Celac, fundamentalmente aqueles cujos presidentes não estão presentes nesta cúpula, exigiram outra declaração explícita que inste o governo venezuelano a respeitar o Estado de Direito e o princípio democrático de divisão de poderes.

"Apoiamos o processo de diálogo nacional na República Bolivariana da Venezuela entre o governo e a oposição de dito país", afirma a mencionada minuta em seu terceiro ponto.

No mesmo ponto, a Celac acrescenta que esse diálogo deve desenvolver-se "com pleno apego ao Estado de Direito, aos direitos humanos e à institucionalidade democrática, especialmente à separação de poderes".

Mais adiante, os países latino-americanos e caribenhos pedem, e lembram que já fizeram o mesmo em outras declarações anteriores, que seja revertida a ordem executiva do ex-presidente Barack Obama que considera a Venezuela, com as conseguintes medidas contra este país, uma ameaça à segurança nacional dos EUA.

Quanto ao demais, a Declaração Política de Punta Cana tem muito poucos aspectos novos em relação aos documentos aprovados no final das cúpulas anteriores da Celac.

O documento chama a atenção pela falta de qualquer referência concreta ao novo cenário mundial e à posição da Celac após a chegada de Donald Trump à presidência dos EUA.

A minuta faz uma breve referência a sua oposição a criminalizar a migração irregular que pode ser entendida como resposta às ameaças de Trump a respeito.

No documento também não há uma referência à delicada situação enfrentada pelo México perante as posições adotadas pelo novo presidente americano.

A Celac se refere também de forma vaga a sua posição contra a corrupção sem mencionar o escândalo dos subornos da Odebrecht que afetou vários de seus países-membros.

No final das contas, o interesse desta cúpula se centrou no mencionado espetáculo de presidentes como Correa e Maduro em meio a uma agenda de atividades desordenada e de acesso muito restrito para os veículos de comunicação.