Coreógrafa monta espetáculo para narrar casamentos forçados no Camboja
Ricardo Pérez-Solero.
Phnom Penh, 29 jan (EFE).- Ao todo, 16 bailarinas exibem esta semana através da dança clássica cambojana o horror dos casamentos forçado2s durante o regime genocida do Khmer Vermelho (1975-1979), um tema tabu até bem pouco tempo no país.
No palco do teatro Chaktomuk, em Phnom Penh, os movimentos sutis fluem com o tradicional ritmo pausado da dança e aceleram para mostrar as violências física e sexual e a crueldade associada a estas uniões.
A diretora do espetáculo "Phka Sla", a coreógrafa Sophiline Cheam Shapiro, conta que foi movida a montar a peça porque o sofrimento dos cambojanos no Khmer Vermelho é o seu próprio sofrimento.
"Eu era uma menina. Tinha seis anos e minha família foi forçada a deixar a cidade e viver no campo. Como resultado, perdi meu pai, dois irmãos, uma avó, primos e tios. Perdi muitas pessoas da minha família nesse período", contou Sophiline à Agência Efe.
Em pouco mais de três anos e meio, 1,7 milhão de cambojanos morreram de fome ou enfraquecidos pelos trabalhos forçados, as execuções e as expulsões políticas, na busca de uma utopia agrária comunista.
Outros 500 mil foram obrigados a se casar em sóbrias cerimônias que duravam poucos minutos e compreendiam de dois a 100 casais. Homens e mulheres juravam lealdade ao regime, ao parceiro, e se comprometiam a ter filhos.
"Phka Sla" conta com a colaboração do tribunal internacional que julga a cúpula do Khmer Vermelho, a ONG Kdei Karuna, o centro audiovisual Bophana e a ONG de saúde mental Transcultural Psychosocial Organization (TPO).
De acordo com o coordenador do programa de compensação do tribunal internacional apoiado pela ONU, Dy Chhunsong, a obra é uma das ações da Justiça para tentar aliviar o dano causado às vítimas.
"Só a arte tem a habilidade de transmitir o sofrimento das vítimas para todo o mundo, e isso permite começar a cura", disse Dy Chhunsong ao jornal local "Khmer Times".
Durante o estreia de "Pkha Sla", no último dia 20, 150 membros da acusação civil foram ao espetáculo, que teve o apoio de uma unidade da TPO para prestar apoio psicológico caso fosse necessário.
"Meu marido morreu. Fui forçada a me casar com outro homem que eu não queria e fui muito infeliz", conta Po Dina, durante a apresentação.
Um documentário também está sendo feito para ajudar a disseminar a mensagem em nível nacional e o teatro exibiu depoimentos de pessoas que tiveram que se casar contra a própria vontade.
"Queremos fomentar a transformação da violência de gênero e a igualdade de gênero através de representações artísticas das lembranças e experiências compartilhadas sobre os casamentos forçados", explicou Sotheary Yim, coordenadora da ONG Kdei Karuna.
Mas, apesar de algumas uniões promovidas durante o Khmer Vermelho terem acabado em abusos sexuais, Sophiline também quis mostrar a outra face da moeda: os casamentos que deram certo e perduraram mesmo com o fim do regime.
"Alguns casais na minha aldeia foram forçados a casar, alguns são felizes, outros não. Quando vivi nos Estados Unidos, alguns alunos meus de dança eram filhos de pessoas que foram forçadas a se casar", declarou a coreógrafa cambojana.
Das 106 pessoas que formam a parte civil da acusação pelos casamentos forçados, aproximadamente a metade continuou casada depois e 75% teve filhos, segundo um relatório de 2014 da ONG TPO.
A acusação pelos casamentos forçados faz parte das acusações contra o considerado ideólogo do Khmer Vermelho, Nuon Chea, e o ex-chefe de Estado, Khieu Samphan, último membro vivo da cúpula do regime genocida.
Phnom Penh, 29 jan (EFE).- Ao todo, 16 bailarinas exibem esta semana através da dança clássica cambojana o horror dos casamentos forçado2s durante o regime genocida do Khmer Vermelho (1975-1979), um tema tabu até bem pouco tempo no país.
No palco do teatro Chaktomuk, em Phnom Penh, os movimentos sutis fluem com o tradicional ritmo pausado da dança e aceleram para mostrar as violências física e sexual e a crueldade associada a estas uniões.
A diretora do espetáculo "Phka Sla", a coreógrafa Sophiline Cheam Shapiro, conta que foi movida a montar a peça porque o sofrimento dos cambojanos no Khmer Vermelho é o seu próprio sofrimento.
"Eu era uma menina. Tinha seis anos e minha família foi forçada a deixar a cidade e viver no campo. Como resultado, perdi meu pai, dois irmãos, uma avó, primos e tios. Perdi muitas pessoas da minha família nesse período", contou Sophiline à Agência Efe.
Em pouco mais de três anos e meio, 1,7 milhão de cambojanos morreram de fome ou enfraquecidos pelos trabalhos forçados, as execuções e as expulsões políticas, na busca de uma utopia agrária comunista.
Outros 500 mil foram obrigados a se casar em sóbrias cerimônias que duravam poucos minutos e compreendiam de dois a 100 casais. Homens e mulheres juravam lealdade ao regime, ao parceiro, e se comprometiam a ter filhos.
"Phka Sla" conta com a colaboração do tribunal internacional que julga a cúpula do Khmer Vermelho, a ONG Kdei Karuna, o centro audiovisual Bophana e a ONG de saúde mental Transcultural Psychosocial Organization (TPO).
De acordo com o coordenador do programa de compensação do tribunal internacional apoiado pela ONU, Dy Chhunsong, a obra é uma das ações da Justiça para tentar aliviar o dano causado às vítimas.
"Só a arte tem a habilidade de transmitir o sofrimento das vítimas para todo o mundo, e isso permite começar a cura", disse Dy Chhunsong ao jornal local "Khmer Times".
Durante o estreia de "Pkha Sla", no último dia 20, 150 membros da acusação civil foram ao espetáculo, que teve o apoio de uma unidade da TPO para prestar apoio psicológico caso fosse necessário.
"Meu marido morreu. Fui forçada a me casar com outro homem que eu não queria e fui muito infeliz", conta Po Dina, durante a apresentação.
Um documentário também está sendo feito para ajudar a disseminar a mensagem em nível nacional e o teatro exibiu depoimentos de pessoas que tiveram que se casar contra a própria vontade.
"Queremos fomentar a transformação da violência de gênero e a igualdade de gênero através de representações artísticas das lembranças e experiências compartilhadas sobre os casamentos forçados", explicou Sotheary Yim, coordenadora da ONG Kdei Karuna.
Mas, apesar de algumas uniões promovidas durante o Khmer Vermelho terem acabado em abusos sexuais, Sophiline também quis mostrar a outra face da moeda: os casamentos que deram certo e perduraram mesmo com o fim do regime.
"Alguns casais na minha aldeia foram forçados a casar, alguns são felizes, outros não. Quando vivi nos Estados Unidos, alguns alunos meus de dança eram filhos de pessoas que foram forçadas a se casar", declarou a coreógrafa cambojana.
Das 106 pessoas que formam a parte civil da acusação pelos casamentos forçados, aproximadamente a metade continuou casada depois e 75% teve filhos, segundo um relatório de 2014 da ONG TPO.
A acusação pelos casamentos forçados faz parte das acusações contra o considerado ideólogo do Khmer Vermelho, Nuon Chea, e o ex-chefe de Estado, Khieu Samphan, último membro vivo da cúpula do regime genocida.
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