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Vitaly Churkin, o novo "senhor Não" da ONU

20/02/2017 17h40

Ignacio Ortega.

Moscou, 20 fev (EFE).- O embaixador russo perante a ONU, Vitaly Churkin, que morreu nesta segunda-feira aos 64 anos em Nova York, defendeu durante mais de uma década no Conselho de Segurança (2006-2017) a controversa política externa do Kremlin.

"Grande diplomata. Figura singular. Pessoa brilhante", disse Maria Zakharova, porta-voz da Chancelaria russa, para definir o enviado de Moscou perante a ONU.

Churkin chegou às Nações Unidas após o presidente russo, Vladimir Putin, falar abertamente contra a hegemonia ocidental na famosa Conferência de Segurança de Munique de 2007, o que marcou um momento de mudança nas relações entre Rússia e Estados Unidos.

Seu primeiro destino foi a embaixada da União Soviética em Washington (1979-1987), depois foi eleito porta-voz das Relações Exteriores durante os últimos anos da "perestroika" (1989-1991) e também foi embaixador no Chile.

Churkin foi vice-ministro das Relações Exteriores durante os três primeiros anos de Boris Yeltsin no Kremlin, quando trabalhou como representante especial nas conversações sobre a antiga Iugoslávia, e depois foi embaixador no Canadá e na Bélgica.

Uma vez nas Nações Unidas, o diplomata teve que trabalhar duro para justificar ações e medidas que lembravam os tempos da Guerra Fria.

Para isso, não hesitou em utilizar uma linguagem franca, direta e cheia de ironia para defender os contínuos vetos às resoluções ocidentais, e criticar os EUA por se intrometerem nos assuntos de outros países, como Líbia, Síria e Ucrânia.

Seus duelos com os representantes americanos, Susan Rice e Samantha Power - que o qualificou hoje como "mestre da diplomacia" - serão recordados por sua dureza, muito distante das tradicionais práticas da diplomacia.

Embora nunca tenha perdido o senso de humor, Churkin já foi comparado com o lendário ministro das Relações Exteriores soviético Andrei Gromiko, conhecido como "o senhor Niet" (o senhor Não).

"Vocês sabem que somos muito céticos em relação às sanções. Consideramos que historicamente não foram muito úteis", manifestou em uma ocasião.

Criado na União Soviética, Churkin desenhou junto ao ministro das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, uma política externa desafiante com Ocidente, contrária às intervenções humanitárias e que contou em muitos casos com o apoio da China e de países de terceiro mundo.

Seu primeiro grande desafio foi defender a operação militar russa na região separatista georgiana da Ossétia do Sul em agosto de 2008, a primeira invasão russa a um país estrangeiro desde o Afeganistão (1979).

Antes, se opôs ao reconhecimento da independência da região sérvia do Kosovo, advertindo que abriria a "caixa de Pandora" dos separatismos, tendo Moscou reconhecido a independência da Ossétia do Sul e da Abecásia meses depois.

A chegada ao Kremlin de Dmitri Medvedev facilitou sua tarefa, já que Rússia e EUA assinaram um novo tratado de desarmamento nuclear Start e inclusive Churkin, por ordem de seu novo presidente, se absteve na ONU em relação à criação de uma zona de exclusão aérea na Líbia.

Churkin acabaria lamentando publicamente essa decisão, já que o líder líbio, Muammar Kadhafi, foi brutalmente assassinado pelos rebeldes, o que prejudicou gravemente os interesses econômicos russos no país do norte da África.

Após a revolução ucraniana em 2014, o diplomata russo não deixou de acusar o Ocidente de orquestrar os protestos antigovernamentais e os violentos distúrbios que desencadearam a queda e a fuga do presidente Viktor Yanukovich.

Churkin levantou a ameaça ultranacionalista para defender a anexação russa da península da Crimeia e acusou as novas autoridades ucranianas de provocar com um golpe de Estado em Kiev.

Um de seus momentos mais complicados foi quando vetou os planos da ONU de criar um tribunal internacional para investigar a derrubada de um avião de passageiros no leste da Ucrânia, tragédia na qual morreram 298 pessoas.

Desde então, o diplomata negou várias vezes que a Rússia tenha desdobrado tropas nas regiões de Donetsk e Lugansk, e pediu que a Ucrânia reconhecesse um status especial para esses territórios.

Nos últimos anos, Churkin não hesitou em se opor a qualquer medida que pudesse provocar a queda do violento do líder sírio, Bashar al Assad, enquanto convocou o Ocidente para estabelecer uma ampla coalizão internacional contra o terrorismo jihadista.