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Coreia do Norte diz que morte de Kim Jong-nam é exemplo de "notícia falsa"

Homem vê noticiário na televisão sul-coreana sobre a morte de Kim Jong-nam - Jung Yeon-Je/ AFP
Homem vê noticiário na televisão sul-coreana sobre a morte de Kim Jong-nam Imagem: Jung Yeon-Je/ AFP

Rafael Molina

Em Madri

03/03/2017 12h32

A Coreia do Norte acredita que tudo o que cerca o suposto assassinato de Kim Jong-nam, o irmão do líder norte-coreano, em Kuala Lumpur, a capital da Malásia, é um claro exemplo de "fake news" (notícias falsas) divulgadas pelo governo sul-coreano para desviar a atenção de sua própria crise política.

Trata-se de "propaganda histérica da Coreia do Sul, que atravessa a pior crise política de sua história e necessita desviar a atenção. É simples, querem demonizar nossa liderança, com uma campanha de difamação contra nós", disse nesta sexta-feira (3) o embaixador norte-coreano na Espanha, Kim Hyok Chol, à agência de notícias Efe.

O diplomata ironizou as informações que foram divulgadas sobre a morte do irmão mais velho do líder norte-coreano, Kim Jong-un, ocorrida no aeroporto de Kuala Lumpur em 13 de fevereiro e que está sendo investigada pelas autoridades da Malásia.

Enquanto o governo malaio tenta confirmar oficialmente a identidade do falecido e realizou a detenção de duas pessoas supostamente vinculadas ao assassinato, veículos de imprensa sul-coreanos sustentam que o crime foi ordenado por Pyongyang e que foi utilizado no ataque um perigoso agente químico denominado "VX".

Segundo o diplomata, o governo malaio informou inicialmente às autoridades norte-coreanas que o falecido era uma cidadão com passaporte diplomático da Coreia do Norte que tinha morrido após sofrer um ataque do coração durante sua transferência do aeroporto para um hospital.

No entanto "e de repente, foram divulgadas notícias com a propaganda fabricada pelos veículos de imprensa da Coreia do Sul e que a Malásia seguiu" e nas quais assumiu que tinha sido um assassinato, disse o diplomata.

Pouco depois, "também disseram que ele foi morto com um agente nervoso, o que atenta contra o bom senso", afirmou Kim Hyok Chol, ao acrescentar que essa "suposta arma química perigosa não afetou nenhuma das pessoas que esteve próxima do falecido, nem deixou rastro nas instalações aeroportuárias".

"Os químicos malaios não tiveram dúvidas desde o princípio e não encontraram elementos de guerra química no incidente", acrescentou o embaixador, que evitou confirmar a identidade do falecido.

"Não sabemos quem é, nem o que aconteceu. Só sabemos que é um cidadão com passaporte diplomático" norte-coreano, afirmou o diplomata, antes de exigir a repatriação do corpo "como aconteceria com qualquer outro cidadão que morre no exterior para que possa ser identificado".

Kim Hyok Chol disse que seu país está sofrendo há décadas com o fenômeno das "notícias falsas", do qual "tanto se queixa agora o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump".

O diplomata também mencionou as últimas ameaças norte-americanas, como as publicadas hoje no jornal "The Wall Street Journal", que indica que a última revisão estratégica americana não descarta o emprego da força militar contra a Coreia do Norte se o país não interromper sua corrida armamentista.

Para o embaixador, "Trump não acrescentou nada à política dos EUA com relação" a Pyongyang. "Eles sempre nos ameaçaram, estamos acostumados às ameaças e aos jogos de guerra" de Washington, disse.

"Apesar de não acreditarmos na guerra, responderemos aos fatos se formos atacados. Estamos preparados", acrescentou Kim Hyok Chol.

Na opinião do diplomata, o confronto perpétuo que Washington mantém com Pyongyang "não é mais que uma desculpa para manter seu exército na península coreana para sempre".

"Ninguém quer que seu país esteja dividido", disse o embaixador, que também defendeu a realização de negociações intercoreanas para conseguir a reunificação da nação, mas sem interferência estrangeira, alegou, em referência aos EUA.

Além disso, Kim Hyok Chol detalhou que, no ano passado, os Estados Unidos forneceram de forma secreta à Coreia do Sul, onde mantêm destacamentos militares com quase 30 mil soldados, cerca de 6 bilhões de toneladas em munição e questionou "com que propósito eles o fizeram".

O embaixador norte-coreano qualificou o governo de seu vizinho do sul, que está imerso em uma grave crise política pelos casos de corrupção envolvendo a presidente Park Geun-hye, de "marionete dos Estados Unidos" que "pretende iniciar um conflito" com o qual a Coreia do Norte "não está de acordo".

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AFP