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Mark Rutte, o sobrevivente político que busca seu segundo mandato na Holanda

Primeiro-ministro da Holanda, Mark Rutte  - Michael Kooren/Reuters
Primeiro-ministro da Holanda, Mark Rutte Imagem: Michael Kooren/Reuters

Imane Rachidi

Em Haia

13/03/2017 10h01

Mark Rutte, chefe do governo liberal conservador da Holanda, pôs em prática suas habilidades políticas durante quatro anos de recuperação econômica para manter unido um cenário político cada vez mais fragmentado e cético em relação à União Europeia, ameaçada pelo populismo.

Rutte (Haia, 1967) se tornou primeiro-ministro pela primeira vez em outubro de 2010, após as eleições de junho daquele ano pelo fracasso da coalizão entre liberais e democratas-cristãos ao tentarem aprovar um orçamento de austeridade em meio à crise econômica.

De maneira suave e com políticas firmes, Rutte já fez história nessa data por ser o primeiro chefe de governo liberal no país desde a fundação de seu Partido Popular da Liberdade e Democracia (VVD), em 1948.

A partir de então, liderou uma coalizão minoritária de direita, cujo poder de legislação dependia dos apoios do Partido da Liberdade (PVV), liderado pelo populista e anti-islamista Geert Wilders.

O governo de Rutte conseguiu aprovar um orçamento austero com o apoio de cinco partidos - liberal, democrata-cristão, Democratas 66, Verde e União Cristã -, embora tenha fracassado após Wilders se recusar a respaldar uma série de cortes de despesas.

Foi reeleito primeiro-ministro após as eleições de outubro de 2012, desta vez após uma estreita vitória, o que lhe permitiu liderar uma coalizão de centro-esquerda, com o apoio dos trabalhistas.

O político, antigo gerente de pessoal da multinacional holandesa Unilever (1992-1997) e de sua subsidiária Calvé (1997-2000), fez ressurgir na campanha de 2012 o VVD, partido do qual continua líder e pelo qual é candidato à reeleição como primeiro-ministro.

Com 41 cadeiras, de um total de 150, o VVD é atualmente o maior partido no parlamento holandês, embora as pesquisas de intenções de voto apontem que ficará em segundo lugar nas eleições de 15 de março.

Desde sua chegada ao poder, Rutte - um defensor veemente do funcionamento das leis do mercado - teve que impor grandes cortes de despesas, que geraram críticas pelas medidas de austeridade exigidas por Bruxelas.

Rutte teve que fazer valer todos os seus dotes diplomáticos para superar uma crise entre Haia e Moscou, justamente quando se completavam quatro séculos de relações comerciais, pela detenção de um diplomata russo na Holanda e o assalto à casa do chanceler holandês na capital russa.

Outro momento de dificuldade aconteceu em 17 de julho de 2014, quando um avião da companhia aérea Malaysia Airlines foi derrubado com 298 passageiros a bordo, sendo 196 holandeses, provavelmente atingido por um míssil disparado pelos separatistas pró-Rússia.

Rutte também teve problemas com o acordo para que a Ucrânia fizesse parte da União Europeia (UE), rejeitado por 60% dos holandeses em um referendo realizado em abril de 2016.

O premiê holandês tentou obter o apoio do parlamento para ratificar o acordo com a Ucrânia, o que pode dar credibilidade a Wilders, que o chamou "fantoche" de Bruxelas.

Admirador declarado da ideologia econômica da ex-primeira-ministra britânica Margaret Thatcher, Rutte sempre se mostra como um homem simples, afável, modesto e insistente para levar adiante seus projetos políticos.

Sua serenidade e capacidade de negociação, sua atitude conciliadora e bom humor serviram para superar momentos difíceis, especialmente quando recebeu uma enxurrada de críticas em seu país por suas políticas austeras e na UE por ser um dos principais obstáculos para que a Grécia recebesse seu primeiro resgate financeiro.

Seu instinto de sobrevivência permitiu que se mantivesse flutuando no poder, apesar de ter sido considerado politicamente morto em mais de uma ocasião.

Admirado por muitos, Rutte vai frequentemente de bicicleta de sua casa até o parlamento, em Haia, promovendo a proteção do meio ambiente e dando exemplo de político austero em tempos de crise.

É visto como um político hábil, capaz de fazer pactos com quem quer que seja se o assunto for poder: muitos temem que após as eleições acabe traindo seus próprios princípios e una suas forças com o PVV, seu grande inimigo, para formar uma coalizão de governo.

Rutte, que vive com sua mãe, combinou sua carreira de História na Universidade de Leiden com a liderança de um movimento liberal.

Aos 35 anos, foi nomeado subsecretário de Assuntos Sociais (2002-2004) e depois de Educação, até as eleições de 2006, quando, já na liderança do VVD, perdeu seis cadeiras e passou a ser o líder da oposição.

Filho de uma família de comerciantes, são poucos os detalhes conhecidos sobre sua vida privada, além de ser solteiro, pianista em seu tempo livre, professor de ciências políticas e membro da igreja protestante da Holanda.