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Cuba compara "agressão" da OEA à Venezuela com "conspiração" em 1962

29/03/2017 13h36

Havana, 29 mar (EFE).- Cuba denunciou nesta quarta-feira a coincidência "evidente" entre a "atual agitação" da Organização dos Estados Americanos (OEA) contra a Venezuela e a "conspiração" que provocou a saída da ilha do organismo em 1962, quando funcionaram "as intensas pressões e chantagens dos Estados Unidos".

O país caribenho se posicionou hoje sobre o tema em comunicado de seu Ministério das Relações Exteriores (Minrex), publicado nas capas dos jornais estatais "Granma" e "Juventud Rebelde", no qual se referiu à "batalha" contra as "intenções imperialistas e oligárquicas" da OEA na sessão realizada na terça-feira em Washington (EUA) para discutir a situação da Venezuela.

"É evidente a coincidência entre a atual agitação da OEA e aquele 1962, quando a conspiração era contra Cuba", afirma o texto, que insiste que durante a sessão - da qual Cuba não participou - foi travada uma batalha contra as "intenções imperialistas e oligárquicas" de intervir na soberania dos países.

Cuba chamou a OEA de "Ministério de Colônias" e a acusou de voltar a se submeter "às intensas pressões e chantagens dos EUA sobre um grupo de países, incluindo os mais vulneráveis; e outra vez aconteceu a atitude submissa daqueles que preferem se ajoelhar" perante o governo americano.

"A OEA demonstrou mais uma vez sua incapacidade para conter a execrável e histérica postura de seu secretário-geral (Luis Almagro), a serviço dos centros de poder e em franca violação da letra e do espírito da própria Carta dessa lamentável organização", prossegue a declaração.

Segundo Cuba, ficou demonstrado como o Conselho Permanente da OEA "interveio em assuntos da jurisdição interna de um de seus Estados-membros", em "flagrante violação" da Carta de fundação do organismo.

O texto aplaude o insucesso das tentativas de confirmar a suspensão da Venezuela e de aprovar um relatório e um roteiro "mal intencionados e intervencionistas".

"Foi demonstrado que a Venezuela não está sozinha", acrescenta o comunicado, que aponta como "motivo de orgulho" a "valente defesa" dos que se colocaram "do lado da verdade, da razão e da justiça" e contra a "OEA, seu secretário-geral e seu dono".

Finalmente, a chancelaria cubana celebrou o "povo corajoso, cujos direitos humanos e liberdades democráticas foram enaltecidos pela Revolução (Bolivariana de Hugo Chávez)", que se manifestou na terça-feira em apoio ao presidente venezuelano, Nicolás Maduro.

A OEA convocou a uma reunião esta terça-feira, na qual 20 de seus 34 Estados-membros ativos se comprometeram a preparar um roteiro "no menor prazo possível" para "apoiar o funcionamento da democracia e o respeito ao Estado de Direito" na Venezuela, apesar da rejeição frontal de Caracas.

Nas ruas da capital venezuelana, milhares de simpatizantes do chavismo se reuniram para protestar contra a sessão em uma passeata que terminou com o anúncio do vice-presidente da Venezueça, Tareck El Aissami, de que seria aberto um processo contra Almagro por ter divulgado "mentiras".

No dia 14 de março, Almagro pediu a suspensão da Venezuela da OEA como última medida de pressão para que Maduro convoque eleições e após constatar o fracasso de todas as tentativas de diálogo.

Esta é a primeira reação oficial do governo cubano à posição da OEA contra a Venezuela, embora a imprensa estatal da ilha já tenha anteriormente publicado artigos sobre o tema, uma estratégia oficiosa empregada tradicionalmente pelas autoridades do país caribenho para se posicionar.

Almagro também protagonizou uma polêmica com Cuba em fevereiro, após a recusa do país caribenho de autorizar sua entrada em Havana, onde receberia um prêmio em memória do dissidente cubano Oswaldo Payá, falecido em 2012.

Nessa ocasião, Almagro confessou estar "magoado" pelas "mentiras" de Cuba e considerou que o país "não está pronto" para voltar à OEA.

O governo cubano, por sua vez, defendeu a "irrepreensível" transparência de sua diplomacia e descartou mais uma vez a possibilidade de se reintegrar à organização.