Fiéis tâmeis realizam rituais para deusa da fertilidade na Índia
Julen Yuguero.
Nova Délhi, 6 abr (EFE).- Mulheres com a língua perfurada por objetos pontiagudos e homens que arrastam caminhões com ganchos enfiados nas costas são parte das centenas de penitentes que se reúnem todo ano para agradecer a Mariamman, a deusa tâmil da fertilidade, pelo presente de um nascimento.
O bairro de Shukarpur, no noroeste de Délhi, se tornou hoje palco deste ritual preservado pelos tâmeis residentes na capital da Índia para a deusa sulina das chuvas.
Vários homens vestidos com roupas rituais afiam desde a alvorada enormes tridentes de ferro que olham a contraluz para se assegurar que poderão atravessar a pele e a carne dos devotos.
São tâmeis e fiéis de um templo dedicado a Mariamman neste bairro, que se transformou com o tempo no lar de muitos emigrados do estado indiano de Tamil Nadu (sul do país).
"A dificuldade do sacrifício deve estar de acordo com a importância que eles dão ao desejo que a deusa cumpriu", explicou um desses fiéis, Rajesh M., enquanto coloca com cuidado no chão os diferentes tridentes.
A comitiva de penitentes não demora a aparecer ao ritmo de uma música festiva.
Muitos dos sacrifícios são típicos da famosa festividade tâmil de Thaipusam - realizada durante os meses de janeiro e fevereiro em homenagem a vários deuses guerreiros do hinduísmo -, adaptada agora para agradecer à deusa da fertilidade.
"A devoção por nossos deuses é muito forte, embora estejamos longe de nossa terra, por isso o povo a vive com tanta intensidade", declarou Rajesh M., apontando para os homens e mulheres que chegavam dançando em êxtase.
Jejuam durante dois dias para que o cansaço os ajude a enfrentar a dor que experimentarão, por isso que muitos desmaiam ou caminham desequilibrados até o grupo de voluntários do templo.
Quando chega o momento, vários homens seguram a cabeça e as pernas dos penitentes enquanto lhes espetam enormes pontas de tridente no rosto, atravessando ambas as bochechas.
Alguns gritam e ameaçam desmaiar enquanto os presentes se esforçam para impedi-lo; outros encontram forças para dançar ao ritmo da música segurando com ambas as mãos o tridente que lhes atravessa o rosto.
"Não é tão doloroso (...) o jejum é tão duro que não sentimos muito dor. Se há um incêndio em sua casa você sentirá muita dor, mas aqui é diferente (...), a minha desapareceu completamente porque acredito muito em nossa deusa", assegurou à Efe A. Ramu, de 47 anos.
Mas ainda falta o pior: caminhar em procissão durante quase um quilômetro com o objeto cravado no corpo e chegar ao templo, onde o espera uma piscina de brasas que deverá atravessar para deixar as dúvidas para trás.
Outro devoto, Suresh, espeta vários ganchos na pele das costas e puxa uma caminhonete até chegar ao templo.
Não pode contar qual é o favor que lhe foi concedido, só diz que está relacionado com os problemas que sua mulher teve durante o parto.
"O que os deuses me deram foi tão importante para mim que jurei fazer isto três anos seguidos, este é o segundo", revelou este homem de 35 anos.
A maioria das promessas cumpridas está relacionada a problemas de fertilidade superados ou doenças dos filhos curadas, problemas dos quais a deusa Mariamman se ocupa, segundo a crença hindu.
"Minha mulher não conseguia ficar grávida (...), mas minha irmã fez um voto à deusa e conseguimos ter um filho em menos de um ano (...) Por isso hoje caminhamos sobre o fogo, raspamos a cabeça de nosso filho e sacrificamos um cordeiro para o templo", enumerou à Efe Dilip Kumar, de 28 anos.
Após atravessar as brasas, alguns com seus filhos nos braços, os penitentes são ajudados a retirar os tridentes e limpar as feridas com talco e suco de limão.
Muitos se esfregam no chão com o olhar perdido e entoando mantras em tâmil.
Rajesh M. explicou: "Tudo bem, a deusa entrou em seus corpos". EFE
jyg/ma
(fotos) (vídeo)
Nova Délhi, 6 abr (EFE).- Mulheres com a língua perfurada por objetos pontiagudos e homens que arrastam caminhões com ganchos enfiados nas costas são parte das centenas de penitentes que se reúnem todo ano para agradecer a Mariamman, a deusa tâmil da fertilidade, pelo presente de um nascimento.
O bairro de Shukarpur, no noroeste de Délhi, se tornou hoje palco deste ritual preservado pelos tâmeis residentes na capital da Índia para a deusa sulina das chuvas.
Vários homens vestidos com roupas rituais afiam desde a alvorada enormes tridentes de ferro que olham a contraluz para se assegurar que poderão atravessar a pele e a carne dos devotos.
São tâmeis e fiéis de um templo dedicado a Mariamman neste bairro, que se transformou com o tempo no lar de muitos emigrados do estado indiano de Tamil Nadu (sul do país).
"A dificuldade do sacrifício deve estar de acordo com a importância que eles dão ao desejo que a deusa cumpriu", explicou um desses fiéis, Rajesh M., enquanto coloca com cuidado no chão os diferentes tridentes.
A comitiva de penitentes não demora a aparecer ao ritmo de uma música festiva.
Muitos dos sacrifícios são típicos da famosa festividade tâmil de Thaipusam - realizada durante os meses de janeiro e fevereiro em homenagem a vários deuses guerreiros do hinduísmo -, adaptada agora para agradecer à deusa da fertilidade.
"A devoção por nossos deuses é muito forte, embora estejamos longe de nossa terra, por isso o povo a vive com tanta intensidade", declarou Rajesh M., apontando para os homens e mulheres que chegavam dançando em êxtase.
Jejuam durante dois dias para que o cansaço os ajude a enfrentar a dor que experimentarão, por isso que muitos desmaiam ou caminham desequilibrados até o grupo de voluntários do templo.
Quando chega o momento, vários homens seguram a cabeça e as pernas dos penitentes enquanto lhes espetam enormes pontas de tridente no rosto, atravessando ambas as bochechas.
Alguns gritam e ameaçam desmaiar enquanto os presentes se esforçam para impedi-lo; outros encontram forças para dançar ao ritmo da música segurando com ambas as mãos o tridente que lhes atravessa o rosto.
"Não é tão doloroso (...) o jejum é tão duro que não sentimos muito dor. Se há um incêndio em sua casa você sentirá muita dor, mas aqui é diferente (...), a minha desapareceu completamente porque acredito muito em nossa deusa", assegurou à Efe A. Ramu, de 47 anos.
Mas ainda falta o pior: caminhar em procissão durante quase um quilômetro com o objeto cravado no corpo e chegar ao templo, onde o espera uma piscina de brasas que deverá atravessar para deixar as dúvidas para trás.
Outro devoto, Suresh, espeta vários ganchos na pele das costas e puxa uma caminhonete até chegar ao templo.
Não pode contar qual é o favor que lhe foi concedido, só diz que está relacionado com os problemas que sua mulher teve durante o parto.
"O que os deuses me deram foi tão importante para mim que jurei fazer isto três anos seguidos, este é o segundo", revelou este homem de 35 anos.
A maioria das promessas cumpridas está relacionada a problemas de fertilidade superados ou doenças dos filhos curadas, problemas dos quais a deusa Mariamman se ocupa, segundo a crença hindu.
"Minha mulher não conseguia ficar grávida (...), mas minha irmã fez um voto à deusa e conseguimos ter um filho em menos de um ano (...) Por isso hoje caminhamos sobre o fogo, raspamos a cabeça de nosso filho e sacrificamos um cordeiro para o templo", enumerou à Efe Dilip Kumar, de 28 anos.
Após atravessar as brasas, alguns com seus filhos nos braços, os penitentes são ajudados a retirar os tridentes e limpar as feridas com talco e suco de limão.
Muitos se esfregam no chão com o olhar perdido e entoando mantras em tâmil.
Rajesh M. explicou: "Tudo bem, a deusa entrou em seus corpos". EFE
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