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Bento XVI completa amanhã 90 anos no silêncio que prometeu

15/04/2017 14h16

Cristina Cabrejas.

Cidade do Vaticano, 15 abr (EFE).- O papa Bento XVI prometeu após renunciar ao pontificado, em fevereiro de 2013, que permaneceria "escondido do mundo", e nesse silêncio no qual entrou completará neste domingo 90 anos.

Para não interferir nos ritos do Domingo de Ressurreição, Bento XVI celebrará a data na segunda-feira de maneira discreta, com uma pequena homenagem que lhe será feita por um grupo de sua região natal, a Baviera, na Alemanha.

Na porta de sua residência, o mosteiro Mater Eclessiae, dentro do Vaticano, e usando traje tradicional, os membros do grupo tocarão músicas típicas bávaras e cantarão parabéns pelo aniversário.

Para a ocasião, o irmão do papa emérito, monsenhor Georg Ratzinger, de 93 anos, viajou ao Vaticano para não perder a homenagem, na qual também estará presente o premiê do estado federado da Baviera, Horst Lorenz Seehofer.

"Todo bávaro faz muito bem ao coração do papa", declarou seu ainda histórico secretário, monsenhor Georg Gänswein, agora prefeito da Casa Pontifica, que antecipou que, além de "muitos livros como presente", Bento XVI ganhou muitas cartas cheias de afeto.

Um dos primeiros a parabenizá-lo foi Francisco, que na quarta-feira compareceu ao Mater Eclessiae para desejar Feliz Páscoa a seu antecessor, marcando assim um novo encontro entre os dois papas que teve "um duplo caráter de comemoração", pois também aproveitou para lhe desejar feliz aniversário.

Celestino V, que também renunciou ao pontificado, em 1294, foi confinado no castelo de Fumone, nos arredores de Roma, em meio ao temor de que alguém influente pudesse entrar em contato com ele ou o reconhecesse como papa.

Joseph Ratzinger recebeu o título de papa emérito, continua vestido de branco, vive dentro dos jardins vaticanos e se tornou uma referência para muitos que comparecem a consultá-lo, inclusive para a escolha de seu sucessor.

Nestes quatro anos, o papa alemão rompeu seu silêncio somente em dois livros-entrevistas publicados recentemente: "Servitore di Dio e dell'umanità" ("Servidor de Deus e da Humanidade"), do italiano Elio Guerriero, e "Ultime conversazioni" ("Últimas conversas"), de seu biógrafo oficial, o jornalista alemão Peter Sewald.

Nas duas obras, ele reitera o cansaço que o levou a sua renúncia, descartava qualquer tipo de pressão nesta decisão e elogiava o papa Francisco.

Mas, como em cada efeméride na qual é lembrado, e também por ocasião de seu 90º aniversário, o tema da convivência dos dois papas e as razões de sua renúncia voltam a surgir.

Quem fala por ele seu secretário Gänswein, que nestes dias, em várias entrevistas, reiterou que Bento XVI "não recebeu pressão alguma" para renunciar ao pontificado, nem a decisão foi fruto do caso de vazamento de seus documentos privados, conhecido como Vatileaks. Ocorreu apenas por ele não se sentir com a força necessária para a missão.

"(Ratzinger) Vive tranquilo, sem se deixar provocar" por quem a cada dia o compara com Francisco, que para o pontífice alemão "é um sopro de ar fresco", declarou Gänswein em uma entrevista ao jornal "La Repubblica".

Também preocupa a muitos a saúde do "avô em casa", como o definiu Francisco, mas Gänswein garantiu que ele "está lucidíssimo, embora as forças físicas diminuam".

Bento XVI se locomove às vezes graças a um andador para "se sentir mais seguro e autônomo", já que tem graves problemas nas pernas, e também não pode tocar piano como antes, "porque as mãos não lhe obedecem às vezes", descreveu o secretário.

O papa emérito acompanha as notícias através dos telejornais noturnos, lê o "L'Osservatore Romano", o jornal do Vaticano, e o católico "L'Avvenire", dois periódicos alemães e o resumo de imprensa dos veículos italianos e internacionais que é feito pela Secretária de Estado.

Porém, sobretudo, Bento XVI se dedica à leitura dos escritos dos grandes Pais da Igreja e também lê as publicações teológicas mais recentes, como a exortação de Francisco "Amoris Laetitia", e conhece as críticas de alguns cardeais ao texto, mas a respeito, como acrescentou seu fiel secretário, o papa emérito "guarda silêncio". EFE

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