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Mais de 6.000 presos palestinos são convocados para greve de fome em Israel

16/04/2017 20h29

María Sevillano.

Ramala (Cisjordânia), 16 abr (EFE).- Cerca de 6.300 presos palestinos estão convocados para uma greve de fome de duração indefinida a partir desta meia-noite em Israel, coincidindo com o início do Dia Nacional da Solidariedade com os Presos que é lembrado em 17 de abril.

"Desde que começou a ocupação (israelense) há 50 anos, 850.000 palestinos experimentaram o que é estar no cárcere", afirmou à Agencia Efe Akram Atalah Alayasa, porta-voz da Comissão de Assuntos para Detidos e Ex-Detidos, dependente da Autoridade Nacional Palestina.

Estas cifras significam que praticamente um quinto da sociedade palestina e 40% dos homens adultos esteve atrás das grades em algum momento, "algo que afeta muito toda nossa vida ", assegurou Alayasa.

Os palestinos veem a imensa maioria dos encarcerados como "prisioneiros de consciência", enquanto as autoridades israelitas os denominam de "presos de segurança" e consideram os atos pelo quais são detidos muitos deles como "atos de terrorismo".

O certo é que é difícil encontrar algum palestino que não tenha ou tenha tido algum familiar ou conhecido encarcerado em alguma das 17 prisões espalhadas por Israel, na de Ófer - a única dentro dos territórios ocupados -, ou em algum dos dois centros de detenção israelitas no norte e no sul da Cisjordânia.

A Comissão de Assuntos para os Detidos e Ex-Detidos, o Clube de Presos Palestinos e o Escritório Central de Estatísticas apontam em um relatório publicado recentemente que, desde a Segunda Intifada (2000-2005), cem mil palestinos foram detidos, entre eles, 15.000 menores, 1.500 mulheres e 70 deputados.

O documento também aponta que, desde outubro de 2015, quando se iniciou a última onda de violência protagonizada por agressores palestinos, foram detidos na Cisjordânia cerca de 10.000, metade deles menores.

A organização Adamir, que trabalha na defesa dos presos palestinos em Ramala, cifra em 6.300 os presos atuais, incluindo 61 mulheres, 300 menores de 18 anos e 13 parlamentares.

Além disso, há 500 pessoas que não conhecem as acusações que pesam sobre elas nem qual será a duração de suas condenações porque foram encarceradas sob a figura da detenção administrativa, que permite prender sem acusação nem julgamento durante seis meses renováveis de maneira indefinida.

Alayasa denuncia que "há um uso diferente da lei sobre os palestinos" e argumenta que sobre estes Israel aplica "a legislação militar e não a civil", e que pratica abundantemente a detenção administrativa que, no entanto, praticamente nunca é usada com israelenses.

O ativista também considera discriminatória a situação dos presos: "Os israelenses têm, em geral, direito a um tête-à-tête. Isto não acontece com os palestinos, cujo contato com seus visitantes acontece por um vidro ou um telefone. Muitos pais não podem visitar seus filhos ou o contrário, por razões de segurança".

Frequentemente Israel rejeita as visitas de familiares de presos que tenham passado também previamente pela prisão.

A crítica sobre as condições dos internos está por trás da greve de fome massiva que se inicia nesta meia-noite e que foi convocada pelo carismático líder do partido nacionalista Fatah, Marwan Barguti, que cumpre cinco penas de prisão perpétua por ataques durante a última Intifada.

"Milhares entrarão em greve não por motivos políticos, senão humanitários, para melhorar suas condições de encarceramento", analisou o ministro palestino e presidente da Comissão de Assuntos para os Detidos e Ex-Detidos, Issa Qaraqe.

Sob a lema "Greve pela liberdade e dignidade", Qaraqe calcula que pelo menos 1.500 presos se juntarão ao protesto para exigir que os menores visitem seus pais "sem assédio", melhorar as condições médicas dos detentos, a política de transferências e visitas e a liberdade dos presos doentes.

Em relação ao protesto, o ministro de Segurança Pública de Israel, Guilad Erdan, ordenou o estabelecimento de hospitais militares para que os presos não sejam transferidos a centros públicos, onde os médicos podem se negar a alimentá-los à força, apesar da recente decisão da Suprema Corte que considerou a prática constitucional.

Por sua parte, a Anistia Internacional pediu a Israel o fim do que considera uma política "ilícita e cruel" com os prisioneiros palestinos e advertiu que esta viola a Quarta Convenção de Genebra.

A organização lembrou que, de acordo com o direito internacional, os detidos em territórios ocupados não podem ser transferidos à potência ocupante, como agora acontece, e exigiu o término das "restrições excessivas aos direitos de visita", por entender que estão sendo aplicadas "como meio para castigar os presos e suas famílias".