Visita do papa ao Egito reforça relações entre Vaticano e Al-Azhar
Jorge Fuentelsaz.
Cairo, 26 abr (EFE).- A visita do papa Francisco ao Egito representa um reforço nas relações entre a principal instituição do islã sunita, Al-Azhar, e o Vaticano, deterioradas durante o papado de Bento XVI, e um apoio à imagem do Egito, denegrida pela insegurança e as violações dos direitos humanos.
Além da esperada mensagem de paz e convivência entre as religiões, a viagem do pontífice evidencia o bom momento das relações entre as instituições, que em 2017 retomaram o diálogo após anos de dificuldades.
Francisco devolve também a visita que o xeque de Al-Azhar, Ahmad Al Tayeb, fez a Roma em 23 de maio de 2016, e que marcou um ponto de inflexão nos contatos bilaterais.
"A visita do papa é um apoio ao diálogo entre as religiões, e isto é um ponto muito importante a nível religioso. Vejo que a reunião entre o papa e o xeque de Al-Azhar é um apoio ao diálogo entre as religiões, que estava suspenso por um período de tempo, e é uma mensagem muito forte para todo o mundo", disse à Agência Efe o porta-voz da igreja ortodoxa egípcia, Bules Halim.
Em 12 de setembro de 2006, o então papa Bento XVI citou durante uma visita à cidade alemã de Ratisbona um diálogo entre o imperador bizantino Manuel II Paleólogo (1391) e um erudito persa.
Nele, o imperador pedia ao erudito que lhe mostrasse algo que Maomé tivesse trazido de novo ao mundo, e ele mesmo respondeu que somente encontraria coisas "más e inumanas, como sua ordem de divulgar, usando a espada, a fé que pregava".
Dias depois, Al-Azhar suspendeu o diálogo com o Vaticano e exigiu desculpas ao pontífice, abrindo um período de tensões que não começariam a se dissipar até a chegada de Francisco à liderança da Igreja Católica em 2013.
Para o pesquisador não residente do Instituto Tahrir para o Oriente Médio, Timothy E. Kaldas, a presença do papa "é uma continuação do que Francisco já começou, uma oportunidade de aprofundar o mútuo entendimento".
Para Kaldas, a relação entre o Vaticano e a Igreja Copta Ortodoxa, que representa de 10% a 12% da população egípcia, está em um segundo plano nesta viagem.
Não obstante, o porta-voz da Igreja Copta salientou que a estadia de Francisco representará um "reforço" e uma "maior aproximação das relações entre as duas Igrejas".
Outro aspecto importante desta viagem será a insistência em uma mensagem de paz e tolerância, coincidindo com um aumento da islamofobia e do anticristianismo e com os atentados no último Domingo de Ramos contra duas catedrais egípcias que deixaram 46 mortos.
"Em ambos os lados temos líderes políticos e movimentos populistas que exploram o ódio e o medo para conseguir objetivos políticos", disse Kaldas, que explicou que esta "irresponsabilidade e imprudência" fomentam um ambiente de discriminação e ódio que beneficia o surgimento e o desenvolvimento de grupos extremistas.
Por isso, acrescentou ele, "é importante que os líderes religiosos trabalhem juntos para dissipar este ambiente perigoso de ódio. É muito importante lutar contra isto".
Neste sentido, o porta-voz da assembleia das igrejas católicas do Egito, Rafic Greiche, destacou a importância do momento da viagem de Francisco e ressaltou que "sua presença no Egito, nestas circunstâncias, é uma mensagem contra o terrorismo".
"A visita é ainda mais importante e ele mesmo (o papa) decidiu mantê-la porque é um homem valente. Vem com uma mensagem de paz, de esperança e de amor para todos os egípcios, e para mostrar seu apoio e solidariedade (depois dos atentados). É uma mensagem muito importante para todos", disse Greiche.
Para as autoridades egípcias, sua estadia e "a atenção internacional que o acompanhará serão uma maneira, para eles, de dizer: 'vejam, o Egito é seguro, podem visitar'".
Imerso em uma profunda crise econômica, com uma inflação superior aos 30%, apenas turistas e uma moeda desvalorizada, o sistema político egípcio apostou em se concentrar na segurança em detrimento dos direitos humanos. No entanto, esta estratégia não atingiu a estabilidade necessária para atrair o turismo e os investimentos.
Neste sentido, o analista político opinou que é mais provável que Francisco foque em questões teológicas e na relação entre cristãos e muçulmanos do que na situação dos direitos humanos no país.
O porta-voz copta, por sua vez, disse que a chegada do papa "supõe um apoio ao Egito em sua luta contra o terrorismo e para sua estabilidade e segurança". Além disso, considerou que "terá resultados importantes em nível econômico a respeito do turismo, porque é uma mensagem de tranquilidade para todo o mundo de que o Egito está em seu caminho para uma estabilidade permanente".
Cairo, 26 abr (EFE).- A visita do papa Francisco ao Egito representa um reforço nas relações entre a principal instituição do islã sunita, Al-Azhar, e o Vaticano, deterioradas durante o papado de Bento XVI, e um apoio à imagem do Egito, denegrida pela insegurança e as violações dos direitos humanos.
Além da esperada mensagem de paz e convivência entre as religiões, a viagem do pontífice evidencia o bom momento das relações entre as instituições, que em 2017 retomaram o diálogo após anos de dificuldades.
Francisco devolve também a visita que o xeque de Al-Azhar, Ahmad Al Tayeb, fez a Roma em 23 de maio de 2016, e que marcou um ponto de inflexão nos contatos bilaterais.
"A visita do papa é um apoio ao diálogo entre as religiões, e isto é um ponto muito importante a nível religioso. Vejo que a reunião entre o papa e o xeque de Al-Azhar é um apoio ao diálogo entre as religiões, que estava suspenso por um período de tempo, e é uma mensagem muito forte para todo o mundo", disse à Agência Efe o porta-voz da igreja ortodoxa egípcia, Bules Halim.
Em 12 de setembro de 2006, o então papa Bento XVI citou durante uma visita à cidade alemã de Ratisbona um diálogo entre o imperador bizantino Manuel II Paleólogo (1391) e um erudito persa.
Nele, o imperador pedia ao erudito que lhe mostrasse algo que Maomé tivesse trazido de novo ao mundo, e ele mesmo respondeu que somente encontraria coisas "más e inumanas, como sua ordem de divulgar, usando a espada, a fé que pregava".
Dias depois, Al-Azhar suspendeu o diálogo com o Vaticano e exigiu desculpas ao pontífice, abrindo um período de tensões que não começariam a se dissipar até a chegada de Francisco à liderança da Igreja Católica em 2013.
Para o pesquisador não residente do Instituto Tahrir para o Oriente Médio, Timothy E. Kaldas, a presença do papa "é uma continuação do que Francisco já começou, uma oportunidade de aprofundar o mútuo entendimento".
Para Kaldas, a relação entre o Vaticano e a Igreja Copta Ortodoxa, que representa de 10% a 12% da população egípcia, está em um segundo plano nesta viagem.
Não obstante, o porta-voz da Igreja Copta salientou que a estadia de Francisco representará um "reforço" e uma "maior aproximação das relações entre as duas Igrejas".
Outro aspecto importante desta viagem será a insistência em uma mensagem de paz e tolerância, coincidindo com um aumento da islamofobia e do anticristianismo e com os atentados no último Domingo de Ramos contra duas catedrais egípcias que deixaram 46 mortos.
"Em ambos os lados temos líderes políticos e movimentos populistas que exploram o ódio e o medo para conseguir objetivos políticos", disse Kaldas, que explicou que esta "irresponsabilidade e imprudência" fomentam um ambiente de discriminação e ódio que beneficia o surgimento e o desenvolvimento de grupos extremistas.
Por isso, acrescentou ele, "é importante que os líderes religiosos trabalhem juntos para dissipar este ambiente perigoso de ódio. É muito importante lutar contra isto".
Neste sentido, o porta-voz da assembleia das igrejas católicas do Egito, Rafic Greiche, destacou a importância do momento da viagem de Francisco e ressaltou que "sua presença no Egito, nestas circunstâncias, é uma mensagem contra o terrorismo".
"A visita é ainda mais importante e ele mesmo (o papa) decidiu mantê-la porque é um homem valente. Vem com uma mensagem de paz, de esperança e de amor para todos os egípcios, e para mostrar seu apoio e solidariedade (depois dos atentados). É uma mensagem muito importante para todos", disse Greiche.
Para as autoridades egípcias, sua estadia e "a atenção internacional que o acompanhará serão uma maneira, para eles, de dizer: 'vejam, o Egito é seguro, podem visitar'".
Imerso em uma profunda crise econômica, com uma inflação superior aos 30%, apenas turistas e uma moeda desvalorizada, o sistema político egípcio apostou em se concentrar na segurança em detrimento dos direitos humanos. No entanto, esta estratégia não atingiu a estabilidade necessária para atrair o turismo e os investimentos.
Neste sentido, o analista político opinou que é mais provável que Francisco foque em questões teológicas e na relação entre cristãos e muçulmanos do que na situação dos direitos humanos no país.
O porta-voz copta, por sua vez, disse que a chegada do papa "supõe um apoio ao Egito em sua luta contra o terrorismo e para sua estabilidade e segurança". Além disso, considerou que "terá resultados importantes em nível econômico a respeito do turismo, porque é uma mensagem de tranquilidade para todo o mundo de que o Egito está em seu caminho para uma estabilidade permanente".
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