Frade radical deixa budistas e governo do Sri Lanka em evidência
Chathuri Dissanayake.
Colombo, 28 jun (EFE).- A procura, entrega e liberdade sob fiança de um frade budista conhecido pelo seu discurso contra as minorias religiosas deixou em evidência o governo do Sri Lanka, muito criticado pela sua suposta permissividade neste caso, e a hierarquia budista, que chegou a ameaçar as autoridades.
Durante quase um mês o frade Galagoda Gnanasara esteve foragido no Sri Lanka, fugindo da polícia que o procurou até que na quarta-feira passada se apresentou por conta própria à Justiça, que tinha emitido ordens de detenção contra ele por desacato; obstrução e ameaças, e incitação ao ódio.
Após algumas horas, Gnanasara, líder do extremista Bodu Bala Sena (BBS, Energia da Força Budista), conhecido por assegurar que as minorias muçulmana e cristã põem em risco a cultura budista cingalesa de 70% da população de país, foi posto em liberdade pagando uma fiança.
"Não estava escapando da lei. Não deixei o país, precisava manejar as ameaças que enfrentava, sabia que não podia evitar me entregar ao tribunal", disse à Agência Efe Gnanasara.
O líder do BBS se tornou famoso pelo seu discurso contra outras minorias religiosas no prelúdio dos incidentes entre budistas e muçulmanos, que em 2014 acabaram em violência e confrontos, causando quatro mortes neste país.
As autoridades associam ele e seu grupo a 16 incidentes registrados desde abril contra outras religiões, entre eles incêndios provocados em lojas muçulmanas e ataques com coquetéis molotov a mesquitas.
No dia 20 de maio a polícia tentou detê-lo quando ia participar de um ato público, mas a multidão protegeu Gnanasara, que posteriormente desapareceu e começou uma busca na qual ninguém parecia querer assumir uma posição contra ele.
Mas em um insólito comunicado emitido na terça-feira da semana passda, o chefe prelado de Asgiriya, Warakagoda Sri Gnanarathana, uma das principais vozes das normalmente comedidas autoridades budista do país, criticou o governo por querer deter Gnanasara e o advertiu de repercussões se tentasse "silenciar" esta comunidade.
"Ainda que não estejamos de acordo com o estilo no discurso nem a conduta do frade Galagoda Gnanasara, não estamos em desacordo com as suas opiniões", disse Gnanarathana.
"O governo será responsável se acontecer alguma agitação como consequência das suas tentativas de silenciar o clero budista", acrescentou o líder religioso.
No dia seguinte o frade se apresentou à Justiça, as ordens de detenção foram canceladas e ele posto em liberdade pagando uma fiança, o que o secretário geral da Aliança Cristã Evangélica do Sri Lanka, Godfrey Yogarajah, considerou "uma farsa".
Yogarajah declarou à Efe que o seu grupo registrou 196 incidentes relacionados com "violações da liberdade religiosa" desde 2015 até hoje, incluindo ataques a igrejas, e disse que "as igrejas nas áreas rurais estão sob ameaça real".
Um membro do governo de Maithripal Sirisena, o ministro de Desenvolvimento Ocidental e Grandes Cidades, Champik Ranawaka, disse que a Justiça deveria ser igual para todos.
"Não lidaram com a situação adequadamente. A polícia e inclusive os tribunais o admitem, se deveria agir não só contra Gnanasara, mas também contra indivíduos que estão incitando à violência, políticos e ativistas", afirmou à Efe.
"A Justiça não deveria diferenciar indivíduos no seu tratamento", acrescentou Ranwaka, membro do Partido do Patrimônio Nacional (JHU), liderado pelos budistas.
Mas o certo é que as autoridades não podem esconder que não é assim.
"Devem entender que deter um frade é diferente de capturar um criminoso normal. Certas coisas como conseguir uma ordem judicial para revistar um templo são muito sensíveis. Há um aspecto cultural e religioso também", explicou o porta-voz da polícia, Priyantha Jayakod.
Entre todas estas críticas, Gnanasara afirmou que está satisfeito com o resultado, já que sua luta está agora no primeiro plano da atualidade.
"Por causa do incidente agora os chefes prelados se envolveram", disse, ao assegurar que a principal causa de tensão entre a comunidade muçulmana e budista é que "os assuntos não foram abordados de maneira adequada pelos responsáveis".
"Viram-se forçados a enfrentar a situação e dar soluções", disse, ao afirmar que agora deverão ser tomadas decisões sobre a "destruição cultural" no país.
Colombo, 28 jun (EFE).- A procura, entrega e liberdade sob fiança de um frade budista conhecido pelo seu discurso contra as minorias religiosas deixou em evidência o governo do Sri Lanka, muito criticado pela sua suposta permissividade neste caso, e a hierarquia budista, que chegou a ameaçar as autoridades.
Durante quase um mês o frade Galagoda Gnanasara esteve foragido no Sri Lanka, fugindo da polícia que o procurou até que na quarta-feira passada se apresentou por conta própria à Justiça, que tinha emitido ordens de detenção contra ele por desacato; obstrução e ameaças, e incitação ao ódio.
Após algumas horas, Gnanasara, líder do extremista Bodu Bala Sena (BBS, Energia da Força Budista), conhecido por assegurar que as minorias muçulmana e cristã põem em risco a cultura budista cingalesa de 70% da população de país, foi posto em liberdade pagando uma fiança.
"Não estava escapando da lei. Não deixei o país, precisava manejar as ameaças que enfrentava, sabia que não podia evitar me entregar ao tribunal", disse à Agência Efe Gnanasara.
O líder do BBS se tornou famoso pelo seu discurso contra outras minorias religiosas no prelúdio dos incidentes entre budistas e muçulmanos, que em 2014 acabaram em violência e confrontos, causando quatro mortes neste país.
As autoridades associam ele e seu grupo a 16 incidentes registrados desde abril contra outras religiões, entre eles incêndios provocados em lojas muçulmanas e ataques com coquetéis molotov a mesquitas.
No dia 20 de maio a polícia tentou detê-lo quando ia participar de um ato público, mas a multidão protegeu Gnanasara, que posteriormente desapareceu e começou uma busca na qual ninguém parecia querer assumir uma posição contra ele.
Mas em um insólito comunicado emitido na terça-feira da semana passda, o chefe prelado de Asgiriya, Warakagoda Sri Gnanarathana, uma das principais vozes das normalmente comedidas autoridades budista do país, criticou o governo por querer deter Gnanasara e o advertiu de repercussões se tentasse "silenciar" esta comunidade.
"Ainda que não estejamos de acordo com o estilo no discurso nem a conduta do frade Galagoda Gnanasara, não estamos em desacordo com as suas opiniões", disse Gnanarathana.
"O governo será responsável se acontecer alguma agitação como consequência das suas tentativas de silenciar o clero budista", acrescentou o líder religioso.
No dia seguinte o frade se apresentou à Justiça, as ordens de detenção foram canceladas e ele posto em liberdade pagando uma fiança, o que o secretário geral da Aliança Cristã Evangélica do Sri Lanka, Godfrey Yogarajah, considerou "uma farsa".
Yogarajah declarou à Efe que o seu grupo registrou 196 incidentes relacionados com "violações da liberdade religiosa" desde 2015 até hoje, incluindo ataques a igrejas, e disse que "as igrejas nas áreas rurais estão sob ameaça real".
Um membro do governo de Maithripal Sirisena, o ministro de Desenvolvimento Ocidental e Grandes Cidades, Champik Ranawaka, disse que a Justiça deveria ser igual para todos.
"Não lidaram com a situação adequadamente. A polícia e inclusive os tribunais o admitem, se deveria agir não só contra Gnanasara, mas também contra indivíduos que estão incitando à violência, políticos e ativistas", afirmou à Efe.
"A Justiça não deveria diferenciar indivíduos no seu tratamento", acrescentou Ranwaka, membro do Partido do Patrimônio Nacional (JHU), liderado pelos budistas.
Mas o certo é que as autoridades não podem esconder que não é assim.
"Devem entender que deter um frade é diferente de capturar um criminoso normal. Certas coisas como conseguir uma ordem judicial para revistar um templo são muito sensíveis. Há um aspecto cultural e religioso também", explicou o porta-voz da polícia, Priyantha Jayakod.
Entre todas estas críticas, Gnanasara afirmou que está satisfeito com o resultado, já que sua luta está agora no primeiro plano da atualidade.
"Por causa do incidente agora os chefes prelados se envolveram", disse, ao assegurar que a principal causa de tensão entre a comunidade muçulmana e budista é que "os assuntos não foram abordados de maneira adequada pelos responsáveis".
"Viram-se forçados a enfrentar a situação e dar soluções", disse, ao afirmar que agora deverão ser tomadas decisões sobre a "destruição cultural" no país.
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