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Trabalhar na velhice: a solução na Tailândia para as baixas aposentadorias

29/06/2017 06h00

Gaspar Ruiz-Canela.

Bangcoc, 29 jun (EFE).- A Tailândia, um dos destinos favoritos para os aposentados ocidentais por causa de suas praias e vida fácil, não é um lugar tão amável para muitos tailandeses, que não têm outra alternativa a não ser trabalhar durante a velhice devido ao baixo valor de suas aposentadorias.

"Tenho 71 anos e recebo uma pensão de 600 baths (US$ 17) por mês. A situação é muito difícil", explicou à Agência Efe a tailandesa Nuannoi Noo-gnern, que dirige uma loja de sobremesas caseiras no mercado de Prakanong em Bangcoc.

"Com este dinheiro (a pensão) compro arroz", acrescentou Nuannoi, lamentando que os seus investimentos são insuficientes, já que tem sob seus cuidados quatro netos que ficaram órfãos.

A idosa vai ao mercado cerca de 20 dias por mês, quando a sua saúde permite, e ganha entre 200 e 400 baths (entre US$ 5,8 e US$ 11,6) por dia.

"A situação econômica é muito difícil hoje em dia. Não vem ninguém (ao mercado)", disse Nuannoi, sentada entre as panelas com as sobremesas tailandesas no mercado, ao ar livre e quase deserto.

Segundo a ONG Help Age International, 38% dos tailandeses com mais de 60 anos continua trabalhando, um número similar ao do Vietnã e pouco menor que em países como Bangladesh (39%), Filipinas (43%) e Nepal (66%).

Se for levado em conta unicamente os homens, a cifra chega a 49% na Tailândia, 54% nas Filipinas, 64% em Bangladesh e 76% no Nepal.

O peruano Eduardo Klien, diretor regional da Help Age International, disse que trabalhar depois dos 60 anos não deveria ser algo negativo, sobretudo quando a decisão de continuar com a vida produtiva responde à vontade própria e não a uma necessidade.

"A aposentadoria deveria ser flexível em alguns casos, não se deve obrigar alguém a se aposentar aos 50 ou 60 anos", declarou Klien em entrevista à Efe.

Na sua opinião, igualmente importante é que os países adequem o sistema de pensões e de saúde, sobretudo à prevenção de doenças, para se adaptar ao envelhecimento crescente das suas sociedades.

A população tailandesa é uma das que envelhece rapidamente, com 15,8% acima dos 60 anos, número que chegará a 37,1% em 2050, ano em que ficará na 16ª posição entre as nações mais envelhecidas do mundo, segundo dados da ONU.

Além de ter um sistema de saúde universal mínimo, a Tailândia é um dos países nos quais as pensões beneficiam mais pessoas, 91% da população, frente a 48% no Vietnã e 45% nas Filipinas.

Apesar disso, 85% destas pensões são não contributivas e chegam ao máximo a 1.000 baths (cerca de US$ 29) mensais, enquanto que 6% são planos de aposentadoria para os funcionários.

Assim, muitos tailandeses como Sanam Um-songkram, de 64 anos, continuam trabalhando enquanto sua saúde permitir para complementar o dinheiro da pensão e a ajuda financeira dos filhos ou de outros familiares.

"Vou continuar trabalhando até poder (devido à saúde) porque isto é a minha profissão", disse Sanam, sentado na sua barraca de frutas no mercado de Prakanong.

O fruteiro lamenta a escassez de clientes, mas se mostra satisfeito com a cobertura de saúde e a pensão de 600 baths, que considera baixa, mas "melhor que nada".

Os aposentados tailandeses também desfrutam de alguns programas gratuitos como aulas terapêuticas de natação no centro de Din Daeng na capital tailandesa.

Ali Sali, de 81 anos, faz alongamentos e exercícios em uma piscina com mais de 20 idosas - e um só homem - para aliviar as suas articulações.

A idosa parou de trabalhar em uma fábrica de lavadoras para cuidar de sua filha, mas o seu marido morreu quando a menina tinha seis anos e montou uma barraca de comida de rua para seguir a vida.

Além da ajuda da sua filha, que agora é arquiteta, atualmente vive com uma pensão de 800 baths (US$ 23) mensais e paga um aluguel de 300 baths (US$ 8) mensais por um quarto em uma moradia de proteção oficial.

"O meu conselho aos jovens é que estudem. Eu queria ter estudado mais", concluiu Sali, vestida com seu traje de banho e pronta para mergulhar na piscina.