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Macron pretende criar centros na Líbia para identificar refugiados

27/07/2017 14h44

Paris, 27 jul (EFE).- A França tem a intenção de criar o mais rápido possível centros de identificação para os solicitantes de asilo, os chamados "hotspots", no território da Líbia, ainda que, por enquanto, considera que não se dão as condições de segurança para botar a ideia em prática.

O anúncio foi feito nesta quinta-feira peo presidente francês, Emmanuel Macron, durante uma cerimônia de nacionalização de estrangeiros, na qual também assegurou que serão habilitados alojamentos de urgência na França para os solicitantes de asilo.

"Daqui até o fim do ano, não quero ninguém mais nas ruas, nas florestas ou perdidos (...) Quero que por todas partes se construam alojamentos de urgência que permitam acolhê-los", declarou Macron durante o ato realizado em Orléans, ao sul de Paris.

Posteriormente, o presidente francês declarou à imprensa que pretende abrir esses "hotspots" na Líbia com o objetivo de evitar que essas pessoas assumam riscos desnecessários cruzando o Mediterrâneo quando não estariam em condições de receber o status de refugiados.

"Espero fazer isso ainda neste verão", declarou o presidente, que deseja construir a iniciativa junto com seus parceiros europeus, mas que, em caso contrário, seguirá adiante igualmente.

No entanto, fontes do Palácio do Eliseu que pediram anonimato ressaltaram que a ideia de criar esses centros será colocada em marcha quando as condições de segurança permitirem, e "neste momento não é assim".

Macron pensa em enviar missões do Escritório Francês de Proteção dos Refugiados e Apátridas (OFPRA) aos "hotspots" que já existem na Itália e cogita, além disso, a possibilidade de abrir este tipo de instalação no Níger, local de passagem habitual das novas rotas migratórias que desembocam na Líbia.

A reação de Bruxelas demorou apenas alguns minutos a chegar após a declaração do governante francês.

A Comissão Europeia disse que está "aberta" a abordar a proposta da França através do sua porta-voz, Natasha Bertaud, que acrescentou, em sua coletiva de imprensa diária, que o Executivo europeu acabava de ter conhecimento do anúncio.

Por isso, assegurou que necessitarão "de um pouco de tempo para discutir exatamente quais são os detalhes do que se está propondo".

"Mas estamos, certamente, abertos a discutir com qualquer de nossos Estados-membros como podemos melhorar a situação na rota do Mediterrâneo central", a principal do tráfego de migrantes irregulares que chegam à Europa.

Bertaud lembrou que, por enquanto, a Comissão trabalha na Líbia com o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) e a Organização Internacional de Migração (OIM) para "melhorar as condições nos campos que já existem" no país.

Macron indicou hoje que entre 800.000 e um milhão de pessoas aguardam nos campos da Líbia para embarcar para a Europa.

"Muitos deles vêm de países nos quais as dificuldades econômicas, a manipulação, e às vezes a credulidade, lhes conduziram a tomar rotas perigosas (...) Atravessarão o Mediterrâneo pondo em perigo suas vidas e errarão de país em país na Europa para que cada vez lhes seja explicado que não têm direito ao asilo", disse o presidente francês.

A ONG Anistia Internacional se apressou a qualificar em um comunicado de "ideia extremadamente perigosa que deve ser abandonada" a intenção de criar esses centros na Líbia, país onde os solicitantes de asilo estão totalmente expostos a violações dos direitos humanos.

Neste sentido, instou a França a "concentrar-se no reforço das capacidades de salvamento no Mediterrâneo central para evitar que a taxa de mortalidade continue sua ascensão vertiginosa".

A Líbia é um Estado fracassado desde que em 2011 rebeldes apoiados pela Otan derrubaram o ditador Muammar Kadafi.

Nesta terça-feira, Macron reuniu nos arredores de Paris o chefe do governo de unidade nacional, Fayez al Serraj, sustentado pela ONU, e o marechal Khalifa Hafter, que controla o leste do território nacional, para assentar as bases de uma saída do conflito.

Ambos concordaram com o estabelecimento de um cessar-fogo e a convocação de eleições presidenciais e parlamentares "o mais rápido possível".

O presidente francês também defendeu hoje a modificação do sistema Schengen de fronteiras interiores na União Europeia para que se permita o restabelecimento dos controles "em caso de crise migratória".

Em relação aos imigrantes que já se encontram em solo francês, Macron aposta em "reduzir os prazos" para os receptores do status de refugiado, de modo que não tenham que esperar "um ano, 18 meses ou dois anos em condições precárias".