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Ultradireita alemã promove agitação xenofóbica e sonha com Bundestag

22/09/2017 21h24

Gemma Casadevall

Berlim, 22 set (EFE).- A ultradireita alemã se encaminha nas eleições legislativas de domingo para conseguir um número de votos suficiente para estrear no Bundestag (Parlamento Federal) através do Alternativa para a Alemanha (AfD), um partido fundado há quatro anos e que vem recrutando o voto xenofóbico.

Todas as pesquisas apontam que, pela primeira vez na história da Alemanha reunificada, uma legenda deste tipo superará a cláusula de barreira do sistema eleitoral nacional para deixar de fora partidos extremistas.

Para conseguir postos no Parlamento, é necessário conseguir mais de 5% dos votos, barreira que até agora surtiu efeito no Bundestag (Câmara Baixa), ainda que tenha havido precedentes em parlamentos regionais e câmaras municipais.

As pesquisas preveem entre 8% e 12% de votos para o AfD e chances de ser a terceira maior bancada e, caso haja um novo governo de grande coalizão como o liderado pela chanceler Angela Merkel, ele poderia se tornar o maior partido da oposição.

O mero fato de chegar ao Bundestag será festejado como um marco pela ultradireita, que de sua posição extraparlamentar passará a estar em todas as comissões da câmara - incluindo a de segredos oficiais - e ainda contará com seu financiamento público.

Ser a maior força da oposição daria à ultradireita, além disso, o direito à primeira réplica em todos os debates parlamentares, um presente para um partido que usa a provocação como estratégia e que mobilizou sua militância aos gritos de "Merkel deve sair" na campanha.

O partido foi fundado em 2013 por membros anti-União Europeia oriundos de berços conservadores e liberais, com o líder da formação, Alexander Gauland, ex-membro da União Democrata-Cristã (CDU), de Merkel.

Aquele discurso eurofóbico inicial não "colou" e nas eleições gerais desse ano a formação ficou alguns décimos abaixo de 5%.

Com o estalo da crise migratória de 2015 e o surgimento do movimento islamofóbico Pegida, o partido ganhou força.

Chegou em câmaras de 13 do total de 16 "Länder" do país, com resultados de até 24% no ainda economicamente deprimido leste do país, ou de 15%, no próspero sul.

"O AfD é uma aspiradora do descontentamento existente para com os outros partidos", disse Nico A. Siegel, do instituto de pesquisas Infratest dimap.

Ele conta com mais homens do que mulheres e tem mais força no leste do que no oeste, mas não há um perfil claro de seu eleitorado, além de se estender a todas as camadas sociais, segundo o especialista.

O partido se alimenta do voto de protesto em um país que desde 2015 recebeu 1,3 milhão de refugiados, e adota tons antisistema quando lhe é conveniente. Sua lista eleitoral é liderada por Gauland, de 74 anos, capaz de pronunciar em tom tranquilo o discurso mais revanchista e de enaltecer os "méritos dos soldados alemães da I e da II Guerra Mundial", e por Alice Weidel, de 37 anos, uma economista lésbica que pretende dar um tom moderno ao partido.

Mas o rosto mais midiático, a empresária Frauke Petry, foi encurralado por essa dupla, que, diferentemente da ainda presidente do partido, deixa espaço para agitadores próximos ao neonazismo, como Jörg Höcke.

"A sua transversalidade é fundamental para entender seu crescimento. É um partido ultradireitista, que construiu um voto além do espectro neonazista", contou à Agência Efe o jornalista espanhol Andreu Jerez, autor junto ao argentino Franco Delle Donne do livro "Fator AfD. O retorno da ultradireita".

"À direita da União Democrata-Cristã não deve haver nenhum partido legitimado democraticamente", advertiu em 1973 o patriarca bávaro Franz-Josef Strauss a seu rival interno no bloco conservador, o ex-chanceler Helmut Kohl.

Strauss queria um partido o mais direitista possível para não deixar espaço, dentro da legalidade, para outra legenda.

Sobre Merkel há diversas críticas, tanto em sua CDU como na União Social-Cristã bávara, de ter abandonado o perfil conservador e ter cedido esse espaço à direita radical.

"O AfD aglutina um voto na direita da União que já existia, como existe na Escandinávia e na França. Era questão de tempo que aflorasse na Alemanha", argumentou o especialista Werner Patzelt, da Universidade Técnica de Dresden, cidade berço do Pegida.