Populismo e medo dominam campanha para eleições da República Tcheca
Gustavo Monge.
Praga, 19 out (EFE).- Imersa em um momento de bonança econômica e sem problemas sociais graves, a República Tcheca realizará amanhã e no sábado eleições legislativas, que serão marcadas pelo provável triunfo de um magnata populista investigado por corrupção e pelo desastre entre social-democratas e conservadores.
O mandato que termina foi, em termos de conforto e paz social, uma das mais bem-sucedidos desde o fim da ditadura comunista em 1989, com a economia crescendo 4,7% e uma taxa de desemprego de 3%, a mais baixa de todos os países da União Europeia (UE).
Apesar da boa gestão, o final do período legislativo foi marcado pela ameaça de ruptura do pacto de governo entre o Partido Social-Democrata Tcheco (CSSD, sigla em tcheco), a União Democrática Cristã (KDU) e a populista Aliança de Cidadãos Descontentes (ANO), do multimilionário Andrej Babis.
Babis foi destituído em maio como vice-primeiro-ministro e ministro das Finanças, e, em setembro, teve sua imunidade parlamentar suspensa para ser investigado em um caso de suposto uso fraudulento de fundos europeus e crime fiscal.
No entanto, essas investigações não impedem que Babis, o segundo homem mais rico da República Tcheca, apareça nas pesquisas como o candidato com mais chances de ser o próximo chefe de governo.
As pesquisas lhe dão 24% de intenção de voto, cinco pontos a mais que quando entrou na cena política tcheca há quatro anos.
"A maioria dos debates pré-eleitorais estão concentrados em se Babis é uma ameaça para a democracia e sobre quais partidos formariam uma coalizão com ele", disse à Agência Efe Jiri Pehe, comentarista político e diretor da New York University de Praga.
"Babis, por sua vez, acusa todos os demais partidos de corrupção e de tentarem manter o atual sistema corrupto", acrescentou o especialista, que foi assessor do ex-presidente Vaclav Havel.
De fato, as pesquisas anunciam uma "punição" para praticamente todos os outros partidos.
Segundo os levantamentos, os social-democratas perderão quase metade de seus eleitores e ficarão com 11%, o mesmo percentual apontado para o Partido Comunista da Boêmia e Morávia (KSCM).
As previsões são piores para a KDU, já que as pesquisas sequer asseguram que os democratas-cristãos obterão os 5% necessários para entrar na Câmara Baixa.
Na mesma situação estão as forças de centro-direita tradicionais, como os conservadores do Partido Democrático Cívico (ODS) e do TOP09, que governaram juntos entre 2010 e 2013.
Os analistas destacam que a forte queda dos partidos tradicionais e o fortalecimento de Babis acontecem em um momento no qual cerca de 80% dos tchecos se declaram satisfeitos com sua situação pessoal.
"Estas eleições estão vazias de temas reais, a divisão entre direita e esquerda desapareceu completamente e os temas principais são dois: Babis e o comércio do medo", afirmou Pehe.
O analista tcheco considera que esse "comércio do medo" consiste em "criar ameaças virtuais - como os imigrantes, o islã, o terrorismo, o medo de adotar o euro como moeda - e alguns políticos que lutam contra elas".
Na campanha, teve protagonismo a rejeição de quase todos os partidos ao sistema de redistribuição de refugiados aprovados pela UE, e ao qual o governo tcheco se opõe até o ponto em que Bruxelas abriu um expediente contra Praga.
Este debate foi aproveitado por alguns partidos para se posicionarem com slogans xenofóbicos e contrários aos muçulmanos, como o movimento "Democracia Direta e Liberdade" (SPD), do populista tcheco-japonês Tomio Okamura, que está ganhando popularidade.
"O mais surpreendente é que na República Tcheca não há migração, quase não há muçulmanos, não há ataques terroristas e o euro seria politicamente benéfico", opinou Pehe.
Para o especialista, a chave destas eleições não está em programas articulados em torno de temas positivos, mas nas coisas das quais as pessoas têm medo.
Praga, 19 out (EFE).- Imersa em um momento de bonança econômica e sem problemas sociais graves, a República Tcheca realizará amanhã e no sábado eleições legislativas, que serão marcadas pelo provável triunfo de um magnata populista investigado por corrupção e pelo desastre entre social-democratas e conservadores.
O mandato que termina foi, em termos de conforto e paz social, uma das mais bem-sucedidos desde o fim da ditadura comunista em 1989, com a economia crescendo 4,7% e uma taxa de desemprego de 3%, a mais baixa de todos os países da União Europeia (UE).
Apesar da boa gestão, o final do período legislativo foi marcado pela ameaça de ruptura do pacto de governo entre o Partido Social-Democrata Tcheco (CSSD, sigla em tcheco), a União Democrática Cristã (KDU) e a populista Aliança de Cidadãos Descontentes (ANO), do multimilionário Andrej Babis.
Babis foi destituído em maio como vice-primeiro-ministro e ministro das Finanças, e, em setembro, teve sua imunidade parlamentar suspensa para ser investigado em um caso de suposto uso fraudulento de fundos europeus e crime fiscal.
No entanto, essas investigações não impedem que Babis, o segundo homem mais rico da República Tcheca, apareça nas pesquisas como o candidato com mais chances de ser o próximo chefe de governo.
As pesquisas lhe dão 24% de intenção de voto, cinco pontos a mais que quando entrou na cena política tcheca há quatro anos.
"A maioria dos debates pré-eleitorais estão concentrados em se Babis é uma ameaça para a democracia e sobre quais partidos formariam uma coalizão com ele", disse à Agência Efe Jiri Pehe, comentarista político e diretor da New York University de Praga.
"Babis, por sua vez, acusa todos os demais partidos de corrupção e de tentarem manter o atual sistema corrupto", acrescentou o especialista, que foi assessor do ex-presidente Vaclav Havel.
De fato, as pesquisas anunciam uma "punição" para praticamente todos os outros partidos.
Segundo os levantamentos, os social-democratas perderão quase metade de seus eleitores e ficarão com 11%, o mesmo percentual apontado para o Partido Comunista da Boêmia e Morávia (KSCM).
As previsões são piores para a KDU, já que as pesquisas sequer asseguram que os democratas-cristãos obterão os 5% necessários para entrar na Câmara Baixa.
Na mesma situação estão as forças de centro-direita tradicionais, como os conservadores do Partido Democrático Cívico (ODS) e do TOP09, que governaram juntos entre 2010 e 2013.
Os analistas destacam que a forte queda dos partidos tradicionais e o fortalecimento de Babis acontecem em um momento no qual cerca de 80% dos tchecos se declaram satisfeitos com sua situação pessoal.
"Estas eleições estão vazias de temas reais, a divisão entre direita e esquerda desapareceu completamente e os temas principais são dois: Babis e o comércio do medo", afirmou Pehe.
O analista tcheco considera que esse "comércio do medo" consiste em "criar ameaças virtuais - como os imigrantes, o islã, o terrorismo, o medo de adotar o euro como moeda - e alguns políticos que lutam contra elas".
Na campanha, teve protagonismo a rejeição de quase todos os partidos ao sistema de redistribuição de refugiados aprovados pela UE, e ao qual o governo tcheco se opõe até o ponto em que Bruxelas abriu um expediente contra Praga.
Este debate foi aproveitado por alguns partidos para se posicionarem com slogans xenofóbicos e contrários aos muçulmanos, como o movimento "Democracia Direta e Liberdade" (SPD), do populista tcheco-japonês Tomio Okamura, que está ganhando popularidade.
"O mais surpreendente é que na República Tcheca não há migração, quase não há muçulmanos, não há ataques terroristas e o euro seria politicamente benéfico", opinou Pehe.
Para o especialista, a chave destas eleições não está em programas articulados em torno de temas positivos, mas nas coisas das quais as pessoas têm medo.
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