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Abe vence eleição e pode ter apoio para mudar Constituição pacifista do Japão

Shinzo Abe, primeiro-ministro do Japão - Yoshikazu Tsuno/AFP
Shinzo Abe, primeiro-ministro do Japão Imagem: Yoshikazu Tsuno/AFP

Ramón Abarca

22/10/2017 14h36

O primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, venceu as eleições deste domingo (22) com uma vantagem que abre caminho para uma polêmica reforma da Constituição pacifista do país.

Em um pleito antecipado marcado pela passagem de um poderoso tufão e baixa participação popular, o Partido Liberal Democrático (PLD) de Abe ficou com pelo menos 264 das 465 cadeiras da Câmara Baixa do Parlamento, com o qual garante a maioria absoluta.

A coalizão formada pelo PLD e o Komeito elegeu pelo menos 292 deputados, muito perto de obter a maioria de dois terços obtida nas eleições de dezembro de 2014, segundo dados da emissora "NHK".

Esses resultados, que colocam Abe em seu terceiro mandato, o que o transformará no primeiro-ministro que mais permaneceu no cargo na história do Japão, também podem garantir apoio suficiente para que ele consiga realizar uma prometida reforma da Constituição.

O primeiro-ministro, de 63 anos, prometeu mudar a Constituição de 1947, escrita após a derrota do Japão na Segunda Guerra Mundial, para dar um reconhecimento até agora inexistente no texto ao Exército do Japão, chamado de Forças de Autodefesa, e assim potencializar as capacidades militares do país internacionalmente.

Para realizar essa reforma histórica, que conta com forte oposição de parte dos japoneses e de países vizinhos, como a China e a Coreia do Sul, são necessários os votos de dois terços dos parlamentares. Depois, a medida deve ser aprovada em referendo.

"Para fazer a reforma da Constituição é preciso liderança, mas, ao mesmo tempo, compreensão do povo japonês. Farei tudo o possível para conseguir o maior apoio durante essa legislatura, trabalhando com os demais partidos", disse Abe hoje após reconhecer a vitória.

O primeiro-ministro poderá, além disso, dar sequência ao ambicioso programa econômico, iniciado em 2012 e conhecido como "Abenomics", que busca, através de estímulos, reformas e investimentos públicos, tirar o país da deflação crônica.

Abe convocou as eleições no fim de setembro, um ano antes do previsto, para aproveitar a fragilidade da oposição e uma alta em sua frágil popularidade graças à crise com a Coreia do Norte.

A decisão provocou um terremoto político com o desaparecimento da principal força de oposição, o Partido Democrático (PD), que governou entre 2009 e 2012, e que estava afundado em uma intensa batalha interna após resultados eleitorais desastrosos.

Uma divisão do setor mais liberal do PD, o Partido Constitucional Democrático do Japão, foi o segundo mais votado no pleito, com 48 cadeiras, superando as expectativas, e deve comandar a oposição.

A legenda liderada por Yukio Edano baseou toda a campanha em uma fervente oposição à reforma da Constituição defendida por Abe.

Por sua vez, Partido da Esperança, criado pouco antes das eleições pela popular governadora de Tóquio, Yuriko Koike, teve um decepcionante resultado, apesar de ter sido, em princípio, visto como uma alternativa real ao poder do PLD.

O partido de Koike, que focou a campanha na superação da velha política e defende o fechamento das usinas nucleares, tem 41 cadeiras nas projeções da "NHK".

A participação ficou em 53,6%, segundo a emissora pública, o que representaria um leve avanço em relação às eleições de 2014, quando o índice atingiu o mínimo histórico de 52,6%.

As eleições foram afetadas pela passagem do tufão Lan, que está provocando chuvas torrenciais e fortes ventos em grande parte do país, o que obrigou as autoridades a evacuar milhares de pessoas.

O tufão, que causou a morte de pelo menos duas pessoas e graves interrupções no sistema de transporte. Os horários de abertura e fechamento de algumas seções eleitorais também foram alterados. A apuração também foi atrasada em áreas de difícil acesso.