Eterna luta entre Stalin e Trotsky ultrapassou revolução russa e segue com descendentes
No centenário da revolução bolchevique, as figuras históricas de Josef Stalin e Leon Trotsky voltam a se chocar como fizeram após a morte de Vladmir Lenin em 1924, mas agora por meio de seus descendentes.
"Depois de Lenin, Trotsky foi a figura mais destacada da revolução de 1917. A confiança mútua no campo ideológico entre esses dois homens era total e absoluta", afirmou à Agência Efe Esteban Volkow, neto de Trotsky e residente no México.
Trotsky (1879-1940), fundador do Exército Vermelho, foi assassinado no México por ordem de Stalin (1878-1953), que sucedeu Lenin no Kremlin e ostentou o poder até sua morte em 1953, vários dias depois de sofrer uma hemorragia cerebral na sua datcha [casa de campo] nos arredores de Moscou.
Volkow, 91, considera que, após a morte de Lenin, seu avô não lutou pelo poder, como afirmam "falsamente" os historiadores, mas para "salvar a revolução".
Por outro lado, segundo comentou, o processo foi "traído" por Stalin e os "genuínos revolucionários acabaram com uma bala na nuca nos porões da Lubianka (sede da KGB em Moscou) ou, no melhor dos casos, no gulag", os campos de trabalho soviético.
"Stalin se considerava um comunista, mas não porque fosse membro do partido, e sim porque o principal objetivo da sua vida era construir o comunismo", contestou Yakov Dzhugashvili, bisneto de Stalin.
Para o homem que dirigiu a União Soviética com mão de ferro durante um quarto de século, o comunismo não se limitava - segundo seu bisneto - a repetir Karl Marx e Friedrich Engels como uma mantra, mas a criar um novo sistema, uma nova civilização.
"Em 1931, Stalin explicou assim: 'Estamos atrasados em 50 ou 100 anos dos países mais desenvolvidos. Devemos percorrer essa distância em dez anos'", lembrou Dzhugashvili, cujo avô, também Yakov, filho mais velho de Stalin, morreu em 1943 como prisioneiro de guerra dos alemães.
Para cumprir esta tarefa, o líder necessitava de um "instrumento de organização do povo: o Estado".
"Não qualquer Estado, mas um que estivesse a serviço do povo e não de uma classe concretamente. Isso não tinha sido feito por ninguém antes, só se tinha sonhado, e os bolcheviques decidiram torná-lo realidade arriscando não o café da manhã ou a liberdade, mas suas vidas", acrescentou Dzhugashvili.
Por sua vez, Volkow sustenta que "Stalin nunca foi o herdeiro de Lenin" e, embora admita que Trotsky também cometeu erros, lembra que se recusou a recorrer ao exército para tomar o poder.
"Lenin no seu testamento recomenda a remoção de Stalin por sua brutalidade e pelo excesso de poder que tinha acumulado", destacou.
Volkow considera importante distinguir os primeiros passos da União Soviética, "o quão progressista foi a economia planificada, do retrógrado e reacionário que foi o regime totalitário de Stalin, que não tem nada a ver com a revolução de outubro e o socialismo".
Entre os méritos de Trotsky, menciona que seu avô assentou as bases do partido que dirigiu a revolução, fundou o Exército Vermelho que ganhou a guerra civil e criou a teoria da "revolução permanente".
Por "defender as genuínas tradições do bolchevismo-leninismo e da revolução de outubro", Trotsky "foi abatido pela mão assassina de Stalin", lamentou Volkow, que vivia com seu avô quando foi assassinado por Ramón Mercader.
No entanto, Dzhugashvili argumenta que Stalin tentou arrebatar o poder do partido e cedê-lo ao povo já em 1936.
"Mas os opositores a esta reforma, os secretários das filiais regionais do partido, junto ao chefe do NKVD (precursor da KGB), Nikolai Yezhov, lançaram as repressões stalinistas em uma tentativa de abortar a reforma", justificou.
Como consequência, segundo afirmou, a reforma pretendida por Stalin fracassou e centenas de milhares de pessoas foram reprimidas nos conhecidos expurgos.
"A segunda tentativa aconteceu em 1952 no 19º congresso do partido. Essa tentativa custou a vida de Stalin. Eles o mataram. Lavrenti Beria, que identificou os criminosos, e propunha-se a castigá-los, também foi assassinado em junho de 1953", completou.
Dzhugashvili recordou ainda que Aleksandr Zinoviev, escritor, dissidente e expulso da União Soviética em 1978, admitiu pouco antes de morrer em 2006 que o sistema soviético foi "o auge da história" e Stalin "o maior dirigente político do século XX".
Em meio a essa eterna disputa, atualmente Volkow protege o legado do seu avô na casa museu de Trotski na Cidade do México, enquanto Dzhugashvili está centrado na sua carreira de pintor.
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