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Brincadeiras aliviam, mas não curam traumas infantis do terremoto no Irã

23/11/2017 10h03

Artemis Razmipour.

Teerã/Sarpul Zahab, 23 nov (EFE).- Os contos, as canções e as brincadeiras distraem só por alguns instantes as crianças afetadas pelo terremoto que sacudiu recentemente o oeste do Irã, e põem em evidência a falta de psicólogos e especialistas para curar seus traumas.

Enquanto aconteciam as operações de resgate de possíveis sobreviventes entre os escombros e de distribuição de alimentos e água, a prioridade na primeira semana após o terremoto, muitas crianças não tiveram o atendimento necessário por esta trágica situação.

"Tenho muito medo e pesadelos, não durmo nada durante a noite porque sinto que a qualquer momento vai haver uma réplica", disse à Agência Efe Rosta, de 12 anos, que perdeu sua casa no terremoto e está alojada temporariamente em uma barraca compartilhada por três famílias na cidade mais afetada, Sarpul Zahab, onde morreram 387 pessoas.

Mais grave é a situação dos que perderam os seus pais e dormem durante a noite sozinhos ou com conhecidos, ou ainda familiares distantes. Estão muito calados, e seu olhar revela uma profunda tristeza e medo desde o terremoto, que deixou mais de 430 mortos e 10 mil feridos.

A responsável do Instituto para o Desenvolvimento Intelectual de Crianças e Adolescentes da província de Quermanxa, epicentro do terremoto, Mahnaz Fatahi, explicou à Efe que os menores "não podem compreender o motivo pelo qual perderam suas famílias e suas casas".

"A maioria chora, se sentem muito sozinhos, realmente precisam de alguém que os acalme", disse Mahnaz, cuja organização governamental está encarregada de apoiar as crianças afetadas pelo terremoto, de 7,3 graus na escala Richter.

A mulher lamentou que os esforços não são suficientes e ressaltou a notável "ausência de psicólogos e assessores para essas crianças".

As equipes da Fundação foram aos povoados atingidos, como Sarpul Zahab, um dia depois do tremor, com bibliotecas ambulantes e brinquedos para levar algum entretenimento para as crianças.

"Demos de presente livros e nos apresentamos lá para cantar canções e contar histórias. Também organizamos brincadeiras e pedimos a eles que nos desenhem os seus desejos", detalhou Mahnaz.

Dezenas de crianças se aproximaram do carro do instituto em Sarpul Zahab, onde três dos membros organizaram um concurso.

Os vencedores eram premiados com livros e bonecas, uma das quais foi para Rosta. Ao ter perdido todos os seus brinquedos no terremoto, a menina ficou contente por ter algo. No entanto, esta distração e alegria são temporárias.

Outro dos participantes do concurso, Sogand, de 13 anos, lamentou sua situação, embora se sinta grato porque sua família está bem e que só seu pai sofreu uma fratura na perna.

"Estamos deslocados, perdemos tudo no terremoto, agora somos pobres e nossa casa está totalmente destruída", disse Sogand.

Mais de 30 mil casas foram destruídas ou danificadas. Os trabalhos de reconstrução e as operações para dar abrigo temporário às famílias afetadas correm contra o tempo devido à chegada das chuvas e do frio do inverno.

Enquanto isso, as crianças vão continuar recebendo brinquedos e livros, segundo Mahnaz, que considerou, no entanto, que agora que a situação está mais tranquila na região, é o momento de dar "mais ajuda psicológica".

Para ela, as crianças "precisam mais do que nunca de apoio e ajuda moral e psicológica, de alguém que as abrace, console e explique a morte".