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"Raúl Reyes", número dois das Farc, abusava sexualmente das guerrilheiras

23/11/2017 19h26

Bogotá, 23 nov (EFE).- O antigo número dois das Farc Luis Édgar Devia, conhecido como "Raúl Reyes", morto em 2008, abusou sexualmente das guerrilheiras de sua escolta, às quais "amedrontava" para garantir seu silêncio, segundo um relatório do Centro Nacional de Memória Histórica (CNMH).

O documento, intitulado "A Guerra inscrita no corpo", que foi publicado na última terça-feira e que será apresentado de maneira oficial nesta sexta-feira, inclui o testemunho de uma ex-combatente das Farc que fazia parte da escolta de Reyes e que denuncia repetidos abusos sexuais contra ela e outras guerrilheiras.

"Ele gostava de abusar das moças. Não fui só eu, cada menina que chegava ele as pegava para a escolta", relata "Gina", ex-guerrilheira que foi recrutada aos nove anos no departamento do Putumayo e que fez parte da escolta de Reyes durante 16 anos.

A vítima acrescenta: "Na primeira vez que ele queria estar comigo e eu não queria, me deu uma bofetada e me insultou, me disse que lá se fazia o que ele dissesse e não o que nós quiséssemos".

O estudo constata que no país houve mais de 15 mil vítimas de violência sexual em cinco décadas de conflito armado, 91,6% delas mulheres.

Reyes, que foi de porta-voz das Farc no fracassado processo de paz de El Caguán (1998-2002), foi o primeiro membro do secretariado (comando coletivo) da guerrilha a ser abatido pelas Forças Armadas colombianas, em 1º de março de 2008, no Equador.

Embora o estupro fosse proibido pelas normas da guerrilha, hoje desarmada e transformada em partido político, o relatório aponta que os atos de Reyes ficavam "em segredo" e que "o poder do agressor era suficiente para amedrontar e garantir o silêncio das suas ações".

O documento também especifica que as principais vítimas de violência sexual na guerrilha eram "as meninas e adolescentes" recrutadas de maneira forçada.

"A relação entre recrutamento de meninas e adolescentes e violência sexual no interior das Farc foi comum nestes casos nos quais se repetiram e cresciam no interior das fileiras discursos que colocavam os corpos das meninas como prêmio para os altos comandantes", acrescentam os investigadores do CNMH.

As histórias relatadas no documento também apontam a guerrilha do Exército de Libertação Nacional (ELN) e grupos paramilitares como autores de muitos dos atos de violência, onde se repetiam os padrões de vitimar especialmente mulheres recrutadas de maneira forçada.

Segundo os dados do CNMH, os paramilitares foram responsáveis por 32,2% dos atos de violência sexual e as guerrilhas por 31,5% do total, embora também reconheça outros agressores, como agentes da polícia.