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Akihito, o imperador que aguara a aposentadoria com paciência e discrição

01/12/2017 12h43

Ramón Abarca.

Tóquio, 1 dez (EFE).- O discreto Akihito, único monarca com o título de imperador, terá que esperar até 2019 para abdicar, depois de 30 anos sem sobressaltos à frente do milenar Trono do Crisântemo.

O governo japonês anunciou nesta sexta-feira que o adeus do imperador de 83 anos acontecerá em 30 abril de 2019, três anos depois de expressar o desejo de se aposentar por "cansaço". Akihito, cujo delicado estado de saúde é motivo de preocupação há mais de uma década, surpreendeu os japoneses em agosto do ano passado, quando se dirigiu ao país para explicar que, por causa da sua avançada idade e da condição física, seria difícil "continuar assumindo grandes responsabilidades".

Foi um discurso bastante raro para um homem conhecido pela extrema discrição e que se tornou em 7 de janeiro de 1989 o único imperador japonês a chegar ao trono sem o halo divino dos antecessores. Antes daquela vez, o imperador só tinha falada com o seu povo quando o terremoto e o posterior tsunami de 11 de março de 2011 devastaram o país e mataram quase 20 mil pessoas.

A data da abdicação - a primeira do Japão em 200 anos - foi decidida pelo governo e o processo representa uma dor de cabeça para o formalismo japonês, já que a Lei de Sucessão no país não contempla que o imperador ceda o posto ainda em vida ao herdeiro.

Elegante, mas de aparência frágil, Akihito passou por uma cirurgia de câncer na próstata, em 2003; sofreu uma hemorragia estomacal, em 2008 - doença que levou o seu pai, Hirohito, à morte, aos 87 anos -; e fez uma cirurgia coronária, em 2012.

O imperador, que a Carta Magna japonesa define como "símbolo do Estado e da unidade do povo", tem papel meramente figurativo, mas mesmo com as limitações do protocolo e da lei sempre mostrou vontade de se envolver com a população. Não à toa a maioria dos japoneses entende a vontade de sair do imperador e vê nele uma figura da estabilidade e continuidade.

Desde a cerimônia de posse, em 12 de novembro de 1990, após a morte do seu pai um ano e dez meses antes, Akihito conviveu com 16 primeiros-ministros e 24 governos diferentes. Nas suas escassas falas em público, ele tentou responder ao nome designado ao período iniciado com a sua chegada ao trono, a Era Heisei, que significa paz.

O marcante tom pacifista ficou especialmente visível em 2015, quando o fim da II Guerra Mundial completou 70 anos e ele se mostrou arrependido pelas agressões cometidas pelo Exército Imperial no conflito. O imperador resolveu então fazer a "Excursão da paz" para homenagear às vítimas em territórios ocupados pelo Japão, como a Ilha de Saipan, Palau e Filipinas. Atualmente, no entanto, ele mostra clara distância da atitude revisionista da História feita pelo governo do conservador Shinzo Abe.

Nascido em 23 de dezembro de 1933 e educado por rigorosos professores imperiais, durante a II Guerra Mundial, quando ele ainda era criança, foi enviado para as montanhas de Nikko para se esconder. Quando foi proclamado herdeiro, em 1952, por ser o único filho homem do seu pai, já sabia que o seu papel se limitaria a tarefas de representação.

Akihito começou a romper os padrões, embora sempre de maneira prudente, em 1959 quando se tornou o primeiro herdeiro ao trono a se casar com uma plebeia, a atual imperatriz Michiko, que ele conheceu durante uma partida de tênis. Também decidiu educar pessoalmente os filhos, viajar em avião comercial, visitar a China (também invadida no reinado do pai) e se reunir com um papa.

Fã de tênis, respeitado especialista no estudo científico do gobio gobio, violoncelista e poeta, Akihito tem três filhos e quatro netos. Seu herdeiro será Naruhito, de 57 anos, que só teve Aiko, uma menina de 15. Depois de Naruhito, o encarregado de dar sequência à linha sucessória será o sobrinho dele, Hisahito, de 11 anos, o único príncipe homem nascido no Trono do Crisântemo em quatro décadas.