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Justiça turca julga 148 acadêmicos que assinaram manifesto a favor da paz

05/12/2017 08h32

Istambul, 5 dez (EFE).- Um tribunal de Istambul iniciou nesta terça-feira um polêmico julgamento de 148 acadêmicos acusados de "divulgar propaganda terrorista" por assinar um manifesto a favor da paz nas regiões curdas da Turquia.

A Promotoria pede 7 anos e meio de prisão para os acusados de suposta propaganda a favor do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), a guerrilha curda na Turquia, considerada organização terrorista por Ancara, Estados Unidos e União Europeia (UE).

A ONG Human Rights Watch (HRW) advertiu hoje que as acusações contra os acadêmicos são injustificadas e que o julgamento mostra a influência do Governo sobre o poder judicial.

"Não há nada no manifesto que justifique uma acusação tão absurda. Levar os acadêmicos a julgamento mostra o afã do Governo turco de estabelecer um sistema de justiça penal contra quem não está de acordo com ele", afirma a HRW em comunicado.

Mais de 2 mil acadêmicos de 80 universidades turcas assinaram um manifesto em janeiro de 2016 no qual denunciavam que o Exército turco estava cometendo "massacres" durante as operações contra o PKK no sudeste do país.

Pelo menos 463 signatários foram expulsos de suas universidades, dos quais 380 não poderão exercer a profissão em nenhuma instituição pública por ordem de um decreto emitido sob estado de emergência que dá amplos poderes ao Governo e está vigente desde meados de 2016.

Um dos acadêmicos processados, o professor Ibrahim Kaboglu, declarou à Agência Efe por telefone que seu processo e os decretos do Governo que provocaram sua expulsão da carreira contradizem as convenções internacionais e mostram uma grande falta de humanidade.

"Espero que ainda haja juízes em toda Turquia, que ao ver uma briga, queiram separar e acalmar as duas partes, sem buscar o lado correto ou incorreto. A nossa inocente reivindicação é essa", declarou ao jornal "BirGün Kuvvet Lordoglu" outro acadêmico processado.

O julgamento dos 148 acadêmicos deve durar, previsivelmente, até 17 de maio do próximo ano, e espera-se que durante este período sejam abertos novos processos contra os outros acadêmicos que assinaram o manifesto de paz.