Topo

Vencedores dos prêmios Nobel também exibem talento em outras áreas

Richard Thaler, ganhador do prêmio Nobel de Economia de 2017 - University of Chicago Booth School of Business/Reuters
Richard Thaler, ganhador do prêmio Nobel de Economia de 2017 Imagem: University of Chicago Booth School of Business/Reuters

Carmen Rodríguez

09/12/2017 09h24

Estocolmo, 9 dez (EFE).- Economistas com uma efêmera carreira de atores; químicos, escritores; literatos que levam sua prosa a roteiros de cinema e televisão ou físicos assessores cinematográficos. Os vencedores dos prêmios Nobel deste ano são a prova de que o talento não tem limites nem se modela em uma só direção.

É o caso do nobel de Economia Richard Thaler que pode vangloriar-se de ter feito seus primeiros, e talvez últimos, passos na atuação com um filme vencedor de um Oscar, "A Grande Aposta" (2015), e ao lado de Selena Gómez.

A estreia de Thaler foi apenas uma "ponta" na qual interpretava a si mesmo: o pai da economia comportamental, disciplina que incorpora a análise de como pensam e atuam as pessoas quando tomam decisões econômicas, pois nem sempre fazem isso de maneira racional.

O novo Nobel aparece apenas três minutos na tela junto com a cantora em frente a uma mesa de blackjack e, enquanto ela aposta, Thaler lhe explica alguma das causas que levaram à crise de 2008.

Para isso recorre à chamada "falácia da boa sequência", por meio da qual as pessoas acreditam, sem fundamentos racional, que o que ocorre agora seguirá acontecendo no futuro, de modo que, quando Selena Gómez aposta contra a banca, ocorre uma cascata de apostas entre os observadores curiosos sobre se ela ganhará ou não.

"A Grande Aposta", dirigido por Adam McKay e vencedor do Oscar de melhor roteiro adaptado, aborda a gestação da crise financeira de 2008 e conta com a participação de especialistas que explicam conceitos econômicos complicados.

O vencedor do Nobel Kazuo Ishiguro - Getty Images - Getty Images
Kazuo Ishiguro, ganhador do Nobel de Literatura
Imagem: Getty Images

Roteiros e romances

Escrever romances ou elaborar roteiros podem parecer atividades não tão distantes, mas para o Nobel de Literatura, Kazuo Ishiguro, são experiências totalmente diversas.

"Enquanto escrevo quero que meu romance funcione única e exclusivamente como um romance e o meu roteiro funcione unicamente como um filme", explicou ao blog especializado "Readers Read".

O britânico de origem japonesa, conhecido entre o grande público por "Vestígios do Dia", adaptação cinematográfica do romance com o qual ganhou o Booker Prize em 1989, escreveu vários roteiros para filmes de televisão, como os de "A Condessa Branca" (2005) e do musical "A Música Mais Triste do Mundo" (2003).

No entanto, Ishiguro não se encarregou da adaptação de seu romance, mas trabalhou na produção de "Vestígios do Dia" e de "Não Me Abandone Jamais", que primeiro foi filme e depois série televisiva no Japão.

Química e literatura

O mundo das letras é a segunda casa de Joachim Frank, que, além de conseguir o Prêmio Nobel de Química 2017 pelo desenvolvimento da crio-microscopia eletrônica, se dedica há mais de 30 anos à literatura.

Relatos como "O competidor", "O nadador" e "A lacuna no seu coração" - uma história ambientada em Madri, na qual o Museu do Prado e Goya têm um papel destacado - são a carta de apresentação literária deste Nobel científico.

Sejam histórias de ficção ou biográficas, o Nobel da Medicina, Jeffrey Hall, um dos três premiados pelos seus trabalhos sobre os ritmos circadianos, é um apaixonado pela Guerra Civil americana.

Autor do livro "The Stand of the U.S. Army at Gettysburg" (2003) e professor de um curso sobre essa batalha na Universidade de Brandeis, em meados dos anos 90 levou um grupo de 250 biólogos moleculares de visita na Universidade de Princeton a um tour de um dia pelos campos de batalha históricos mais próximos.

O cinema também aparece entre os interesses do Nobel de Física, Kip Thorne, embora neste caso não como ator, pois inclusive foi um personagem interpretado por Enzo Cilenti, em "A Teoria de Tudo" (2014) sobre a vida de Stephen Hawking, de quem é amigo.

Thorne, premiado pela sua contribuição à detecção das ondas gravitacionais, foi também produtor-executivo e assessor científico de "Interestelar" (2014), de Christopher Nolan.

Um filme no qual a história é tão importante quanto a exatidão da ciência na qual se baseia e a verossimilhança daquilo que "inventa" para permitir as viagens no tempo através de um buraco de minhoca.

Agora, Thorne tem entre mãos um novo projeto cinematográfico junto com Hawking e a produtora Lynda Obst, e outro artístico em forma de livro junto à pintora Lia Halloran sobre o "Lado deformado do Universo", que reúne a poesia do cientista e as obras da jovem.