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Milhares de pessoas se despedem de Miguel I, último rei da Romênia

14/12/2017 14h55

Raúl Sánchez Costa.

Bucareste, 14 dez (EFE).- Milhares de romenos foram nesta quinta-feira ao Palácio Real de Bucareste para mostrar seu respeito e se despedir do rei Miguel I da Romênia, que morreu no dia 5 de dezembro, aos 96 anos de idade.

No primeiro dos três dias de luto decretado pelo Governo, uma longa fila cerca o Palácio, em cuja Sala do Trono foi colocado ontem o caixão de Miguel Hohenzollern-Sigmaringen, que reinou como Miguel I entre 1927 e 1930 e, depois, entre 1940 e 1947, quando foi forçado a abdicar pelo regime comunista.

"Se tivessem permitido a ele entrar no país e restaurar a monarquia, após a queda do comunismo em 1989, estaríamos agora muito melhor", lamentou à Agência Efe Alexandru, um aposentado de 73 anos que está disposto a esperar as três horas de fila para se despedir do monarca.

Após a sua abdicação, Miguel se exilou na Suíça junto com sua mãe, a rainha Elena, e alguns serviçais.

Após a queda da ditadura comunista, em 1989, Miguel I viajou para a Romênia, mas as autoridades o obrigaram a abandonar o país.

A reconciliação e a permissão para voltar à Romênia só aconteceu em 1997, quando foi permitido seu retorno e a recuperação de parte do seu patrimônio, entre eles vários palácios.

Em 2011 o Senado reconheceu seus direitos como ex-chefe de Estado.

Junto do caixão com o corpo do monarca, coberto com o estandarte da Casa Real romena, um livro de condolências permitia aos cidadãos deixar uma mensagem de despedida.

Fora do prédio, na cerca que rodeia o Palácio se acumulavam as coroas de flores e fotos do monarca.

A poucos metros, uma mulher explicou aos seus dois filhos gêmeos de cinco anos quem foi Miguel.

"Quero que meus filhos saibam que estamos vivendo um momento histórico e o que Miguel representou para a Romênia", disse à Efe Mariela, de 36 anos.

"(Miguel) pode ser considerado um herói, um verdadeiro líder que amou o povo romeno", assegurou Gabriela, uma farmacêutica de 57 anos, depois de depositar uma vela e um ramo de flores em memória do rei.

Segundo diferentes pesquisas, 30% dos romenos apoiam a reinstalação da monarquia na Romênia.

O caixão com o corpo de Miguel I chegou ontem de avião a Bucareste, de onde foi levado ao Castelo de Peles.

Lá, a família real recebeu as condolências do presidente romeno, Klaus Iohannis, e do primeiro-ministro, Mihai Tudose.

Ontem à noite, o caixão de Miguel I foi levado ao Salão do Trono do Palácio Real, onde ficará exposto até amanhã.

No sábado será realizada uma breve cerimônia religiosa e militar na frente ao Palácio Real, antes que o cortejo fúnebre acompanhe o caixão até a Catedral Patriarcal de Bucareste, onde será realizada uma missa.

Os reis Juan Carlos e Sofia da Espanha irão a ambos os atos, assim como o príncipe Charles da Inglaterra e os reis da Suécia, Carlos Gustavo e Silvia, entre outros convidados.

Nessa mesma tarde, Miguel I será enterrado na nova Catedral Ortodoxa, onde já repousa sua esposa Ana, que morreu em agosto de 2016.

Miguel I, nasceu em 25 de outubro de 1921, filho do então príncipe herdeiro Carlos e de Elena da Grécia, e neto do rei Fernando I da Romênia.

Quando seu pai, Carlos II, renunciou ao trono, Miguel foi nomeado príncipe herdeiro e coroado rei em 1927 após a morte do seu avô Fernando.

Ocupou o trono até 1930, quando Carlos retornou à Romênia, depôs seu filho e se proclamou rei.

Dez anos depois, com a II Guerra Mundial iniciada e a Romênia sob a ditadura do marechal Ion Antonescu, aliado da Alemanha nazista, Carlos voltou a fugir e Miguel foi proclamado de novo rei.

A sua condição de "rei fantoche" do regime filonazista romeno terminou em 1944, quando liderou um golpe contra Antonescu, responsável de ter enviado para o extermínio cerca de 300 mil judeus romenos, e se uniu aos Aliados.

Após a invasão soviética da Romênia, Miguel I se viu primeiro obrigado a nomear um governo dominado pelo Partido Comunista e em dezembro de 1947 foi forçado a abdicar.