Jogadoras indígenas da Guatemala tecem uniformes e buscam espaço no futebol
Dafne Pérez.
Nahualá (Guatemala), 17 dez (EFE).- "Verónica, lute!", grita o treinador Miguel Perechú alternando o quiché (língua maia) e o espanhol na beira de um campo de futebol na cidade de Xejuyup, na Guatemala. Ao lado, Verónica, Ana, Hilaria, Lidia, Juana e outras 20 adolescentes e mulheres de 14 a 34 anos esperam o momento de entrar em uma partida pela primeira equipe feminina do país centro-americano a jogar com o traje ancestral como uniforme.
O grito de Perechú ilustra a luta destas mulheres para conseguir um espaço no futebol, que nas aldeias conservadoras do interior da Guatemala é reservado para os homens, e também para usar com orgulho a vestimenta que desde a época colonial as fez alvo de discriminação. Algo que o treinador sabe bem.
"Quando minha mãe vai no caminhão, embora já seja mais velha, as pessoas não cedem o lugar quando a veem com o traje", contou ele à Agência Efe, enquanto suas pupilas corriam atrás da bola.
A capitã do time, Manuela Hilaria Chox, de 34 anos, lembrou que desde menina jogava futebol com os garotos da aldeia e queria "estudar para ser professora de educação física", mas seus pais não a apoiaram.
De qualquer forma, ela nunca desistiu de seu sonho e se dedicou à docência. Hoje é formada em Pedagogia e em Administração Educativa e se emociona ao ver quanta gente veio ver seus jogos.
"Antes não vinham para ver as partidas, mas agora já vemos mais famílias", contou.
Há mais ou menos 10 anos, Manuela começou a notar mais igualdade nas oportunidades para as mulheres de sua aldeia, uma situação que aumenta com a possibilidade de pertencer a um time de futebol. A ideia nasceu do trabalho de Perechú, professor de educação física que também dirige uma equipe masculina fundada em 1982 por seu pai, Antonio, que também joga com o traje ancestral.
O objetivo é conservar seu uso e preservar sua história, mas na modalidade feminina, sua intenção também é que seja levado em conta o talento das mulheres, assim como o dos homens.
Embora a maioria delas já praticasse algum esporte, a convocação de Miguel as levou a se organizar em um só time. O treinador selecionou as que tinham maior potencial e, com paciência e persistência - algumas meninas tiveram que ser buscadas em casa para que seus pais as deixassem jogar -, vem conseguindo levar o projeto adiante.
Enma Cotí, de 25 anos, fala com timidez, mas não esconde a gratidão: "Miguel não nos deixou de lado". Já Juana Cortí, meio-campista, acrescenta que a ideia de jogar com o traje foi dele, embora não seja utilizado nos treinamentos porque "pesa muito".
O traje do município de Nahualá é composto por uma Popa Po't, nome do güipil (ou blusa) de cor branca e com bordados coloridos no pescoço, no qual adicionadas figuras animais ou representações de "Qucumatz", a serpente emplumada, divindade mitológica quiché criadora da humanidade, segundo o Popol Vuh.
Além disso, tem o Uq, que no traje tradicional é uma saia, mas que a equipe adaptou para transformar em um calção azul escuro ou preto com bordados coloridos nos lados.
A maioria das jogadoras tem o cabelo comprido até a cintura, e antes de entrar em campo para jogar faz um rabo de cavalo e adapta o Ixpache'k, uma fita colorida trançada que é utilizada para levar jarras ou cestas sobre a cabeça, em forma de coroa.
O costume da aldeia é que todas as meninas aprendam a tecer desde os 10 anos. Por isso, a maioria das integrantes do time de futebol feminino de Xejuyup teceu e bordou seu próprio uniforme, que também é utilizado como traje diário.
O treinador está feliz, pois em breve seu time feminino jogará um quadrangular ao qual técnicos da principal liga feminina assistirão para selecionar as melhores. Para ele, ter jogadoras que consigam realizar seus sonhos esportivos representa empoderá-las e dizer ao mundo que todas têm orgulho do traje.
Nahualá (Guatemala), 17 dez (EFE).- "Verónica, lute!", grita o treinador Miguel Perechú alternando o quiché (língua maia) e o espanhol na beira de um campo de futebol na cidade de Xejuyup, na Guatemala. Ao lado, Verónica, Ana, Hilaria, Lidia, Juana e outras 20 adolescentes e mulheres de 14 a 34 anos esperam o momento de entrar em uma partida pela primeira equipe feminina do país centro-americano a jogar com o traje ancestral como uniforme.
O grito de Perechú ilustra a luta destas mulheres para conseguir um espaço no futebol, que nas aldeias conservadoras do interior da Guatemala é reservado para os homens, e também para usar com orgulho a vestimenta que desde a época colonial as fez alvo de discriminação. Algo que o treinador sabe bem.
"Quando minha mãe vai no caminhão, embora já seja mais velha, as pessoas não cedem o lugar quando a veem com o traje", contou ele à Agência Efe, enquanto suas pupilas corriam atrás da bola.
A capitã do time, Manuela Hilaria Chox, de 34 anos, lembrou que desde menina jogava futebol com os garotos da aldeia e queria "estudar para ser professora de educação física", mas seus pais não a apoiaram.
De qualquer forma, ela nunca desistiu de seu sonho e se dedicou à docência. Hoje é formada em Pedagogia e em Administração Educativa e se emociona ao ver quanta gente veio ver seus jogos.
"Antes não vinham para ver as partidas, mas agora já vemos mais famílias", contou.
Há mais ou menos 10 anos, Manuela começou a notar mais igualdade nas oportunidades para as mulheres de sua aldeia, uma situação que aumenta com a possibilidade de pertencer a um time de futebol. A ideia nasceu do trabalho de Perechú, professor de educação física que também dirige uma equipe masculina fundada em 1982 por seu pai, Antonio, que também joga com o traje ancestral.
O objetivo é conservar seu uso e preservar sua história, mas na modalidade feminina, sua intenção também é que seja levado em conta o talento das mulheres, assim como o dos homens.
Embora a maioria delas já praticasse algum esporte, a convocação de Miguel as levou a se organizar em um só time. O treinador selecionou as que tinham maior potencial e, com paciência e persistência - algumas meninas tiveram que ser buscadas em casa para que seus pais as deixassem jogar -, vem conseguindo levar o projeto adiante.
Enma Cotí, de 25 anos, fala com timidez, mas não esconde a gratidão: "Miguel não nos deixou de lado". Já Juana Cortí, meio-campista, acrescenta que a ideia de jogar com o traje foi dele, embora não seja utilizado nos treinamentos porque "pesa muito".
O traje do município de Nahualá é composto por uma Popa Po't, nome do güipil (ou blusa) de cor branca e com bordados coloridos no pescoço, no qual adicionadas figuras animais ou representações de "Qucumatz", a serpente emplumada, divindade mitológica quiché criadora da humanidade, segundo o Popol Vuh.
Além disso, tem o Uq, que no traje tradicional é uma saia, mas que a equipe adaptou para transformar em um calção azul escuro ou preto com bordados coloridos nos lados.
A maioria das jogadoras tem o cabelo comprido até a cintura, e antes de entrar em campo para jogar faz um rabo de cavalo e adapta o Ixpache'k, uma fita colorida trançada que é utilizada para levar jarras ou cestas sobre a cabeça, em forma de coroa.
O costume da aldeia é que todas as meninas aprendam a tecer desde os 10 anos. Por isso, a maioria das integrantes do time de futebol feminino de Xejuyup teceu e bordou seu próprio uniforme, que também é utilizado como traje diário.
O treinador está feliz, pois em breve seu time feminino jogará um quadrangular ao qual técnicos da principal liga feminina assistirão para selecionar as melhores. Para ele, ter jogadoras que consigam realizar seus sonhos esportivos representa empoderá-las e dizer ao mundo que todas têm orgulho do traje.
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