Topo

Reconciliação e frustração com decisão americana marcaram ano na Palestina

22/12/2017 22h04

Ana Cárdenes.

Jerusalém, 22 dez (EFE).- Os palestinos fecham o ano de 2017 com avanços na reconciliação interna, mas com uma enorme frustração com o reconhecimento de Donald Trump de que Jerusalém como a capital de Israel, que fez com que fosse dado por encerrado o papel dos Estados Unidos como mediador do conflito.

A decisão americana, que chegou de surpresa em dezembro, jogou um balde de água fria nos contatos que desde há dez meses os palestinos mantinham com Washington, por insistência da Casa Branca em reiniciar o processo de paz. Apesar de não haver grandes esperanças com o "Pacto do Século" prometido pela Administração Trump, o reconhecimento de Jerusalém como capital - contrário ao consenso internacional e a sete décadas de resoluções da Organização das Nações Unidas (ONU) - representou para a liderança palestina o fechamento de qualquer possibilidade de diálogo mediado pelos Estados Unidos.

"Nunca existirá um Estado palestino sem Jerusalém Oriental como a sua capital", disse Saeb Erekat, secretário-geral da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), enquanto o presidente, Mahmoud Abbas, renunciou aos Acordos de paz de Oslo (1993) e pactos anteriores.

A decisão de Trump abriu uma dúvida sobre qual será o andamento dos esforços internacionais para a paz e se a solução de dois Estados continuará valendo. A União Europeia (UE) reiterou que esse é a única maneira que reconhece, mas não sugeriu caminhos a explorar.

O ano também foi marcado pelos avanços, delicados, mas mais resolvidos do que em outras ocasiões, na reconciliação do movimento islamita Hamas com o nacionalista Fatah - liderado por Abas e que controla a Autoridade Nacional Palestina (ANP) e a OLP.

Em abril, Abbas ameaçou tomar "medidas sem precedentes" contra Gaza se o Hamas não entregasse o poder e implementou várias delas, como cortar o salário dos funcionários, limitar o envio de remédios e suspender o pagamento da energia elétrica, o que levou 2 milhões de pessoas a sofrer cortes de luz de até 20 horas por dia e que ainda continuam.

Após dez anos de controle absoluto em Gaza e uma divisão que várias tentativas não conseguiram escavar, o Hamas aceitou em outubro, com mediação egípcia, devolver o comando da região à ANP. O primeiro-ministro palestino, Rami Hamdallah, foi à Faixa de Gaza em novembro para organizar a devolução do controle de ministérios e fronteiras. Também foram acertadas compensações, além do perdão, entre as famílias das vítimas dos violentos enfrentamentos de junho de 2007, quando o Hamas tomou o poder e expulsou às forças leais a Abbas.

Apesar dos avanços, ainda ficam os principais empecilhos entre as duas facções. A maior é a entrega de armas dos islamitas - tanto da segurança interior quanto das milícias - e o futuro dos milhares de funcionários públicos contratados pelo Hamas ao longo desta década.

Em dezembro, as diferenças se tornaram evidentes e começaram a aparecer queixas dos dois lados: a ANP lamentando a transferência de poder não ter sido concluída e o Hamas reprovando o fato de a ANP não ter suspendido as sanções, enquanto os 2 milhões de moradores se sentem trancados num território com recursos limitados e sem esperanças de futuro.

Se a reconciliação se consolidar, resta saber como Israel reagirá perante um governo palestino com participação dos islamitas, considerado grupo terrorista pelos israelenses, da mesma forma que União Europeia, Estados Unidos e outros países.

Caso o que foi estipulado seja cumprido, os palestinos deverão realizar eleições em 2018. A última eleição para presidente foi em 2005 e o último pleito geral foi em 2006, quando o Hamas ganhou com maioria absoluta.

Paira nas ruas palestinas um desencanto com a liderança política, manifestada durante a chamada Crise da Al-Aqsa, em julho, quando milhares de palestinos, liderados por movimentos sociais e líderes islâmicos, tiveram uma queda de braço com Israel por causa das medidas de segurança em torno da Esplanada das Mesquitas após um ataque de três árabes israelenses contra dois policiais. Tanto os autores da ação quanto os agentes morreram.

Após semanas de tensão, os palestinos conseguiram com que Israel se retratasse e retirasse a segurança reforçada, que era entendida como uma mudança do status quo. Mais do que resistência contra os detectores de metais, se tratou de uma forte rejeição à soberania israelense nessa parte da cidade, num ano em que a ocupação (após a Guerra dos Seis Dias) completa 50 anos e que Israel celebrou em grande estilo, no que chamou de "A reunificação da cidade".