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Itália reduz em 34% a chegada de imigrantes pelo Mediterrâneo em 2017

30/12/2017 08h10

Gonzalo Sánchez.

Roma, 30 dez (EFE).- A chegada de imigrantes à Itália pelo perigoso caminho do Mediterrâneo Central foi reduzida em quase 34% em 2017, uma resultado obtido após criticados acordos feitos com a Líbia e devido à atuação de diversas missões na África.

De 1º de janeiro deste ano até 29 de dezembro, 119.310 imigrantes foram resgatados no mar e levados posteriormente a portos italianos, um número 33,86% menor do que os 180.380 que chegaram em 2016, de acordo com dados divulgados pelo Ministério do Interior.

A maior parte dos imigrantes veio da África: 18.153 eram nigerianos, 9.693 de Guiné e outros 9.504 da Costa do Marfim. Do total, 15.731 eram menores de idade não acompanhados.

Quase todos chegaram à Itália após um longo e extenuante périplo através do deserto, passando pelo "inferno" da Líbia, onde traficantes de pessoas cometem sequestros e torturas.

De lá, os imigrantes cruzam o Mar Mediterrâneo em precárias barcaças, o que tornou a rota como a mais letal do mundo. Segundo a Organização Internacional para as Migrações (OIM), 2.832 imigrantes morreram neste ano entre o Norte da África e a Itália.

Um gráfico do Departamento de Segurança Pública da Itália mostra como a chegada de imigrantes continuou alta durante a primeira metade do ano, mas começou a cair a partir de julho.

Um porta-voz da Agência de Refugiados da ONU (Acnur), Federico Rossi, explicou à Agência Efe que o principal motivo para a redução foi um acordo entre a Itália e algumas das autoridades da Líbia.

O pacto foi resultado de uma "complexa manobra política e diplomática", segundo o ministro do Interior, Marco Minniti, responsável pela estratégia para lidar com o problema.

Outro fator que contribuiu foi a conduta das ONGs que atuam na região do Mediterrâneo para resgatar os imigrantes.

Em fevereiro, o primeiro-ministro da Itália, Paolo Gentiloni, e o presidente do Conselho Presidencial da Líbia, Fayed al Serraj, assinaram em Roma um memorando que garantia apoio técnico e financeiro italiano aos líbios.

O objetivo era ampliar o controle no norte e do sul da Líbia. Por um lado, os agentes líbios deveriam ser treinados para combater os traficantes que oferecem as viagens pelo Mediterrâneo. De outro, eles também deveriam fiscalizar a fronteira sul, por onde entram os imigrantes que querem chegar até a Europa.

Apesar de o acordo ter surtido o efeito desejado, diversas ONGs denunciaram o pacto por considerarem que muitos imigrantes foram obrigados a permanecer na Líbia. Muitos deles, inclusive, chegaram a ser comprados e vendidos como se fossem escravos.

No último dia 11 de dezembro, a Anistia Internacional denunciou que o acordo entre a Itália e a Líbia presta "pouca atenção" para as consequências para as pessoas presas em um país onde "reina a anarquia".

"Funcionários da Guarda Costeira da Líbia operam notoriamente de acordo com as redes de traficantes e recorrem à violência e às ameaças contra os imigrantes em barcos à deriva", escreveu a Anistia Internacional em um relatório.

Em uma tradicional entrevista coletiva de final de ano, Gentiloni celebrou a "redução drástica" da chegada de imigrantes e do número de vítimas na travessia.

O primeiro-ministro também afirmou que as repatriações de imigrantes aumentaram em relação ao ano passado: de 1.200 em 2016 para quase 20.000 neste ano.

Segundo Gentiloni, o esforço da Itália para controlar o fluxo migratório continuará. Nos próximos meses, uma missão militar será enviada a Níger para controlar as fronteiras do país e treinar os agentes locais para lutar contra os traficantes de pessoas.