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Perfumaria tradicional indiana de 200 anos sobrevive a grandes marcas

31/12/2017 10h00

Noemí Jabois.

Nova Délhi, 31 dez (EFE).- Uma variedade de aromas se mistura com o barulho da região velha de Délhi, na Índia, vários metros antes de chegar à popular perfumaria Gulab Singh Johrimal, dedicada aos perfumes tradicionais indianos e que, com mais de 200 anos, sobreviveu a gigantes como Chanel e Dolce & Gabbana.

Um antigo relógio de pêndulo dá as boas-vindas a uma pequena loja em cujas paredes se amontoam garrafinhas douradas com borlas e pedras de cores, além de frascos de vidro com rótulos floridos diretamente de Firozabad, conhecida como a "Cidade do Vidro".

Os grandes decantadores de vidro talhado, contam na loja, datam de 1932, quando a Gulab Singh Johrimal, fundada em 1816, foi restaurada.

Há um sofá, mas a maioria dos clientes parece optar por ser atendida diretamente no balcão que fica de frente para uma abarrotada rua, por onde não param de passar riquixás, triciclos utilizados como táxi.

Um dos proprietários, Praful Gundhi, pertencente à sétima geração destes perfumistas, afirmou à Agência Efe que seu comércio de aromas é o mais antigo da cidade.

Embora não existam registros daquela época, a família acredita que entre seus clientes de dois séculos encontravam-se líderes e negociantes da dinastia mogol.

Naquela época, explicou Gundhi, muito poucos podiam se permitir comprar perfumes e, além disso, a loja fica na rota que o imperador costumava pegar para ir rezar, desde a sua residência no Forte Vermelho até à mesquita Jama Masjid.

Absolutamente todos os perfumes que vendem são feitos por eles mesmos, na fábrica de Sikatra, a cerca de 200 quilômetros de Nova Délhi.

"Pomos as flores com água num alguidar de cobre muito grande e depois aquecemos com ajuda de estrume de vaca. O vapor é coletado através de encanamentos de bambu e são postos sobre uma base de óleo de sândalo para fazer os 'ittar', ou perfumes", explicou Gundhi.

"Quando o vapor passa através dos azeite de sândalo a fragrância das flores fica no sândalo, a água se separa e se repete o mesmo processo várias vezes para conseguir um melhor aroma das flores no óleo", detalhou o perfumista.

Com preços que chegam a US$ 437 por 10 mililitros de extrato puro de rosa - sem base de azeite de sândalo -, os aromas mais populares são o de rosa e jasmim, diz Gundhi, cuja favorita é, justamente, esta flor branca.

Não é de estranhar que entre seus clientes estejam o conhecido músico A.R. Rahman ou que numa ocasião, durante uma visita à Índia do ex-presidente paquistanês Pervez Musharraf, o Ministério das Exteriores indiano foi até eles para comprar perfumes para presenteá-lo.

O analista de 25 anos Akash Sharma veio comprar um perfume para a sua namorada e afirmou à Efe que há dez anos é cliente da Gulab Singh Johrimal, continuando a tradição do pai e do avô, também "viciados" nestas fragrâncias.

"O cheiro e a fragrância são duradouras, sentimos opulência quando usamos o perfume", disse Sharma.

Ruchi Mehta, uma astróloga de 28 anos, está na loja por uma razão diferente: o seu incenso e azeite essenciais "únicos" que "não podem ser encontrados em nenhum outro lugar".

O processo de escolha é simples, disse à Efe o perfumista Hari Singh, de 32 anos e que há mais de uma década trabalha para os Gundhi, como já o fez seu pai durante 40 anos.

Os clientes regulares, contou, já conhecem as fragrâncias e vêm com o pedido certo, enquanto os novos testam várias até que encontram sua favorita.

Gundhi explicou à Efe o segredo para sobreviver à moda dos perfumes com base alcoólica da atualidade.

"Estes são usados pelas pessoas principalmente por moda. Quando você usa Chanel N. 5, todo mundo vai te cheirar e dizer 'ohhhh', você usa Chanel N. 5 ", afirmou.

"Quando nós vendemos os perfumes, as pessoas compram o que gostam", concluiu.