Topo

Apoiado por militância, Lula defende sua honestidade na véspera de julgamento

23/01/2018 22h21

Carlos Meneses Sánchez.

Porto Alegre (Brasil), 23 jan (EFE).- O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez nesta terça-feira uma defesa de sua honestidade na véspera de seu decisivo julgamento por corrupção amanhã, em Porto Alegre, diante de milhares de militantes.

Lula disse estar "tranquilo" e prometeu que "seja qual for o resultado" do julgamento continuará lutando nas ruas para que os brasileiros tenham "respeito e dignidade neste país".

"Duvido que neste país haja um juiz mais honesto do que eu", disse Lula, que aparece na liderança de todas as pesquisas para as eleições presidenciais de outubro, entre os gritos da militância.

O ato de apoio ao ex-presidente reuniu mais de 70 mil pessoas em Porto Alegre, segundo os organizadores, e começou no centro da cidade. Depois, percorreu cerca de dois quilômetros até o Anfiteatro Pôr do Sol, onde os simpatizantes de Lula farão uma vigília.

A poucos metros do local, os três desembargadores que fazem parte da 8ª Turma do Tribunal Federal da 4ª Região (TR4) decidirão se mantêm, modificam ou anulam a condenação a nove anos e meio de prisão contra o ex-presidente, uma decisão do juiz Sergio Moro em primeira instância, por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

No processo, um dos sete nos quais Lula é réu, o ex-presidente é acusado de ter recebido da construtora OAS um apartamento no Guarujá, no litoral do estado de São Paulo, em troca de favorecer a empresa na obtenção de contratos com a Petrobras.

Lula evitou falar diretamente do processo e, em tom eleitoral, disse que quer construir um grande Brasil. O ex-presidente também voltou a atacar a imprensa e as elites que "desmontaram" o país.

"Só uma coisa vai me tirar das ruas desse país e será o dia que eu morrer", afirmou o ex-presidente.

O julgamento no TRF4 é decisivo para a candidatura de Lula. Caso a condenação seja mantida, o ex-presidente pode ser impedido de disputar o pleito pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Essa hipótese é criticada pelo partido e pela militância, que levava hoje com orgulho o rosto e o nome do ex-presidente em camisetas, adesivos e cartazes, espalhados pela cidade. O principal deles trazia a frase: "Eleição sem Lula é fraude".

Parte dos militantes não esquecem o impeachment de Dilma Rousseff em 2016 e criticam as reformas promovidas por Michel Temer. A torcida é por uma vitória de Lula para que as políticas sociais promovidas nos governos petistas voltem a ter protagonismo.

Os problemas judiciais de Lula pouco importam para alguns dos simpatizantes, cegos pela idolatria ao ex-líder sindical.

Eliseu Passos, de 66 anos, porteiro aposentado, isenta Lula de qualquer culpa. Em entrevista à Agência Efe, ele diz que as denúncias contra o ex-presidente não têm "nenhum respaldo jurídico".

Apesar de pertencer a outra geração, Marília Correa, de 25 anos, também defende Lula. "Foi um ótimo presidente e ninguém tem uma prova contra ele", afirmou.

Já Jefferson Pereira, de 44 anos, é vendedor ambulante e diz que não sabe se Lula roubou. "Mas é certo que ele saiba de algo", ressalta, sobre os desvios ocorridos dentro da Petrobras.

Bruno Alonso, formado em Farmácia, criticou a excessiva presença policial em Porto Alegre, reforçada por um amplo esquema de segurança para um julgamento que definirá o futuro político do presidente mais popular e impopular do país ao mesmo tempo.

Prova disso é que em São Paulo, cerca de 600 pessoas, vestidas de verde e amarelo, foram à Avenida Paulista para pedir a prisão do ex-presidente. Aos gritos de "Lula na prisão" e "Lula nunca mais", os manifestantes carregavam "pixulecos" e cartazes em defesa do juiz Sergio Moro, responsável pela condenação em primeira instância.

Outra manifestação de oposição ao ex-presidente foi realizada em Porto Alegre, mas longe de onde Lula discursou para seus militantes. EFE

cms/lvl

(foto) (vídeo)