União com Romênia abre debate entre pró-Rússia e europeístas moldávios
Raúl Sánchez Costa.
Bucareste, 27 fev (EFE).- A desgarrada história da Moldávia, um país de cultura romena, mas que foi durante meio século parte da União Soviética, tem ficado mais uma vez patente perante a declaração de união com a Romênia feita por mais de 30 municípios, aquecendo a discussão política entre europeístas e pró-Rússia.
"Pelo restabelecimento do direito histórico, desejado durante décadas pelos romenos de Bessarábia (Moldávia), sobretudo pelos cidadãos de Saseni, declaramos a união imediata e incondicional com a mãe pátria, a Romênia", afirma a declaração da Câmara Municipal de Saseni.
Saseni, de apenas dois mil habitantes, foi um dos 34 municípios que se somou a uma iniciativa lançada no ano em que se completa o centenário da criação da Grande Romênia pela incorporação ao então Reino da Romênia dos territórios de Transilvânia, Bucóvina e Bessarábia.
Seus promotores confiam em que, antes que termine o ano, se somem à iniciativa pelo menos 100 dos 1.000 municípios deste país de três milhões de habitantes.
O pacto assinado pela Alemanha nazista e pela União Soviética em 1939 dividiu a Romênia em esferas de influência para os dois países e, após a Segunda Guerra Mundial, a Bessarábia, ocupada pelas tropas soviéticas, se transformou na República Socialista Soviética da Moldávia, parte da URSS até sua independência em 1991.
"O nosso desejo não é outro que unir-nos à Romênia. Reivindicamos o que nos roubaram, mas nunca nos rebelaremos contra as autoridades", afirmou por telefone à Agência Efe Grigore Lebada, um dos vereadores de Saseni que assinou o documento.
"Na Constituição moldava existe o direito à autodeterminação, razão pela qual exigimos um plebiscito sobre a unificação", acrescentou.
No desejo de união com a Romênia, país sócio da União Europeia desde 2007, pesa também a má situação econômica da Moldávia.
Apesar de ser o segundo país mais pobre do bloco comunitário, o PIB per capita da Romênia é, com US$ 10.000, cinco vezes superior ao da Moldávia.
"Continuamos querendo a união com a Romênia para poder beneficiar-nos do bem-estar e dos valores da União Europeia", declarou também por telefone à Efe Íon Turculet, um professor de música de Saseni que faz parte do movimento unionista.
O movimento unionista foi duramente criticado pelo presidente do país, o pró-Rússia Igor Dodon, que acusou os vereadores que assinaram o manifesto de querer "liquidar o Estado", e os ameaçou com ações legais.
"Há companheiros que não assinaram o documento por temor de represálias, mas muitos outros não tememos o chefe de Estado, já que não cometemos nenhuma ilegalidade", destacou Lebada.
Dodon alertou que "a união (com a Romênia) significa a guerra civil", uma afirmação que o ministro de Relações Exteriores da Romênia, Teodor Melescanu, qualificou de "desproporcional".
"Estas declarações de união são um desejo de aproximação entre os cidadãos moldávios e romenos, sem nenhuma implicação jurídica", explicou Melescanu, cujo governo rejeita uma possível unificação com a Moldávia.
Segundo alguns analistas, o debate será usado como arma política por europeístas e pró-Rússia em relação com as eleições gerais deste outono europeu.
Nos últimos pleitos, as forças partidárias de entrar na UE conseguiram formar governo após somar 44,6% dos votos, frente ao 39% dos partidos pró-Rússia, liderados pelo Partido Socialista, o mais forte do país.
"A retórica contra os eternos inimigos ocidentais e os unionistas será o eixo da campanha do Partido Socialista, liderada por Dodon", disse à Efe em Bucareste Valeriu Pasa, ativista moldávio da Associação da Comunidade WatchDog.
"Os socialistas dizem que há mais de 200 municípios que assinaram uma declaração similar contra a união", completou Pasa.
Dodón ameaçou com a convocação de um referendo, mas afirmou que o governo pró-europeu não o permitiria consciente que, segundo as últimas pesquisas, só 21,8% dos moldávios respalda a união com a Romênia.
Segundo os dados do censo de 2014, não divulgados até o ano passado, 80% da população declarou que seu idioma materno era o moldávio (como se chama o romeno na Moldávia) ou o romeno, frente a 9,7% que considera o russo como sua principal língua.
No país há outras minorias, como a ucraniana ou a gagauz.
O atual governo moldávio aposta na integração com a União Europeia, com quem mantém um Acordo de Associação, embora esse caminho esteja bloqueado, entre outras questões, pelo conflito com a região separatista de Transnístria, cujos moradores votaram em um plebiscito em 2006 sua adesão à Federação Russa.
Bucareste, 27 fev (EFE).- A desgarrada história da Moldávia, um país de cultura romena, mas que foi durante meio século parte da União Soviética, tem ficado mais uma vez patente perante a declaração de união com a Romênia feita por mais de 30 municípios, aquecendo a discussão política entre europeístas e pró-Rússia.
"Pelo restabelecimento do direito histórico, desejado durante décadas pelos romenos de Bessarábia (Moldávia), sobretudo pelos cidadãos de Saseni, declaramos a união imediata e incondicional com a mãe pátria, a Romênia", afirma a declaração da Câmara Municipal de Saseni.
Saseni, de apenas dois mil habitantes, foi um dos 34 municípios que se somou a uma iniciativa lançada no ano em que se completa o centenário da criação da Grande Romênia pela incorporação ao então Reino da Romênia dos territórios de Transilvânia, Bucóvina e Bessarábia.
Seus promotores confiam em que, antes que termine o ano, se somem à iniciativa pelo menos 100 dos 1.000 municípios deste país de três milhões de habitantes.
O pacto assinado pela Alemanha nazista e pela União Soviética em 1939 dividiu a Romênia em esferas de influência para os dois países e, após a Segunda Guerra Mundial, a Bessarábia, ocupada pelas tropas soviéticas, se transformou na República Socialista Soviética da Moldávia, parte da URSS até sua independência em 1991.
"O nosso desejo não é outro que unir-nos à Romênia. Reivindicamos o que nos roubaram, mas nunca nos rebelaremos contra as autoridades", afirmou por telefone à Agência Efe Grigore Lebada, um dos vereadores de Saseni que assinou o documento.
"Na Constituição moldava existe o direito à autodeterminação, razão pela qual exigimos um plebiscito sobre a unificação", acrescentou.
No desejo de união com a Romênia, país sócio da União Europeia desde 2007, pesa também a má situação econômica da Moldávia.
Apesar de ser o segundo país mais pobre do bloco comunitário, o PIB per capita da Romênia é, com US$ 10.000, cinco vezes superior ao da Moldávia.
"Continuamos querendo a união com a Romênia para poder beneficiar-nos do bem-estar e dos valores da União Europeia", declarou também por telefone à Efe Íon Turculet, um professor de música de Saseni que faz parte do movimento unionista.
O movimento unionista foi duramente criticado pelo presidente do país, o pró-Rússia Igor Dodon, que acusou os vereadores que assinaram o manifesto de querer "liquidar o Estado", e os ameaçou com ações legais.
"Há companheiros que não assinaram o documento por temor de represálias, mas muitos outros não tememos o chefe de Estado, já que não cometemos nenhuma ilegalidade", destacou Lebada.
Dodon alertou que "a união (com a Romênia) significa a guerra civil", uma afirmação que o ministro de Relações Exteriores da Romênia, Teodor Melescanu, qualificou de "desproporcional".
"Estas declarações de união são um desejo de aproximação entre os cidadãos moldávios e romenos, sem nenhuma implicação jurídica", explicou Melescanu, cujo governo rejeita uma possível unificação com a Moldávia.
Segundo alguns analistas, o debate será usado como arma política por europeístas e pró-Rússia em relação com as eleições gerais deste outono europeu.
Nos últimos pleitos, as forças partidárias de entrar na UE conseguiram formar governo após somar 44,6% dos votos, frente ao 39% dos partidos pró-Rússia, liderados pelo Partido Socialista, o mais forte do país.
"A retórica contra os eternos inimigos ocidentais e os unionistas será o eixo da campanha do Partido Socialista, liderada por Dodon", disse à Efe em Bucareste Valeriu Pasa, ativista moldávio da Associação da Comunidade WatchDog.
"Os socialistas dizem que há mais de 200 municípios que assinaram uma declaração similar contra a união", completou Pasa.
Dodón ameaçou com a convocação de um referendo, mas afirmou que o governo pró-europeu não o permitiria consciente que, segundo as últimas pesquisas, só 21,8% dos moldávios respalda a união com a Romênia.
Segundo os dados do censo de 2014, não divulgados até o ano passado, 80% da população declarou que seu idioma materno era o moldávio (como se chama o romeno na Moldávia) ou o romeno, frente a 9,7% que considera o russo como sua principal língua.
No país há outras minorias, como a ucraniana ou a gagauz.
O atual governo moldávio aposta na integração com a União Europeia, com quem mantém um Acordo de Associação, embora esse caminho esteja bloqueado, entre outras questões, pelo conflito com a região separatista de Transnístria, cujos moradores votaram em um plebiscito em 2006 sua adesão à Federação Russa.
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