Movimento #MeToo não deslancha na Tailândia e outros países asiáticos
Gaspar Ruiz-Canela.
Bangcoc, 27 mar (EFE).- O movimento #MeToo ("Eu também", em inglês) não deslanchou na Tailândia nem em outros países asiáticos, onde a forte cultura patriarcal dificulta a tarefa das mulheres que decidem levantar a voz contra os abusos sexuais.
Thanarat Panya conciliava os estudos de Direito com o ativismo pró-democrático na Universidade de Thammasat, uma das mais prestigiadas de Bangcoc, quando foi estuprada por outro estudante veterano em março do ano passado.
Ambos pertenciam à Liga Liberal de Thammasat pela Democracia (LLTD, na sigla em inglês), um grupo universitário que esteve na vanguarda do movimento pró-democrático contra a junta militar após o golpe de Estado de 2014.
Após uma noite na qual tinham saído, Thanarat e outros universitários acabaram dormindo em um mesmo quarto, algo que é habitual entre amigos de faculdade, segundo relatou a vítima em entrevista à Agência Efe.
O estudante veterano a violentou, sem que ela soubesse como pedir ajuda, e mais tarde pediu perdão.
"Disse que estava arrependido, mas que estava bêbedo e por isso me estuprou", disse Thanarat, de 21 anos, que decidiu tornar seu caso público nas redes sociais.
A estudante não quis denunciar o colega à polícia para evitar um processo excessivamente longo e incômodo, mas contou o caso à direção da universidade, que o suspendeu durante um semestre.
A indignação da universitária foi ainda maior quando descobriu que outros ativistas defendiam seu agressor, já que diziam que tinha se "desculpado", e inclusive a acusavam de ter interesses ocultos ao tornar público o caso.
A reação reflete a falta de educação sexual e de compreensão de conceitos como "consentimento" e "assédio sexual" na Tailândia, afirmou Thanarat, que cursa o último ano da faculdade de Direito e quer se especializar na defesa dos direitos humanos.
A estudante afirma que sua decisão de denunciar o estupro é uma exceção na Tailândia, onde o movimento #MeToo, contra os abusos sexuais, teve pouca repercussão, sobretudo entre as celebridades.
"Há muito poucos casos (de denúncias públicas). O movimento #MeToo não é significativo aqui", lamentou a universitária em uma conferência recente no Clube de Correspondentes Estrangeiros da Tailândia (FCCT), em Bangcoc.
O ativista Rangsiman Rome, que apoiou Thanarat, reconhece que perdeu vários amigos ao defender a estudante e que várias pessoas diziam que a denúncia estava dividindo o grupo.
"Alguns pensavam que ela tinha em consentido fazer sexo", indicou Rangsiman, que ressalta que "dizer 'não' deveria significar 'não'".
Rome também disse que o movimento #MeToo não teve impacto na Tailândia, enquanto defende que haja mais mulheres nos órgãos de decisão como o parlamento e que a polícia esteja melhor preparada para atender casos de agressões sexuais.
As vítimas de abusos têm que lidar em muitos casos com os preconceitos dos policiais e das autoridades tailandesas, algo que se repete em outros países da região.
"Não usem roupas sexy ou que cubram pouco, não aceitem encontros em locais pouco apropriados, como boates ou na casa de um político", disse em janeiro o presidente da União Nacional de Jornalistas da Malásia, Mohd Taufek Razak, ao ser perguntado sobre abusos sexuais de jornalistas.
Mulheres do mundo do jornalismo nas Filipinas se uniram ao #MeToo para denunciar o assédio na profissão, enquanto na Indonésia o movimento despertou relativamente poucas adesões.
Na Índia, a iniciativa teve um pouco mais de repercussão, enquanto no Japão os meios de comunicação deram menos atenção e na China o movimento foi abafado pela censura de autoridades que temem este tipo de ações espontâneas.
A frase 'Me Too' foi utilizada pela primeira vez pela ativista Tarana Burke há dez anos, mas a atriz americana Alyssa Milano foi quem a popularizou em outubro do ano passado no Twitter, após os escândalos sexuais do produtor Harvey Weinstein.
A campanha incentivou muitas mulheres, e alguns homens, a denunciar publicamente suas experiências traumáticas e, em alguns casos notórios, seus supostos agressores.
Bangcoc, 27 mar (EFE).- O movimento #MeToo ("Eu também", em inglês) não deslanchou na Tailândia nem em outros países asiáticos, onde a forte cultura patriarcal dificulta a tarefa das mulheres que decidem levantar a voz contra os abusos sexuais.
Thanarat Panya conciliava os estudos de Direito com o ativismo pró-democrático na Universidade de Thammasat, uma das mais prestigiadas de Bangcoc, quando foi estuprada por outro estudante veterano em março do ano passado.
Ambos pertenciam à Liga Liberal de Thammasat pela Democracia (LLTD, na sigla em inglês), um grupo universitário que esteve na vanguarda do movimento pró-democrático contra a junta militar após o golpe de Estado de 2014.
Após uma noite na qual tinham saído, Thanarat e outros universitários acabaram dormindo em um mesmo quarto, algo que é habitual entre amigos de faculdade, segundo relatou a vítima em entrevista à Agência Efe.
O estudante veterano a violentou, sem que ela soubesse como pedir ajuda, e mais tarde pediu perdão.
"Disse que estava arrependido, mas que estava bêbedo e por isso me estuprou", disse Thanarat, de 21 anos, que decidiu tornar seu caso público nas redes sociais.
A estudante não quis denunciar o colega à polícia para evitar um processo excessivamente longo e incômodo, mas contou o caso à direção da universidade, que o suspendeu durante um semestre.
A indignação da universitária foi ainda maior quando descobriu que outros ativistas defendiam seu agressor, já que diziam que tinha se "desculpado", e inclusive a acusavam de ter interesses ocultos ao tornar público o caso.
A reação reflete a falta de educação sexual e de compreensão de conceitos como "consentimento" e "assédio sexual" na Tailândia, afirmou Thanarat, que cursa o último ano da faculdade de Direito e quer se especializar na defesa dos direitos humanos.
A estudante afirma que sua decisão de denunciar o estupro é uma exceção na Tailândia, onde o movimento #MeToo, contra os abusos sexuais, teve pouca repercussão, sobretudo entre as celebridades.
"Há muito poucos casos (de denúncias públicas). O movimento #MeToo não é significativo aqui", lamentou a universitária em uma conferência recente no Clube de Correspondentes Estrangeiros da Tailândia (FCCT), em Bangcoc.
O ativista Rangsiman Rome, que apoiou Thanarat, reconhece que perdeu vários amigos ao defender a estudante e que várias pessoas diziam que a denúncia estava dividindo o grupo.
"Alguns pensavam que ela tinha em consentido fazer sexo", indicou Rangsiman, que ressalta que "dizer 'não' deveria significar 'não'".
Rome também disse que o movimento #MeToo não teve impacto na Tailândia, enquanto defende que haja mais mulheres nos órgãos de decisão como o parlamento e que a polícia esteja melhor preparada para atender casos de agressões sexuais.
As vítimas de abusos têm que lidar em muitos casos com os preconceitos dos policiais e das autoridades tailandesas, algo que se repete em outros países da região.
"Não usem roupas sexy ou que cubram pouco, não aceitem encontros em locais pouco apropriados, como boates ou na casa de um político", disse em janeiro o presidente da União Nacional de Jornalistas da Malásia, Mohd Taufek Razak, ao ser perguntado sobre abusos sexuais de jornalistas.
Mulheres do mundo do jornalismo nas Filipinas se uniram ao #MeToo para denunciar o assédio na profissão, enquanto na Indonésia o movimento despertou relativamente poucas adesões.
Na Índia, a iniciativa teve um pouco mais de repercussão, enquanto no Japão os meios de comunicação deram menos atenção e na China o movimento foi abafado pela censura de autoridades que temem este tipo de ações espontâneas.
A frase 'Me Too' foi utilizada pela primeira vez pela ativista Tarana Burke há dez anos, mas a atriz americana Alyssa Milano foi quem a popularizou em outubro do ano passado no Twitter, após os escândalos sexuais do produtor Harvey Weinstein.
A campanha incentivou muitas mulheres, e alguns homens, a denunciar publicamente suas experiências traumáticas e, em alguns casos notórios, seus supostos agressores.
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