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Após perseguição, rohingyas enfrentam tráfico e exploração sexual em Bangladesh

Refugiada rohingya descansa no campo Kutupalong - Munir Uz Zaman/AFP
Refugiada rohingya descansa no campo Kutupalong Imagem: Munir Uz Zaman/AFP

Azad Majumder

Daca

12/04/2018 04h00

Após ser perseguida em Mianmar e fugir para Bangladesh, a minoria rohingya enfrenta agora as redes de tráfico de pessoas, que entram nos caóticos acampamentos de refugiados em busca de jovens para explorar sexualmente.

"Com tanta gente vulnerável e desamparada vivendo em uma área reduzida, os assentamentos se transformaram em um alvo de oportunistas traficantes de pessoas que querem explorar os refugiados", disse à Agência Efe Irine Loria, da área de Proteção da Organização Internacional de Migração (OIM) em Bangladesh.

Apenas no campo de refugiados de Kutupalong e nos assentamentos adjacentes vivem mais de 600 mil pessoas, a maior parte delas fugidas de Mianmar após a explosão da violência contra os rohingyas em agosto do ano passado, que levou até Bangladesh cerca de 670 mil membros desta minoria.

Desde então, a OIM identificou pelo menos 40 casos de vítimas de tráfico de pessoas nos acampamentos, "mas esses números estão longe de representar a situação atual e o impacto sobre as comunidades em risco", explicou Irine.

Refugiadas rohingyas esperam em fila para receber comida e primeiros socorros no campo Kutupalong - Ed Jones/AFP - Ed Jones/AFP
Refugiadas rohingyas esperam em fila para receber comida e primeiros socorros no campo Kutupalong
Imagem: Ed Jones/AFP
 

Segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), as chances de estas comunidades serem vítimas deste tipo de exploração aumentaram quando todo o sistema social e econômico que as sustentava ruiu.

"É muito difícil quantificar o número de refugiados vulneráveis que foram apanhados pelo tráfico de pessoas devido à natureza oculta desta atividade. Os casos confirmados são poucos e não mostram a amplitude do problema", disse à Efe a porta-voz do Acnur em Bangladesh Caroline Gluck.

O Unicef, outra das agências da ONU ativas na região, também confirmou estar a par do problema e tenta evitá-lo através de trabalhos de prevenção, com grupos de adolescentes que advertem outras jovens sobre os perigos nessas "favelas" sem luz nem lei.

Em algumas ocasiões as jovens que são apanhadas nas redes do tráfico de pessoas são arrastadas para fora dos acampamentos e exploradas sexualmente em cidades próximas, como Cox's Bazar, centro turístico do sudeste de Bangladesh.

"Assim que soubemos que adolescentes de 16 a 18 anos foram traficadas, tentamos tirá-las e garantir que sejam levadas a um lugar seguro", afirmou um porta-voz de Unicef no país, Benjamin Steinlechner.

Refugiada muçulmana rohingya espera na fila para receber primeiros socorros em campo próximo a Cox's Bazar - Manish Swarup/AP - Manish Swarup/AP
Refugiada muçulmana rohingya espera na fila para receber primeiros socorros em campo próximo a Cox's Bazar
Imagem: Manish Swarup/AP


Steinlechner explicou que os mais vulneráveis nos acampamentos são os menores que não contam com a proteção de um adulto - pelo menos 5.575, de acordo com dados da ONU.

Por sua vez, a ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF) denunciou em um relatório divulgado em dezembro que pelo menos 6.700 rohingyas, entre eles 730 menores de cinco anos, tinham sido assassinados em Mianmar durante o primeiro mês da crise, o que obrigou muitas crianças órfãs a fugirem sozinhas para Bangladesh.

A ONU e organizações defensoras dos direitos humanos denunciaram em repetidas ocasiões que existem provas claras desses abusos em Mianmar, que começaram quando um ataque de um grupo insurgente rohingya foi respondido com uma campanha militar.

Inclusive o Escritório do Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) qualificou os fatos de "limpeza étnica" e afirmou que há indícios de "genocídio".

Refugiado rohingya olha pela janela de uma escola no campo de refugiados Kutupalong no distrito de Ukhia, em Bangladesh - Munir Uz Zaman/AFP - Munir Uz Zaman/AFP
Refugiado rohingya olha pela janela de uma escola no campo de refugiados Kutupalong no distrito de Ukhia, em Bangladesh
Imagem: Munir Uz Zaman/AFP

As forças de segurança de Bangladesh afirmam que estão cientes da exploração sexual de mulheres nos acampamentos e que tentam colaborar com as agências da ONU para combater este problema, embora tenham avisado que as jovens que se prostituem nem sempre foram forçadas a isso.

"Em algumas ocasiões as moças rohingyas são obrigadas a se dedicar à prostituição pela situação em que vivem e os cafetões se aproveitam disso. Obviamente, é um crime", esclareceu à Efe Ruhul Amin, comandante do Batalhão de Ação Rápida, um corpo de elite da polícia.

Em algumas ocasiões, acrescentou Amin, trata-se de "tráfico consentido", uma vez que pessoas próximas à jovem entram em contato com os traficantes para que a tirem dos campos de refugiados.

"Muitos rohingyas não se habituam a esse ambiente e estão desejando mudar seu destino", explicou o comandante.