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Avó que quase foi impedida de ver netos se torna símbolo contra veto de Trump

Eric Thayer/ Reuters
Imagem: Eric Thayer/ Reuters

Beatriz Pascual Macías

Em Washington

25/04/2018 06h01

A síria Wafa Yahia nunca pensou que a vontade de conhecer seus netos menores, que vivem no Havaí, acabaria a transformando na protagonista dos processos contra o veto migratório do presidente Donald Trump, cuja legalidade será avaliada nesta quarta-feira pela Suprema Corte.

Wafa estava tramitando o visto para se reunir com sua família nos Estados Unidos quando Trump, recém-chegado à Casa Branca, proclamou a primeira versão de seu veto migratório para restringir a entrada de refugiados e cidadãos de seis países de maioria muçulmana, entre os quais estava a Síria.

"Nesse momento nos sentimos devastados, estava há muito tempo planejando que minha sogra pudesse vir para viver aqui e, de repente, não podia por causa dessa ordem", relatou à Agência Efe o egípcio Ismail Elshikh.

Elshikh, imame da Associação Muçulmana do Havaí, decidiu então somar-se ao processo que tinha sido apresentado por esse estado do Pacífico contra o veto migratório, alegando que representava um ataque discriminatório contra um conjunto de cidadãos por sua religião e seu lugar de procedência.

"Decidi apresentar o processo por muitas razões: primeiro pelos meus filhos; pela minha esposa, que estava passando um momento muito duro perante a possibilidade de não poder ver sua mãe, e também pelo meu país. Sou um cidadão americano e quero defender meus direitos e fazer o que é bom e correto", argumentou.

Elshikh deu assim uma face humana aos processos que, então, estavam florescendo contra o veto de Trump.

Wafa Yahia tinha viajado pela última vez aos Estados Unidos em 2005 e, então, ainda não tinham nascido os dois netos menores, que agora têm três e seis anos.

Finalmente, a avó conseguiu chegar ao Havaí em agosto de 2017 depois que o Tribunal Supremo determinou que poderiam ingressar nos Estados Unidos todas aquelas pessoas afetadas pelo veto que tivessem um "vínculo confiável" com parentes e entidades do país.

"Foi maravilhoso poder ir, finalmente, buscá-la no aeroporto para que viesse para casa conosco. As crianças gostaram muito, foi um grande momento para eles", lembrou Elshikh.

"Estamos muito agradecidos por todo o apoio do povo aqui no Havaí. Mas, mesmo assim, ainda me sinto triste pelas milhares de famílias que estão nos EUA e que não podem reunir-se com seus entes queridos por esse veto", lamentou.

Essa é a razão pela qual Elshikh seguiu adiante e estará hoje no Tribunal Supremo durante a audiência que avaliará a legalidade do terceiro veto migratório de Trump, que atualmente restringe a entrada dos cidadãos de sete países (Irã, Líbia, Somália, Síria, Iêmen, Venezuela e Coreia do Norte).

Embora sua sogra tenha chegado em casa, Elshikh decidiu continuar batalhando contra Trump por seus "irmãos e irmãs" muçulmanos e pelos Estados Unidos, um país que sente como próprio.

Criado no Cairo, Elshikh viajou pela primeira vez aos Estados Unidos em 1998 para conduzir as orações do mês de Ramadã na mesquita de Washington. Quando voltou ao Egito, sentiu que "tinha deixado parte do seu coração" nos EUA e buscou uma forma de voltar.

Em 2001 conheceu sua esposa, Dana, em Damasco e, em 2002, assumiu o cargo como imame do Havaí.

"Viemos aos Estados Unidos para desfrutar da liberdade, da democracia e da humanidade, por isso emigrei e deixei minhas grandes e brilhantes memórias do Egito. Não vim buscar dinheiro nem trabalho, vim por esses grandes valores, por esse sentimento de respeito e de ser tratado como um ser humano", destacou Elshikh.

O egípcio repete, em várias ocasiões, que não sente nada "pessoal" contra Trump, mas acredita que o veto migratório representou uma retaliação oficial do governo dos EUA contra o islã.

No entanto, confia no Tribunal Supremo e em sua capacidade para ver que o veto é "discriminatório" e viola a Constituição por dirigir-se contra uma minoria religiosa.

"Os Estados Unidos não são o país do 'apartheid', são um país para todos os americanos, são um país das leis e da Constituição, nós acreditamos nisso", concluiu Elshikh.